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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 140Benjamin considera ain<strong>da</strong> a intenção do Estado em se autopromover na medi<strong>da</strong>em que associava o novo urbanismo parisiense ao progresso: “Como um exemploclássico <strong>da</strong> coisificação, os projetos de ‘renovação’ urbana tentavam criar umautopia social mu<strong>da</strong>ndo a disposição de edifícios e ruas – objetos no espaço –deixando intactas as relações sociais”. 277 Apesar do desejo autêntico deHaussmann por ampliar o alcance <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, a obtenção de lucro tamb<strong>é</strong>m seencontrava entre suas intenções e parecem explicar alguns favorecimentos nacondução do processo.Por trás <strong>da</strong>s críticas à est<strong>é</strong>tica de Haussmann havia a necessi<strong>da</strong>de decompreender a nova ci<strong>da</strong>de, “a ci<strong>da</strong>de neutra <strong>da</strong>s pessoas civiliza<strong>da</strong>s” 278 que viradesaparecer os “grupos, vizinhos, bairros e tradições”. 279 A uniformi<strong>da</strong>de dotraçado <strong>da</strong>s ruas e dos pr<strong>é</strong>dios retirara a surpresa oculta nos pequenos detalhes <strong>da</strong>velha ci<strong>da</strong>de. Não existia mais a Paris desconheci<strong>da</strong> 280 . “A linha reta matou opitoresco, o inesperado”. 281 Por outro lado, a ci<strong>da</strong>de mostrava uma nova face queassustava os antigos moradores: “A centralização, a megalomania criaram umaci<strong>da</strong>de artificial onde o parisiense não se sente mais em casa”. 282 Pode parecerparadoxal que a nova compleição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de tenha destituído o inesperado aomesmo tempo em que se apresenta como desconfortável e estranha. A ci<strong>da</strong>de quese constrói com a divisão <strong>da</strong>s classes entre os bairros residenciais e os subúrbiosindustriais e ordena e hierarquiza o trabalho e o tempo livre <strong>é</strong> a mesma queconfunde o observador com o ilegível. Esta ambigüi<strong>da</strong>de sugere a ascensão deuma nova ordem de significados que não se deixa decifrar facilmente. Para Clark,“a metrópole se transformou em um campo livre de signos e objetos expostos” 283 ,onde uma enorme massa de imagens expõe-se à negociação enquanto as velhasdemarcações ruíram para sempre.O flâneur <strong>é</strong> a figura paradigmática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na metrópole em seu exercíciocotidiano de decifrar as novas imagens. Sua localização na Paris do s<strong>é</strong>culo XIXemerge a partir do ensaio de Charles Baudelaire, O Pintor <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Moderna.276 CLARK, T. J. op. cit., p. 76.277 BUCK-MORSS, Susan. Dial<strong>é</strong>tica do Olhar. Walter Benjamin e o Projeto <strong>da</strong>s Passagens. Belo Horizonte:Editora UFMG, 2002. p. 120.278 Daly, “Etude g<strong>é</strong>n<strong>é</strong>rale”, p. 33. apud CLARK, T. J. op. cit., p. 84.279 Ferry. Les Comptes fantastiques apud Id.280 CLARK, T. J. op. cit., p. 85.281 Charles Yriarte, “Les Types parisiens – les clubs”, em Paris-Guide 2 (1867): 929. apud Id.282 Dubech / D’Espezel. Histoire de Paris. Paris, 1926. p. 427-428. apud BENJAMIN, W. Passagens... p.169. [E 3a,6].

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