Informação na Gestão Pública da saúde sob uma ótica ... - capes

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21.07.2015 Views

336No nível municipal as pessoas não sabem direito o que fazer lá. No nível estadual efederal, à medida que você vai subindo as pessoas ficam mais profissionalizadas, éuma casta, tem sindicalistas, por exemplo, que vão se especializando naquilo, vãoestudando e geralmente tem um viés de esquerda. Participação social no Brasil,como eu vejo, é muito mais induzida pelo Estado - não tem aquela redetocqueviliana. Esse é o problema brasileiro, a sociedade é desorganizada e oEstado fica sem limite - questão de cultura, mesmo [...] esperando papai fazer [...]O Conselho fica esperando o executivo fazer pra meter o pau ou pra bater palmas.Projeto político consistente vindo do Conselho sinceramente eu nunca vi. (E/MS)Os médicos entrevistados, nos três municípios, mostraram duas visões diferentes dagestão da saúde – segundo o grau de adesão ou entusiasmo pelo PSF. Alguns, maistradicionais, nas unidades de saúde, enfatizaram o “progresso da medicina” e da tecnologia,falando de maneira ponderada sobre os problemas de saúde do Brasil, e as melhoras que temhavido – e a entrevista era encerrada educadamente. Outros, mais entusiasmados e maisjovens alternavam esperança e desânimo – e não expressavam um desejo consistente decontinuar na mesma situação profissional. Mas houve exceções, e só um estudo mais rigoroso,voltado especificamente para essa temática pode gerar conclusões mais expressivas sobre essaquestão. Os agentes de saúde demonstraram grande entusiasmo pelo que faziam, emborareclamassem de cobranças de superiores, de não poderem fazer certas coisas para as quaisreceberam treinamento, e da remuneração insuficiente. Os conselheiros de saúde foram osmais evasivos nas entrevistas – aqueles que se dispuseram a responder de fato, com maisatenção, pareceram estar mais ocupados em defender ou atacar com ênfase a gestãomunicipal. Os dados obtidos através dos questionários aplicados não trouxeram nenhumainformação substancialmente nova. Seria digno de menção apenas o fato de que, para osrespondentes, as informações oriundas do próprio município quase sempre foram colocadascomo menos confiáveis, úteis ou importantes que aquelas oriundas do nível estadual. Tambémé digno de menção o fato de que nenhum funcionário ou secretário soube citar nenhumapublicação da área de saúde – a não ser, genericamente, “publicações do Ministério”. Muitasdas respostas dos questionários foram verificadas nas entrevistas, quando pareciamdesconexas ou pareciam contradizer a observação direta do pesquisador - como quando umfuncionário assinalou que na secretaria de Diamantina o ambiente “não é de informalidade nasconversas, nas roupas e no comportamento em geral”, o que discordava de maneira gritantecom o ambiente no qual o pesquisador conviveu por duas semanas, em duas ocasiõesdiferentes.Analisando, portanto, a gestão da informação no setor da saúde pública pelasentrevistas concedidas, é possível afirmar que ela está, assim como a própria gestão da saúde,ainda em construção – e, nesse processo, ambas estão marcadas pela cultura nacional,

