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21.07.2015 Views

358O conceito de cultura organizacional, partindo daquele proposto por Schein, mostrousefundamental para este estudo. As preocupações da Psicologia Organizacional derivam-seda Psicologia Social, e a compreensão da complexidade do tema fez com que ele fosseinserido na perspectiva sistêmico-contingencial da teoria administrativa - mas a consideraçãodo conceito de cultura organizacional enquanto um princípio passível de utilização degeneroumuitas vezes em uma apropriação inadequada, em tentativas de transformação cultural. Asconsiderações de natureza histórico-antropológicas feitas neste estudo pretendem, para o casoespecífico da gestão da informação em saúde pública no Brasil, especificar este conceitoatribuindo-lhe um caráter compreensivo e conferindo-lhe uma especificidade que procuracompreender tanto a dimensão global quanto a local desse conceito.Essas considerações de caráter histórico-antropológico concordam com as idéias deLeach (1978), quando sugere que a etnografia de outros povos é geralmente muito obscura, epropõe, citando Geertz e sua proposta de “descrição densa” que, ao invés de um “inventáriode costumes”, faça-se “um entrelaçamento confuso de trama e contratrama” (LEACH, 1978,p. 7), uma vez que “a única etnografia da qual um antropólogo social tem um conhecimentoíntimo é a que deriva de sua própria experiência de vida” (LEACH, 1978, p. 8).No que se refere à questão da saúde pública brasileira em suas perspectivas para ofuturo, muitas análises têm de ser consideradas. Chaimovicz (2006), por exemplo, analisandoa transição epidemiológica no país, aponta para as particularidades do caso brasileiro em quenão há, de fato, uma transição - nos moldes da que houve nos países desenvolvidos ou mesmoem países “vizinhos” como Chile, Cuba ou Costa Rica - mas uma superposição entre asetapas, uma vez que as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas passam a conviver,associando-se ainda a novos fenômenos, como acidentes e violência. Além disso, doençastransmissíveis foram reintroduzidas, persistiram, recrudesceram, bem como algumas novassurgiram. Essa transição “prolongada” ocorre de maneira distinta nas várias regiões do país,criando um quadro futuro “sombrio”, na perspectiva do autor, se considerados os níveishistóricos de desenvolvimento econômico associados à complexidade da transiçãodemográfica.Cury (2005) menciona a importância conferida pelo Ministério da Saúde ao tema daVigilância à Saúde, que compreende a vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental,saneamento e saúde do trabalhador, além de outras preocupações, como a alimentação.Embora o indivíduo seja o objeto final da vigilância à saúde, estão aí embutidos os conceitosde família, território, responsabilização social, equipes multiprofissionais e educação para asaúde - entre outros – que configuram um paradigma diferenciado do modelo

359tecnoassistencial. A gestão da informação em saúde, se não compreende os condicionantesculturais, padeceria, segundo o presente estudo, de uma carência fundamental.A compreensão da cultura brasileira pelos próprios brasileiros é, também, complexa. Aobra recente de Gianetti (1998) convida ao desencantamento do mundo, no molde weberiano,analisado por Pierucci (2005), ao considerar as virtudes privadas e a vida comunitáriaorganizada como fatores éticos que impulsionam as nações para o desenvolvimento, o queajudaria talvez a explicar certas características da cultura brasileira. “Ninguém escolhe opassado”, lembra Gianetti (1997), e sua obra, pelo resgate de conceitos da historiografiabrasileira, além de sua própria contribuição, pode ajudar a responder as indagações de Santos(1994) sobre as “razões da desordem” que fazem do Brasil uma grande frustração da históriainternacional, associando, como fez esse autor, as perspectivas futuras do subdesenvolvimentoàs noções de incompetência, inação e desesperança, ou de instabilidade, fracasso coletivo einércia social (SANTOS, 2006).No que diz respeito especificamente às políticas de informação nos municípiospesquisados, pode-se afirmar que são, ainda, precárias, e encontram-se em estágiosdiferenciados. A informação em saúde é ainda incipiente e em muitos casos, tratadasimplesmente como uma questão de bancos de dados epidemiológicos, sendo a temática douso, preterida. Sendo assim a dedicação de funcionários não é recompensada adequadamentepela eficácia das ações empreendidas, e disfunções burocráticas e lacunas nas relaçõesintergovernamentais tornam-se obstáculos para a eficiência dos trabalhos. A gestão dainformação em saúde, apesar dos muitos progressos, encontra-se ainda em construção – comotantos outros aspectos da atenção social no país.O desencantamento do mundo na análise da cultura brasileira, pela compreensão dosseus paradoxos, já foi descortinado de modo brilhante, de várias maneiras e em vários camposdo conhecimento pelos muitos autores citados no capítulo teórico deste trabalho, além deoutros, pouco ou nada mencionados – e muito ainda está sendo feito. Desde os viajanteseuropeus durante o período da colônia e do Império, ao tratamento da questão do negro emGuerreiro Ramos e Abdias Nascimento muitos foram os trabalhos sobre a constituição daidentidade nacional - os estudos de brasilianistas que, partindo da análise do desenvolvimentoeconômico e político migraram para temas regionais e da diversidade cultural, a interpretaçãodo Brasil pela literatura, como fez Antônio Cândido e da apatia da população em umasociedade guiada pelos “donos do poder”, segundo Faoro, entre muitos outros. Apenas paralembrar alguns outros nomes que merecem grande destaque pela força explicativa, podem sermencionados o médico Josué de Castro; Florestan Fernandes, na Sociologia; Celso Furtado,

