Informação na Gestão Pública da saúde sob uma ótica ... - capes
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294Um funcionário do nível estratégico, psicólogo, estudou a formação da cultura local –em termos de oposição de classe oriunda do passado minerador:Nas cidades mineradoras, esse era o caso de Ouro Preto, isso é um negócio que euacredito ainda - eu tomei dados de pesquisas sociológicas - as economiasmineradoras têm extremos muito mais distantes (que as sociedades agrárias, onde aelite se envolve mais no trabalho). No caso das cidades históricas de Minas Gerais,no caso de Ouro Preto, você tem a mão-de-obra operacional, origem aqui é a mãode-obranegra (escrava) e do outro lado uma elite majoritariamente branca, umgrupo muito pequeno numericamente, e ali, entre estes dois extremos, brancos epardos em proporções que eu não saberia exatamente distinguir. A gente temconcentrações muito graves nos dois extremos: muito pouca gente em cima, muitagente em baixo, e a classe mineradora é essa turma em baixo, basicamente dedescendência negra. Esse quadro é atual em Ouro Preto ainda hoje. Os dados queexistiam na época do governo lá são os seguintes: embora as pessoas acreditem queOuro Preto seja uma cidade turística, até aquele momento - pois eu não tenho dadosatuais de lá - Ouro Preto é uma cidade mineradora; 70% ou mais da arrecadaçãode tributos de Ouro Preto era originários de mineração e metalurgia - ALCAN, Valedo Rio Doce, Samitri, pequenas mineradoras lá do município, mineração detopázio, etc. Essas atividades são extremamente concentradoras de renda. Essarenda fica no topo, mão-de-obra especializada, os controladores desses negócios - ea mão-de-obra operacional que é exatamente a mão-de-obra local não vê [...] Eessa mão-de-obra é básica neste meio: a periferia de Ouro Preto é uma periferianegra, mestiça: são operários da ALCAN, operários da Vale, operários daspequenas mineradoras, operários da própria prefeitura, servidores, cargos semqualificação. E há renda muito concentrada nestes pequenos grupos de elite:técnicos de nível superior, que eram forasteiros e as poucas famílias locais quetinham status. (E/OP/NE)O trabalho de um dos entrevistados na Secretaria Municipal de Saúde consistiuinicialmente na montagem de sistemas de informação gerencial na área de saúde.Nós estávamos passando por um processo de construção: tudo estava sendoconstruído. Não só a estrutura organizacional, os processos, mas também aestrutura física não havia e também as equipes. Então os nossos processosfuncionavam melhor no papel, eles eram mais projetos do que processos em ação,processos em construção. E haviam algumas dificuldades porque inicialmente ostécnicos não se conheciam, eram técnicos recrutados de vários lugares, tinhamorigens diferentes, embora a maioria fosse da região metropolitana. Havia algumaligação com o PT, os partidos de esquerda, então havia uma importação de técnicosna área de sistemas de informações, de técnicos que haviam participado deexperiências de governo de esquerda e que traziam essa bagagem pra nossa própriaexperiência. Esses diálogos não eram muito fáceis, havia diferenças entre ostécnicos e os gestores. Havia diferenças técnicas fundamentais, por exemplo, eumesmo, embora tivesse graduação em psicologia, minha carreira até aquelemomento, toda minha formação era na indústria. Então o que eu sabia deplanejamento e controle de processos era planejamento de processo industrial,controle de processo industrial. O que eu sabia de epidemiologia era muito pouco,na secretaria eu fiz um curso rápido. Na verdade foi na UFOP, na Escola deFarmácia, um curso de atualização profissional e isso me dava uma idéia de comofazer transposição de sistemas de informação industrial pra área de saúde. Mas aidéia era muito pálida e eu tinha que negociar a construção do sistema deinformações com a médica que era epidemiologista. As nossas concepções de comodeveria ser organizado, das finalidades dos sistemas não batiam. É claro que euentendia perfeitamente que a finalidade da secretaria, que era saúde, deveria
