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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 105utilizado ou o campo em que <strong>é</strong> empregado 195 . Segundo Schorske, a palavra“moderno” era emprega<strong>da</strong> at<strong>é</strong> o fim do s<strong>é</strong>culo XVIII com “certa ressonância degrito de guerra”, mas apenas como antítese ao “antigo”. A partir de meados dos<strong>é</strong>culo XIX, ain<strong>da</strong> segundo este autor, o “moderno serve-nos para diferenciarnossas vi<strong>da</strong>s e nossos tempos de tudo o que o precedeu”. 196 A oposição aopassado <strong>é</strong> deixa<strong>da</strong> de lado ante a prevalência de independência em relação aopassado. Esta formulação <strong>é</strong> sintetiza<strong>da</strong> por Bayly com uma frase que, emboratautológica, parece levar clareza ao conceito: “ser moderno <strong>é</strong> pensar-semoderno”. 197 Moderni<strong>da</strong>de <strong>é</strong> a aspiração de estar de acordo com o seu tempo (tobe up with the times). 198 Segundo este autor, entre 1780 e 1914, um crescentenúmero de pessoas qualificava-se como “modernos” ou consideravam sua própriaexistência em um “mundo moderno”, mesmo que esta id<strong>é</strong>ia não lhes agra<strong>da</strong>sse. 199Bayly considera que, em certo sentido, o s<strong>é</strong>culo XIX pode ser creditado como aera <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de precisamente porque assim pensava um considerável númerode pensadores, governantes e cientistas influentes. Este sentimento foi enfatizado,na segun<strong>da</strong> metade do s<strong>é</strong>culo XIX, pela avalanche de ícones <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>deindustrial e tecnológica - trens, carros, aviões, telegrafo, rádio e telefone. Baylyconsidera ain<strong>da</strong> o surgimento de um diferencial na quali<strong>da</strong>de de percepção <strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças deste período. Antes do s<strong>é</strong>culo XIX, as mu<strong>da</strong>nças passa<strong>da</strong>s seriampercebi<strong>da</strong>s de modo diferente, mais próxima de “renovação”, com implicações derepetição e não de substituição, como pode ser observado no Renascimentoatrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> dos conhecimentos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de clássica. 200A demarcação de <strong>da</strong>tas precisas na formulação do conceito de moderni<strong>da</strong>de<strong>é</strong> dificulta<strong>da</strong> pelo fato de que os diversos eventos, agentes modificadores de umadetermina<strong>da</strong> situação, dificilmente ocorrem de forma sincrônica. Al<strong>é</strong>m disso, umaanálise de uma determina<strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> não pode ater-se apenas aos eventos,mas deve abraçar tamb<strong>é</strong>m os discursos produzidos e as evidências registra<strong>da</strong>s. Asmu<strong>da</strong>nças capazes de promover uma nova reali<strong>da</strong>de social podem acontecer de194 WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave. Um vocabulário de <strong>cultura</strong> e socie<strong>da</strong>de. São Paulo: BoitempoEditorial, 2007. p. 282.195 COMPAGNON, Anton. Os cinco paradoxos <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003. p. 15.196 SCHORSKE, Carl E. Viena fin-de-siècle. São Paulo: Ed. <strong>da</strong> Unicamp e Cia. <strong>da</strong>s Letras, 1988. p. 13.197 BAYLY, Christopher Alan. The birth of the modern world 1780-1914: global connections andcomparisons. USA, UK and Australia: Blachwell Publishing, 2004. p. 10.198 Id.199 Datas estabeleci<strong>da</strong>s pelo estudo autor em seu estudo. Id.200 Ibid., p. 11.

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