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21.07.2015 Views

O OLHAR INOCENTE É CEGO 146Na efervescência da cidade, a publicidade começava a ocupar espaço com adivulgação de diversos produtos. Folhetos e cartazes eram impressos edistribuídos nas ruas ou colados nos muros das grandes cidades. As paredes dametrópole, cobertas por cartazes passaram a atuar, a partir da segunda metade doséculo XIX, como um grande sistema de comunicação de massa. A propósito dasrevoluções que marcaram o ano de 1848, Walter Benjamin transcreve:Todos os muros estavam cobertos com cartazes revolucionários, que Alfred Delvaureproduziu alguns anos mais tarde em dois grossos volumes com o título MuraillesRévolutionnaires, de modo que ainda agora se pode ter uma idéia dessa singularliteratura mural. Não havia palácio ou igreja em que não estivessem afixados essescartazes. Nunca antes se viu tal quantidade de cartazes em qualquer outra cidade.Mesmo o governo usava esse meio para publicar seus decretos e proclamações,enquanto milhares de indivíduos recorriam aos cartazes para comunicar a seusconcidadãos suas opiniões pessoais sobre toda a sorte de questões. Quanto mais seaproximava a inauguração da Assembléia Nacional, tanto mais apaixonada eagressiva se tornava a linguagem dos cartazes... O número dos apregoadorespúblicos aumentava a cada dia. Centenas e milhares de pessoas que não tinhamoutra ocupação tornaram-se vendedores de jornais, que eles anunciavam aosgritos. 300Em outro trecho, Benjamin afirma que Les Murailles Révolutionnaires tratasede uma “Obra coletiva que tem como autor o senhor Todo o Mundo” 301 e que afúria da informação fazia com que os muros fossem disputados pelos coladores decartazes, sobrepondo cartazes “uns aos outros pelo menos dez vezes por dia”. 302 Ailustração de John Parry (Figura 71) mostra a efervescência deste movimento nasruas de Londres, apoiado sobre o maior desenvolvimento da indústria deimpressão, mas empurrado pela necessidade de divulgação de produtos deconsumo e entretenimento dirigidos a um consumo mais amplo. Na imagem deParry, onde também vemos outros personagens urbanos como o soldado e oambulante, o protagonista é a informação. Nos cartazes, as chamadas de“Pompéia”, “Paris” e das “pulgas laboriosas” disputam os fragmentos da atençãodo morador da metrópole e também o seu dinheiro.O periódico londrino Punch apresenta algumas gravuras que dialogam comos muros repletos de cartazes que ajudam a construir uma nova paisagem urbana.A ilustração de 1887 do Punch (Figura 72) é muito parecida com a de John Parry300 Sigmund Engländer, Geschichte der französischen Arbeiter-Associationen, Hamburgo, 1864, vol. II, pp.279-280. In: BENJAMIN, W. Passagens... p. 213. [G 3,1].301 BENJAMIN, W. Passagens... p. 215. [G 4,1].302 Eduard Kroloff, Schilderungen aus Paris, Hamburgo, 1839, vol II, p. 57 apud BENJAMIN, W.Passagens... p. 214. [G 3,3].

O OLHAR INOCENTE É CEGO 147(Figura 71). Em ambas vemos a movimentação das figuras urbanas: algunspassantes, um soldado, etc. A de Parry é mais elaborada e nos permite ver umaconstrução em segundo plano (ao lado esquerdo) enquanto a do Punch é todafocada no plano da muralha de cartazes. Duas outras ilustrações publicadas peloPunch também nos proporcionam reflexões.Figura 71. John Parry. Cena de rua em Londres, [1835]. (3/06/07)Figura 72. Gravura retirada do Punch, or the London Charivari, 1887.The Project Gutenberg. . Disponível em: (25/11/07).Na imagem de 1892 vemos a personificação do medo na figura de umcolador de cartazes que tem os pés animalescos da entidade do pânico, Pã (Figura73). Os cartazes que Pã cola têm mensagens alarmantes: “corrida aos bancos”,“ameaça de cólera”, “alarme de incêndio em um teatro é ameaça à vida”, “morte

O OLHAR INOCENTE É CEGO 147(Figura 71). Em ambas vemos a movimentação <strong>da</strong>s figuras urbanas: algunspassantes, um sol<strong>da</strong>do, etc. A de Parry <strong>é</strong> mais elabora<strong>da</strong> e nos permite ver uma<strong>construção</strong> em segundo plano (ao lado esquerdo) enquanto a do Punch <strong>é</strong> to<strong>da</strong>foca<strong>da</strong> no plano <strong>da</strong> muralha de cartazes. Duas outras ilustrações publica<strong>da</strong>s peloPunch tamb<strong>é</strong>m nos proporcionam reflexões.Figura 71. John Parry. Cena de rua em Londres, [1835]. (3/06/07)Figura 72. Gravura retira<strong>da</strong> do Punch, or the London Charivari, 1887.The Project Gutenberg. . Disponível em: (25/11/07).Na imagem de 1892 vemos a personificação do medo na figura de umcolador de cartazes que tem os p<strong>é</strong>s animalescos <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de do pânico, Pã (Figura73). Os cartazes que Pã cola têm mensagens alarmantes: “corri<strong>da</strong> aos bancos”,“ameaça de cólera”, “alarme de incêndio em um teatro <strong>é</strong> ameaça à vi<strong>da</strong>”, “morte

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