337estadual e local (o que implica diferenças) pela cultura do serviço público, pela “preguiça” dosistema em tornar-se mais ágil - e as percepções, mesmo quando otimistas, mostram que édifícil mudar isso, mesmo com o “jeitinho” brasileiro – o que não quer dizer que progressosnão venham sendo paulatinamente atingidos. É possível dizer também que sucessos pontuaisexistem, e dependem do perfil do gestor e da equipe que assume a Secretaria, muitas vezesvindos de fora do município e abraçando uma racionalidade que parece ferir a culturaorganizacional instalada – o mais grave seria a incapacidade de se encontrar uma maneira detorná-los perenes.7.3.5 Análise final da parte qualitativa, considerando as entrevistas e questionáriosaplicados aos funcionários das secretarias municipais e as entrevistas e questionáriosaplicados aos envolvidos no nível estadual da gestão da saúde no EstadoA amostra de entrevistados foi bastante extensa, e envolveu muitos cargos diferentes,personalidades variadas e, consequentemente, múltiplas percepções, que em alguns casos,podem ser sintetizadas em uma visão comum – e às vezes, não. Secretários Municipais, exsecretários,Diretores de Planejamento, Coordenadores do PSF, responsáveis pela área deinformação, técnicos administrativos, funcionários dos setores de pessoal ou compras, mastambém da área de epidemiologia, médicos, enfermeiros e dentistas, pós graduados, e pessoasque não concluíram o segundo grau - este leque de entrevistados forçosamente incluiu pessoasoriundas dos próprios municípios e “forasteiros”. Os entrevistados tinham também as maisdiversas formações e origem – engenheiros que vieram do setor privado, administradores queeram funcionários de outros setores da Prefeitura, funcionários do mesmo setor há 30 anos –tendo alguns participado da criação da secretaria em que trabalham, enquanto órgãoindependente – enquanto outros eram recém contratados. Alguns, por exemplo, no setor doPSF de Diamantina, trabalham na Coordenação do PSF, mas também atendem a população,isto é, trabalham nos níveis estratégico e operacional, simultaneamente.Dessa multiplicidade de opiniões vêm visões diferentes, como o fato de serem ascidades (todas elas foram assim descritas) muito “pacatas’ e “religiosas”, embora outrosafirmarem que “isso para a saúde, não importa”.Algumas opiniões são muito comuns, como por exemplo, achar o serviço “complexo edesafiador”, mas também “não sei se quero continuar na área pública” - embora esse desejo,aparentemente, não se manifeste em uma procura ativa por outra colocação.

337estadual e local (o que implica diferenças) pela cultura do serviço público, pela “preguiça” dosistema em tor<strong>na</strong>r-se mais ágil - e as percepções, mesmo quando otimistas, mostram que édifícil mu<strong>da</strong>r isso, mesmo com o “jeitinho” brasileiro – o que não quer dizer que progressosnão venham sendo paulati<strong>na</strong>mente atingidos. É possível dizer também que sucessos pontuaisexistem, e dependem do perfil do gestor e <strong>da</strong> equipe que assume a Secretaria, muitas vezesvindos de fora do município e abraçando <strong>uma</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de que parece ferir a culturaorganizacio<strong>na</strong>l instala<strong>da</strong> – o mais grave seria a incapaci<strong>da</strong>de de se encontrar <strong>uma</strong> maneira detorná-los perenes.7.3.5 Análise fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> parte qualitativa, considerando as entrevistas e questionáriosaplicados aos funcionários <strong>da</strong>s secretarias municipais e as entrevistas e questionáriosaplicados aos envolvidos no nível estadual <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> no EstadoA amostra de entrevistados foi bastante extensa, e envolveu muitos cargos diferentes,perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s e, consequentemente, múltiplas percepções, que em alguns casos,podem ser sintetiza<strong>da</strong>s em <strong>uma</strong> visão comum – e às vezes, não. Secretários Municipais, exsecretários,Diretores de Planejamento, Coorde<strong>na</strong>dores do PSF, responsáveis pela área deinformação, técnicos administrativos, funcionários dos setores de pessoal ou compras, mastambém <strong>da</strong> área de epidemiologia, médicos, enfermeiros e dentistas, pós graduados, e pessoasque não concluíram o segundo grau - este leque de entrevistados forçosamente incluiu pessoasoriun<strong>da</strong>s dos próprios municípios e “forasteiros”. Os entrevistados tinham também as maisdiversas formações e origem – engenheiros que vieram do setor privado, administradores queeram funcionários de outros setores <strong>da</strong> Prefeitura, funcionários do mesmo setor há 30 anos –tendo alguns participado <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> secretaria em que trabalham, enquanto órgãoindependente – enquanto outros eram recém contratados. Alguns, por exemplo, no setor doPSF de Diamanti<strong>na</strong>, trabalham <strong>na</strong> Coorde<strong>na</strong>ção do PSF, mas também atendem a população,isto é, trabalham nos níveis estratégico e operacio<strong>na</strong>l, simultaneamente.Dessa multiplici<strong>da</strong>de de opiniões vêm visões diferentes, como o fato de serem asci<strong>da</strong>des (to<strong>da</strong>s elas foram assim descritas) muito “pacatas’ e “religiosas”, embora outrosafirmarem que “isso para a <strong>saúde</strong>, não importa”.Alg<strong>uma</strong>s opiniões são muito comuns, como por exemplo, achar o serviço “complexo edesafiador”, mas também “não sei se quero continuar <strong>na</strong> área pública” - embora esse desejo,aparentemente, não se manifeste em <strong>uma</strong> procura ativa por outra colocação.

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