O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes
O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes
O OLHAR INOCENTE É CEGO 110ponto na medida em que muitos dos efeitos e transformações ocorridos a partir daindustrialização tornaram-se claros apenas em meados do século XIX. 217De fato, embora estas colocações pareçam conduzir à avaliação de que asegunda metade do século XIX constituiu um momento de amadurecimento daindustrialização, é importante ter presente que as invenções nem sempre sucedemde imediato os desenvolvimentos tecnológicos que lhe deram origem. Na maioriadas vezes, o momento da invenção e o período de ação da tecnologia como agentemodificador, encontram-se distanciados no tempo. É este o caso, por exemplo, datelevisão cuja tecnologia encontrava-se pronta antes da Segunda Guerra, queinterrompeu o seu desenvolvimento e adiou a institucionalização do invento emcultura. Mais importante ainda é a compreensão de diversas descobertas ao longodo tempo atuando na formulação de uma nova tecnologia promotora de cultura,como é o caso da informática. Embora os grandes avanços nesta área tenhamocorrido a partir da invenção dos semicondutores e microprocessadores, autilização de uma fonte segura de eletricidade foi fundamental, assim como osempreendimentos ocorridos no final do século XIX voltados para a manipulaçãode dados estatísticos e instrumentos de cálculo 218 .O fato é que, onde quer que se demarquem os primeiros momentos daindustrialização, eles se encontrarão diretamente relacionados ao surgimento denovas tecnologias de produção de bens e de comunicação. Diversas característicasmostraram-se fundamentais para a instituição deste processo, como a substituiçãodas ferramentas manuais pelas máquinas, o início da indústria mecânica e autilização da energia a vapor nos transportes. Também o desenvolvimento deprodutos químicos em bases científicas e o início das tecnologias de comunicação,com o telefone e o telégrafo, além do aprimoramento da fotografia e o avanço denovas tecnologias de impressão que, ao lado da introdução da litografia, foramcapazes de disseminar informação através de textos e imagens. Estampas, cartazese rótulos passaram a ser impressos com uma freqüência nunca vista, enquantogravuras e impressos ilustrados eram vendidos a preços populares, dando partidaao que veio a ser chamado de indústria cultural. Uma nova organização dotrabalho se sedimentou, a partir da divisão de tarefas com a inserção de diversasetapas na fabricação de um único objeto. A unidade entre trabalho criativo e217 BAYLY, C. A. op. cit. p. 170.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 111trabalho produtivo foi rompida, gerando a especialização do “projeto”, evento quecontribuiu para a formação do design moderno 219 . A mecanização é intensificada,trazendo como conseqüência imediata uma menor variação individual entre osprodutos. Observa-se um aumento nas escalas de produção com a ampliação demercados, muitas vezes distantes do centro fabril. Para atender a estes novosmercados, dentro de uma economia de escala, as oficinas e fabricas tiveram que seexpandir, recebendo maiores investimentos de capital em instalações eequipamentos.Embora a Inglaterra seja considerada o berço das primeiras indústrias, elafoi gradativamente perdendo espaço com o passar do tempo. A maior parte dastransformações de caráter industrial das últimas décadas do século XIX concentraseprincipalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. Às vésperas da PrimeiraGuerra, a produção industrial da Grã-Bretanha havia diminuído em quantidade eseguia, em sua maioria, sendo mantida pelas indústrias de trabalho intensivo e nãopelas indústrias de capital intensivo, características do que pode ser chamada desegunda revolução industrial. A explicação para esta mudança, que veio abeneficiar os Estados Unidos e a Alemanha, pode ser encontrada nascaracterísticas do novo tipo de indústria voltado para as vantagens das economiasde escopo e escala 220 . Esta nova indústria baseada na existência de um grandevolume de produção, necessitava de um sistema integrado de transporte ecomunicação que permitisse o deslocamento de grande quantidade de produtospor diferentes localidades. Isto significava que as ferrovias necessariamentedeveriam estar integradas não apenas por bitolas e equipamentos estandardizados,mas também por procedimentos padrões. O retardamento destes processoscontribuiu para que um sistema ferroviário consistente tenha demorado a seconfigurar. Assim, embora a ferrovia seja, muitas vezes, apontada como aprincipal responsável pela transformação do trabalho e da vida no século XIX 221 ,observa-se que este acontecimento constitui parte de um processo mais amplo.A importância da padronização para a produção de massa foi assinalada pelaevolução do chamado “sistema americano”, apresentado na Exposição Universal218 A este respeito cf. SMIL, V. op. cit., p 261 et. seq.219 BOMFIM, Gustavo Amarante e ROSSI, Lia Mônica. Moderno e pós-moderno, a controvérsia. Design &Interiores. Ano 3, no. 19. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., 1990.220 CHANDLER Jr., Alfred D., Fin de siècle: industrial transformation. In: TEICH, M. and PORTER, R. Finde Siècle and its Legacy. Cambridge Univ. Press. P. 28-41.
