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92geográfica do Estado, que corresponderia à uma vocação de “unidade nacional” pelaconciliação de interesses. Dulci (1999) compara a oscilação entre o regional e o nacional, nocaso mineiro às características e tensões da Catalunha, na Espanha, e da Escócia, no ReinoUnido – que também, nos moldes de Hobsbawn e Ranger (1984), “inventaram tradições” paraafirmar sua especificidade sem, no entanto, oferecer uma “ameaça” semelhante ao País Bascoou à Irlanda.Embora não fosse seu objetivo principal Dulci (1999), fazendo simultaneamente umaanálise do nacional e do regional e uma tentativa de comparação inter-regional, conclui porafirmar a importância da dimensão da cultura, além das oportunidades econômicas e dosrecursos políticos no desenvolvimento do Estado como “região intermediária” (nem centro,nem periferia), uma vez que essa dimensão ajudou a viabilizar a coesão das elites, essencialpara a compreensão do desenvolvimento desigual como fenômeno inerentemente político.O trabalho de Starling (1986) revela como o empresariado mineiro, em umdeterminado momento histórico, organizou-se estratégica e taticamente para desenvolver umaação política que assegurasse a concretização dos seus objetivos. Embora esses objetivospossam ser descritos como “de natureza econômica” a autora durante todo o seu trabalhomostra a “unidade de pensamento” (STARLING, 1986, p. 79) do grupo de conservadoresmineiros, “mesmo quando estavam isolados uns dos outros”. “Com efeito, ao se falar sobreMinas Gerais são freqüentes e inevitáveis as referências feitas a todo um multifacetadosistema de particularidades regionais que em seu conjunto comporiam o que se convencionouchamar de “cultura mineira” e de “personalidade do mineiro” (STARLING, 1986, p. 143).Essa demarcação é definida pela autora como vaga, do ponto de vista do território, esimbólica – fazendo referências ao compositor Milton Nascimento e uma rua de Diamantina -o “Beco do Mota” - que resumiria Minas e o Brasil. Essas características afirmariam um“universalismo mineiro” que é simultaneamente conservador, reformador e compensador (esteúltimo termo significando equilíbrio). Assim a concepção de mineiridade conferiu aos “NovosInconfidentes” – grupo de empresários do Estado que apoiou o golpe de 1964 - a lógica de umdiscurso coerente com o universo ideológico tradicional, arvorando-se em vanguarda dasclasses médias e ligando-se ao Movimento por um Mundo Cristão – grupo católico detendência conservadora - inclusive sustentando-o financeiramente (STARLING, 1986, p. 222).Starling (1986) analisa ainda a participação do clero na facção conservadora doperíodo pré-1964, nos quadros do PSD mineiro, em luta contra bandeiras tais como a reformaagrária, entendida como “antidemocrática” e “anticristã”, logo, “totalitária” e “atéia”(STARLING, 1986, p. 254), uma vez que a propriedade privada, segundo a encíclica Mater et
93Magistra é “um direito natural fundado sobre a prioridade ontológica e final de cada serhumano” (STARLING, 1986, p. 254). Segundo a autora a conspiração político-militar emMinas “nada tinha de ingênua”, sendo o IPES-MG o centro estratégico e ideológico do poderempresarial no Estado. A mobilização conservadora em Minas, no entanto, fez aliados a “elitetradicional” e a “elite modernzante”, e suas propostas de reordenação capitalista para o país,não eram e nem foram automaticamente assimiladas pelos outros participantes dadesestabilização do governo instituído. O grupo IPES-Novos Inconfidentes demonstra acapacidade de forças divergentes no Estado se unirem em torno de um projeto comum, que,para além da liquidação do bloco nacional-populista, propunha a adoção de um modelocapitalista associado fortemente industrializante, concentrado e fortemente integrado ao setorbancário – com a exclusão das camadas populares, mas de cunho desenvolvimentista. Maspara as elites tradicionais a deposição de João Goulart tinha um sentido diverso – amanutenção de seus privilégios ameaçada pelo perigo político da participação popular. Atéque ponto isto representava a vontade coletiva da população do Estado é uma questão emaberto, embora Starling (1986) analise que o conservadorismo das elites tenha migrado paraos setores médios e classes populares, como quando afirma que “em torno do sentimentoanticomunista dos grandes proprietários de terras, expresso na defesa da propriedade privada aalta liderança do movimento conservador-oposiocinista orquestrou um formidável “coroideológico” que buscava convencer a opinião pública em geral e, principalmente o pequeno emédio proprietário rural da “ameaça” representada pela reforma agrária”, assim como o cleroconservador exorcisava o caráter “satânico” da esquerda, como quando da Interpelação (em1964) à Ação Católica (que denunciou a manipulação da Igreja por grupos conservadores)com 22 mil assinaturas