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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 143caso o flâneur se torna um basbaque”. 295 O basbaque, ou ba<strong>da</strong>ud, tem suaindividuali<strong>da</strong>de absorvi<strong>da</strong> pelo mundo exterior. “Sob influência do espetáculo quese oferece a ele, o ba<strong>da</strong>ud se torna um ser impessoal”. 296 Para Benjamin, o flâneurresiste ao consumismo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de capitalista e de suas mercadorias e o seumovimento aparentemente errático pela constituição <strong>visual</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de aumenta suapotência: “sempre menor se torna a sedução <strong>da</strong>s lojas, dos bistrôs, <strong>da</strong>s mulheressorridentes e sempre mais irresistível o magnetismo <strong>da</strong> próxima esquina, de umamassa de folhas distantes, de um nome de rua”. 297 Este homem urbano que nãoconsegue garantir a sua individuali<strong>da</strong>de paralisa-se, flutuando ao movimento <strong>da</strong>multidão. Misturando-se a ela, torna-se parte <strong>da</strong> própria imagem que observa.Com o desaparecimento <strong>da</strong>s esquinas, a partir <strong>da</strong> remodelação empreendi<strong>da</strong> porHaussmann, <strong>é</strong> possível compreender o esgotamento <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> flânerie.Resta saber em que medi<strong>da</strong>, com isso, o observador tenha-se transformado em umsimples ba<strong>da</strong>ud, fixando o <strong>olhar</strong> sobre a imagem observa<strong>da</strong>, fundindo-se com elaem um conjunto de contornos neutros e suaves que já não despertam sensaçõesambíguas de desconforto ou paixão. O ambiente externo não deixa de sercompreendido pelo movimento do seu fluxo, mas <strong>é</strong> racionalizado e recortadodentro de um sistema de convenções visuais que facilitam a sua digestão. A<strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> passa a se reestruturar a ca<strong>da</strong> nova invenção tecnológica com oobjetivo de refrescar o que deve sempre ser visto como novo.3.2.3. Muralhas de impressosA experiência vivi<strong>da</strong> na metrópole, desde muito cedo, apresentou vínculosprofundos com a <strong>visual</strong>i<strong>da</strong>de. A influência dos impressos na produção <strong>da</strong> <strong>cultura</strong><strong>visual</strong> moderna expande-se para al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> relação direta com as formas gráficas eos novos modos de representação. Ela encontra-se ancora<strong>da</strong> nos melhoramentost<strong>é</strong>cnicos obtidos no gravado e na impressão, como a cromolitografia, al<strong>é</strong>m dobarateamento <strong>da</strong> própria imagem e do seu suporte, o papel. Cronistas e gravuristasforam elevados à posição de artistas: “Eles falam para o olho e sua linguagem <strong>é</strong>fascinante e impressiva. Os acontecimentos do dia ou <strong>da</strong> semana são ilustrados ou295 Ibid., p. 69.296 Ibid., p. 202.

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