- Page 59 and 60: O OLHAR INOCENTE É CEGO 59Figura 1
- Page 61 and 62: O OLHAR INOCENTE É CEGO 61o trono
- Page 63 and 64: O OLHAR INOCENTE É CEGO 63Las Meni
- Page 65 and 66: O OLHAR INOCENTE É CEGO 65Figura 1
- Page 67 and 68: O OLHAR INOCENTE É CEGO 67Embora a
- Page 69 and 70: O OLHAR INOCENTE É CEGO 69Figura 2
- Page 71 and 72: O OLHAR INOCENTE É CEGO 71contradi
- Page 73 and 74: O OLHAR INOCENTE É CEGO 73embora c
- Page 75 and 76: O OLHAR INOCENTE É CEGO 75de produ
- Page 77 and 78: O OLHAR INOCENTE É CEGO 77imagem f
- Page 79 and 80: O OLHAR INOCENTE É CEGO 79correspo
- Page 81 and 82: O OLHAR INOCENTE É CEGO 81manteve
- Page 83 and 84: O OLHAR INOCENTE É CEGO 83permanec
- Page 85 and 86: O OLHAR INOCENTE É CEGO 85Figura 3
- Page 87 and 88: O OLHAR INOCENTE É CEGO 87Figura 3
- Page 89 and 90: O OLHAR INOCENTE É CEGO 89Figura 3
- Page 91 and 92: O OLHAR INOCENTE É CEGO 91pinturas
- Page 93 and 94: O OLHAR INOCENTE É CEGO 93antes do
- Page 95 and 96: O OLHAR INOCENTE É CEGO 95permitim
- Page 97 and 98: O OLHAR INOCENTE É CEGO 97A aborda
- Page 99 and 100: O OLHAR INOCENTE É CEGO 99pelo dom
- Page 101 and 102: O OLHAR INOCENTE É CEGO 101partir
- Page 103 and 104: O OLHAR INOCENTE É CEGO 103substit
- Page 105 and 106: O OLHAR INOCENTE É CEGO 105utiliza
- Page 107 and 108: O OLHAR INOCENTE É CEGO 1071914 20
- Page 109: O OLHAR INOCENTE É CEGO 109tecnolo
- Page 113 and 114: O OLHAR INOCENTE É CEGO 1133.1.2.