de apoio, chamando-a explicitamente de “comunista”. Isto é, aconstrução da hegemonia, no conceito gramsciano, pressupõe uma difusão de valores eprincípios constituintes da cultura de classe que, bem sucedida, configuraria uma culturacompartilhada. Isto feito sistematicamente, ao longo três séculos, explicaria parcialmentealgumas das características atribuídas à mineiridade, como o conservadorismo, o tipo dereligiosidade, a prudência etc. – que são, na verdade, características atribuídas à “brasilidade”,por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e outros. Werneck Vianna (1997) diz que“[...] neste país que desconhece a revolução e que, provavelmente, jamais a conhecerá [...]” ,assim como Rodrigues (1965) fala em “conciliação conservadora” para definir os efeitos datrajetória econômica brasileira sobre a política e a cultura., opondo-se à cultura americanaque, segundo Paula (2000) é, em grande parte, fruto do individualismo-privatismopragmatismoeconômico. Um exemplo eloqüente é a visão de Colombo nos EUA e na
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92geográfica do Estado, que corresponderia à <strong>uma</strong> vocação de “uni<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” pelaconciliação de interesses. Dulci (1999) compara a oscilação entre o regio<strong>na</strong>l e o <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, nocaso mineiro às características e tensões <strong>da</strong> Catalunha, <strong>na</strong> Espanha, e <strong>da</strong> Escócia, no ReinoUnido – que também, nos moldes de Hobsbawn e Ranger (1984), “inventaram tradições” paraafirmar sua especifici<strong>da</strong>de sem, no entanto, oferecer <strong>uma</strong> “ameaça” semelhante ao País Bascoou à Irlan<strong>da</strong>.Embora não fosse seu objetivo principal Dulci (1999), fazendo simultaneamente <strong>uma</strong>análise do <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e do regio<strong>na</strong>l e <strong>uma</strong> tentativa de comparação inter-regio<strong>na</strong>l, conclui porafirmar a importância <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> cultura, além <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des econômicas e dosrecursos políticos no desenvolvimento do Estado como “região intermediária” (nem centro,nem periferia), <strong>uma</strong> vez que essa dimensão ajudou a viabilizar a coesão <strong>da</strong>s elites, essencialpara a compreensão do desenvolvimento desigual como fenômeno inerentemente político.O trabalho de Starling (1986) revela como o empresariado mineiro, em umdetermi<strong>na</strong>do momento histórico, organizou-se estratégica e taticamente para desenvolver <strong>uma</strong>ação política que assegurasse a concretização dos seus objetivos. Embora esses objetivospossam ser descritos como “de <strong>na</strong>tureza econômica” a autora durante todo o seu trabalhomostra a “uni<strong>da</strong>de de pensamento” (STARLING, 1986, p. 79) do grupo de conservadoresmineiros, “mesmo quando estavam isolados uns dos outros”. “Com efeito, ao se falar <strong>sob</strong>reMi<strong>na</strong>s Gerais são freqüentes e inevitáveis as referências feitas a todo um multifacetadosistema de particulari<strong>da</strong>des regio<strong>na</strong>is que em seu conjunto comporiam o que se convencionouchamar de “cultura mineira” e de “perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de do mineiro” (STARLING, 1986, p. 143).Essa demarcação é defini<strong>da</strong> pela autora como vaga, do ponto de vista do território, esimbólica – fazendo referências ao compositor Milton Nascimento e <strong>uma</strong> rua de Diamanti<strong>na</strong> -o “Beco do Mota” - que resumiria Mi<strong>na</strong>s e o Brasil. Essas características afirmariam um“universalismo mineiro” que é simultaneamente conservador, reformador e compensador (esteúltimo termo significando equilíbrio). Assim a concepção de mineiri<strong>da</strong>de conferiu aos “NovosInconfidentes” – grupo de empresários do Estado que apoiou o golpe de 1964 - a lógica de umdiscurso coerente com o universo ideológico tradicio<strong>na</strong>l, arvorando-se em vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong>sclasses médias e ligando-se ao Movimento por um Mundo Cristão – grupo católico detendência conservadora - inclusive sustentando-o fi<strong>na</strong>nceiramente (STARLING, 1986, p. 222).Starling (1986) a<strong>na</strong>lisa ain<strong>da</strong> a participação do clero <strong>na</strong> facção conservadora doperíodo pré-1964, nos quadros do PSD mineiro, em luta contra bandeiras tais como a reformaagrária, entendi<strong>da</strong> como “antidemocrática” e “anticristã”, logo, “totalitária” e “atéia”(STARLING, 1986, p. 254), <strong>uma</strong> vez que a proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, segundo a encíclica Mater et