359tecnoassistencial. A gestão <strong>da</strong> informação em <strong>saúde</strong>, se não compreende os condicio<strong>na</strong>ntesculturais, padeceria, segundo o presente estudo, de <strong>uma</strong> carência fun<strong>da</strong>mental.A compreensão <strong>da</strong> cultura brasileira pelos próprios brasileiros é, também, complexa. Aobra recente de Gianetti (1998) convi<strong>da</strong> ao desencantamento do mundo, no molde weberiano,a<strong>na</strong>lisado por Pierucci (2005), ao considerar as virtudes priva<strong>da</strong>s e a vi<strong>da</strong> comunitáriaorganiza<strong>da</strong> como fatores éticos que impulsio<strong>na</strong>m as <strong>na</strong>ções para o desenvolvimento, o queaju<strong>da</strong>ria talvez a explicar certas características <strong>da</strong> cultura brasileira. “Ninguém escolhe opassado”, lembra Gianetti (1997), e sua obra, pelo resgate de conceitos <strong>da</strong> historiografiabrasileira, além de sua própria contribuição, pode aju<strong>da</strong>r a responder as in<strong>da</strong>gações de Santos(1994) <strong>sob</strong>re as “razões <strong>da</strong> desordem” que fazem do Brasil <strong>uma</strong> grande frustração <strong>da</strong> históriainter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, associando, como fez esse autor, as perspectivas futuras do subdesenvolvimentoàs noções de incompetência, i<strong>na</strong>ção e desesperança, ou de instabili<strong>da</strong>de, fracasso coletivo einércia social (SANTOS, 2006).No que diz respeito especificamente às políticas de informação nos municípiospesquisados, pode-se afirmar que são, ain<strong>da</strong>, precárias, e encontram-se em estágiosdiferenciados. A informação em <strong>saúde</strong> é ain<strong>da</strong> incipiente e em muitos casos, trata<strong>da</strong>simplesmente como <strong>uma</strong> questão de bancos de <strong>da</strong>dos epidemiológicos, sendo a temática douso, preteri<strong>da</strong>. Sendo assim a dedicação de funcionários não é recompensa<strong>da</strong> adequa<strong>da</strong>mentepela eficácia <strong>da</strong>s ações empreendi<strong>da</strong>s, e disfunções burocráticas e lacu<strong>na</strong>s <strong>na</strong>s relaçõesintergover<strong>na</strong>mentais tor<strong>na</strong>m-se obstáculos para a eficiência dos trabalhos. A gestão <strong>da</strong>informação em <strong>saúde</strong>, apesar dos muitos progressos, encontra-se ain<strong>da</strong> em construção – comotantos outros aspectos <strong>da</strong> atenção social no país.O desencantamento do mundo <strong>na</strong> análise <strong>da</strong> cultura brasileira, pela compreensão dosseus paradoxos, já foi descorti<strong>na</strong>do de modo brilhante, de várias maneiras e em vários camposdo conhecimento pelos muitos autores citados no capítulo teórico deste trabalho, além deoutros, pouco ou <strong>na</strong><strong>da</strong> mencio<strong>na</strong>dos – e muito ain<strong>da</strong> está sendo feito. Desde os viajanteseuropeus durante o período <strong>da</strong> colônia e do Império, ao tratamento <strong>da</strong> questão do negro emGuerreiro Ramos e Abdias Nascimento muitos foram os trabalhos <strong>sob</strong>re a constituição <strong>da</strong>identi<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l - os estudos de brasilianistas que, partindo <strong>da</strong> análise do desenvolvimentoeconômico e político migraram para temas regio<strong>na</strong>is e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural, a interpretaçãodo Brasil pela literatura, como fez Antônio Cândido e <strong>da</strong> apatia <strong>da</strong> população em <strong>uma</strong>socie<strong>da</strong>de guia<strong>da</strong> pelos “donos do poder”, segundo Faoro, entre muitos outros. Ape<strong>na</strong>s paralembrar alguns outros nomes que merecem grande destaque pela força explicativa, podem sermencio<strong>na</strong>dos o médico Josué de Castro; Florestan Fer<strong>na</strong>ndes, <strong>na</strong> Sociologia; Celso Furtado,

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