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O OLHAR INOCENTE É CEGO 168Figura 102. Cartão postal promocional Au BonMarché, sem data. Disponível em:(28/06/08)Figura 103. Estampa promocional Au BonMarché, c. 1878. GORBERG, Samuel.Figurinhas: Sucesso de Marketing. . Disponívelem:(21/07/2007).Uma interessante referência às lojas Au Bon Marché é encontrada nanatureza-morta cubista de Pablo Picasso que compartilha seu nome com a loja(Figura 104). O rótulo da loja de departamentos ocupa o centro da obra, masencontra-se posicionado de forma ilusionística sugerindo uma caixa ou uma mesaem um plano perpendicular ao fundo da imagem. À esquerda há a forma de umagarrafa e à direita, um copo. Ao fundo, a figura de uma mulher é destacada de umanúncio de jornal de outra cadeia de lojas, a Samaritane. 339 A pintura deixaevidente apenas partes do anúncio. Há na obra de Picasso uma referência direta aoconsumo com a bebida e a mulher articulando-se neste contexto. A mulheraparece, de fato, com uma função dupla de consumidora de bens, mas também,envolvida no mundo das mercadorias, como objeto de consumo. 340 Estasconsiderações ampliam a noção de consumo, situando-o de maneira fundamentaldentro de um modo de vida construído pela modernização, onde os própriosconsumidores também podem ser consumidos.339 Esta análise da obra de Picasso foi sugerida em HARRISON, Charles et alli. Primitivismo, Cubismo,Abstração. Começo do século XX. São Paulo: Cosac & Naify E., 1998. p. 95-98.340 POGGI, Christine. Mallarmé, Picasso and the newspaper as commodity. P. 150 apud HARRISON,Charles et alli. Primitivismo, Cubismo, Abstração. Começo do século XX. São Paulo: Cosac & Naify E.,1998. p. 97.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 169Figura 104. Pablo Picasso. Natureza-morta Au Bon Marché,1913. Óleo e papel colorido sobre cartão. Coleção Ludwig,Aachen. O consumo entra em cena no momento em que se abre mão da permanênciaem favor do momento para o momento. Alexis de Tocqueville identificou o“consumo imediato dos produtos e igualdade, sem classes, dos consumidores”como característica do espírito da indústria norte-americana. 341 A obsolescênciaparecia afirmar-se através da busca pela perfeição. Tocqueville ao perguntar a ummarinheiro norte-americano porque os navios de seu país se construíam de formaa não durarem muito, responde sem hesitar que “a arte da navegação faz progressodiários tão grandes, que o navio mais formoso viria a ser inútil dentro muitopouco tempo, se durasse mais que alguns anos”. 342A necessidade do novo avança até os nossos dias lado a lado com oconsumo. No século XIX, o olhar iniciou um diálogo com o novo, respondendo acada estímulo, buscando o resto de inocência em cada mirada. O olhar e o novointeragem em respostas cíclicas cada vez mais aceleradas, em uma disputa queparece longe do fim.3.2.5. O controle sobre os corposA multidão sintetiza a imagem do “turbilhão” advindo com amodernização, um dos agentes geradores da sensação de efemeridade efragmentação que acompanha a modernidade. Duas gravuras de periódicos341 PLUM, Werner. Exposições mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio-cultural. Bonn :Friedrich-Ebert-Stiftung, 1979. p. 125.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 168Figura 102. Cartão postal promocional Au BonMarch<strong>é</strong>, sem <strong>da</strong>ta. Disponível em:(28/06/08)Figura 103. Estampa promocional Au BonMarch<strong>é</strong>, c. 1878. GORBERG, Samuel.Figurinhas: Sucesso de Marketing. . Disponívelem:(21/07/2007).Uma interessante referência às lojas Au Bon March<strong>é</strong> <strong>é</strong> encontra<strong>da</strong> nanatureza-morta cubista de Pablo Picasso que compartilha seu nome com a loja(Figura 104). O rótulo <strong>da</strong> loja de departamentos ocupa o centro <strong>da</strong> obra, masencontra-se posicionado de forma ilusionística sugerindo uma caixa ou uma mesaem um plano perpendicular ao fundo <strong>da</strong> imagem. À esquer<strong>da</strong> há a forma de umagarrafa e à direita, um copo. Ao fundo, a figura de uma mulher <strong>é</strong> destaca<strong>da</strong> de umanúncio de jornal de outra cadeia de lojas, a Samaritane. 339 A pintura deixaevidente apenas partes do anúncio. Há na obra de Picasso uma referência direta aoconsumo com a bebi<strong>da</strong> e a mulher articulando-se neste contexto. A mulheraparece, de fato, com uma função dupla de consumidora de bens, mas tamb<strong>é</strong>m,envolvi<strong>da</strong> no mundo <strong>da</strong>s mercadorias, como objeto de consumo. 340 Estasconsiderações ampliam a noção de consumo, situando-o de maneira fun<strong>da</strong>mentaldentro de um modo de vi<strong>da</strong> construído pela modernização, onde os própriosconsumidores tamb<strong>é</strong>m podem ser consumidos.339 Esta análise <strong>da</strong> obra de Picasso foi sugeri<strong>da</strong> em HARRISON, Charles et alli. Primitivismo, Cubismo,Abstração. Começo do s<strong>é</strong>culo XX. São Paulo: Cosac & Naify E., 1998. p. 95-98.340 POGGI, Christine. Mallarm<strong>é</strong>, Picasso and the newspaper as commodity. P. 150 apud HARRISON,Charles et alli. Primitivismo, Cubismo, Abstração. Começo do s<strong>é</strong>culo XX. São Paulo: Cosac & Naify E.,1998. p. 97.

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