- Page 115 and 116: O OLHAR INOCENTE É CEGO 115muito d
- Page 117 and 118: O OLHAR INOCENTE É CEGO 117Figura
- Page 119 and 120: O OLHAR INOCENTE É CEGO 119Figura
- Page 121 and 122: O OLHAR INOCENTE É CEGO 121regime
- Page 123 and 124: O OLHAR INOCENTE É CEGO 123tecnol
- Page 125 and 126: O OLHAR INOCENTE É CEGO 125No praz
- Page 127 and 128: O OLHAR INOCENTE É CEGO 127Figura
- Page 129 and 130: O OLHAR INOCENTE É CEGO 129ao mesm
- Page 131 and 132: O OLHAR INOCENTE É CEGO 131signifi
- Page 133 and 134: O OLHAR INOCENTE É CEGO 133Figura
- Page 135 and 136: O OLHAR INOCENTE É CEGO 135ruas e
- Page 137 and 138: O OLHAR INOCENTE É CEGO 137acompan
- Page 139 and 140: O OLHAR INOCENTE É CEGO 139piadas,
- Page 141 and 142: O OLHAR INOCENTE É CEGO 141Neste t
- Page 143 and 144: O OLHAR INOCENTE É CEGO 143caso o
- Page 145 and 146: O OLHAR INOCENTE É CEGO 145alcanç
- Page 147 and 148: O OLHAR INOCENTE É CEGO 147(Figura
- Page 149 and 150: O OLHAR INOCENTE É CEGO 149seus ob
- Page 151 and 152: O OLHAR INOCENTE É CEGO 151Figura
- Page 153 and 154: O OLHAR INOCENTE É CEGO 15384). O
- Page 155 and 156: O OLHAR INOCENTE É CEGO 155Figura
- Page 157 and 158: O OLHAR INOCENTE É CEGO 157Figura
- Page 159 and 160: O OLHAR INOCENTE É CEGO 159múltip
O OLHAR INOCENTE É CEGO 110ponto na medi<strong>da</strong> em que muitos dos efeitos e transformações ocorridos a partir <strong>da</strong>industrialização tornaram-se claros apenas em meados do s<strong>é</strong>culo XIX. 217De fato, embora estas colocações pareçam conduzir à avaliação de que asegun<strong>da</strong> metade do s<strong>é</strong>culo XIX constituiu um momento de amadurecimento <strong>da</strong>industrialização, <strong>é</strong> importante ter presente que as invenções nem sempre sucedemde imediato os desenvolvimentos tecnológicos que lhe deram origem. Na maioria<strong>da</strong>s vezes, o momento <strong>da</strong> invenção e o período de ação <strong>da</strong> tecnologia como agentemodificador, encontram-se distanciados no tempo. É este o caso, por exemplo, <strong>da</strong>televisão cuja tecnologia encontrava-se pronta antes <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra, queinterrompeu o seu desenvolvimento e adiou a institucionalização do invento em<strong>cultura</strong>. Mais importante ain<strong>da</strong> <strong>é</strong> a compreensão de diversas descobertas ao longodo tempo atuando na formulação de uma nova tecnologia promotora de <strong>cultura</strong>,como <strong>é</strong> o caso <strong>da</strong> informática. Embora os grandes avanços nesta área tenhamocorrido a partir <strong>da</strong> invenção dos semicondutores e microprocessadores, autilização de uma fonte segura de eletrici<strong>da</strong>de foi fun<strong>da</strong>mental, assim como osempreendimentos ocorridos no final do s<strong>é</strong>culo XIX voltados para a manipulaçãode <strong>da</strong>dos estatísticos e instrumentos de cálculo 218 .O fato <strong>é</strong> que, onde quer que se demarquem os primeiros momentos <strong>da</strong>industrialização, eles se encontrarão diretamente relacionados ao surgimento denovas tecnologias de produção de bens e de comunicação. Diversas característicasmostraram-se fun<strong>da</strong>mentais para a instituição deste processo, como a substituição<strong>da</strong>s ferramentas manuais pelas máquinas, o início <strong>da</strong> indústria mecânica e autilização <strong>da</strong> energia a vapor nos transportes. Tamb<strong>é</strong>m o desenvolvimento deprodutos químicos em bases científicas e o início <strong>da</strong>s tecnologias de comunicação,com o telefone e o tel<strong>é</strong>grafo, al<strong>é</strong>m do aprimoramento <strong>da</strong> fotografia e o avanço denovas tecnologias de impressão que, ao lado <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong> litografia, foramcapazes de disseminar informação atrav<strong>é</strong>s de textos e imagens. Estampas, cartazese rótulos passaram a ser impressos com uma freqüência nunca vista, enquantogravuras e impressos ilustrados eram vendidos a preços populares, <strong>da</strong>ndo parti<strong>da</strong>ao que veio a ser chamado de indústria <strong>cultura</strong>l. Uma nova organização dotrabalho se sedimentou, a partir <strong>da</strong> divisão de tarefas com a inserção de diversasetapas na fabricação de um único objeto. A uni<strong>da</strong>de entre trabalho criativo e217 BAYLY, C. A. op. cit. p. 170.