295prevalecer. Então eram sistemas de informações em saúde para a saúde. Então nofinal prevalecia isso, mas era difícil. Mas tinham características dos indivíduostambém que eram complicadoras dos processos de negociação, não era apenas asdiferenças de origem acadêmica e de percurso profissional, eram diferenças deordem pessoal, partidária até, muito complicado. (E/OP/NT)Sobre a cultura dos funcionários da Secretaria:Mas as nossas maiores dificuldades eram com a comunidade local e com ospróprios trabalhadores da rede. A combatividade percebida era muito maisrelacionada a este choque da racionalidade técnica com a racionalidade políticadas populações locais. Eles não aceitavam passivamente [...] Por outro ladotambém experiências que eu tive com funcionários que eu tentei demitir e não pudeme ensinaram que eu tinha que ter muito mais cuidado [...] Eles sabiam da forçadeles. Não adiantava eu forçar muito a barra em cima dos funcionários porquemuitos deles diziam: “Aqui ninguém é pagão, todo mundo tem padrinho”. E nomomento necessário o padrinho era acionado. Etambém acontecia muito aquelenegócio de reunião que o sujeito diz: “ok, ok, ok” mas aí depois ele continuafazendo tudo como se nada tivesse acontecido [...] (E/OP/NE)O “grande aprendizado” que o levou a afastar-se da política:O que eu aprendi muito disso é que a racionalidade técnica não conseguiu, pelomenos naquele momento, ser efetiva pras pessoas. As pessoas não concordavamcom ela, ela não atendia as necessidades das pessoas. A racionalidade técnicainterferia nos arranjos sociais que o grupo já havia feito. Ela desarranjava oequilíbrio que já estava construído socialmente. (E/OP/NE)Estes desarranjos implicavam em, por exemplo, perda de poder de algumas pessoas econseqüentemente, segundo o entrevistado, ela foi rejeitada. A manifestação clara dessarejeição foi a derrota nas eleições.Embora o nosso grupo, ao longo de quatro anos tenha acreditado que tinhatransformado a administração da prefeitura, que a prefeitura era mais técnica, queoferecia melhores serviços e que eles eram mais universais. E em termos deindicadores realmente melhorou. O SUS tinha na época um sistema de informaçõesque era muito interessante porque trabalhava com a lógica de faturamento. Umalógica perversa por “n” motivos, mas por outro lado, ela obrigava todos osmunicípios a registrarem o que efetivamente ocorria no sistema pra poderemreceber o repasse. E neste sentido obrigou os municípios a construir sistemas deinformações bastante razoáveis. E estes sistemas permitiam avaliação ecomparação de estágios de evolução. E isso inclusive, era utilizado dentro da lógicado próprio sistema pra promoção dos municípios pra estágios mais elevados degestão plena, semiplena, aquela coisa toda. E os indicadores que nós tínhamos, emdiscussão com os técnicos da secretaria do Estado de saúde eram expressivosnaquele momento. Agora, não na percepção da população. A população acreditouque perdeu. Percebeu que perdeu e reagiu a esta concepção não votando no nossogrupo. (E/OP/NE)
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295prevalecer. Então eram sistemas de informações em <strong>saúde</strong> para a <strong>saúde</strong>. Então nofi<strong>na</strong>l prevalecia isso, mas era difícil. Mas tinham características dos indivíduostambém que eram complicadoras dos processos de negociação, não era ape<strong>na</strong>s asdiferenças de origem acadêmica e de percurso profissio<strong>na</strong>l, eram diferenças deordem pessoal, partidária até, muito complicado. (E/OP/NT)Sobre a cultura dos funcionários <strong>da</strong> Secretaria:Mas as nossas maiores dificul<strong>da</strong>des eram com a comuni<strong>da</strong>de local e com ospróprios trabalhadores <strong>da</strong> rede. A combativi<strong>da</strong>de percebi<strong>da</strong> era muito maisrelacio<strong>na</strong><strong>da</strong> a este choque <strong>da</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de técnica com a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de política<strong>da</strong>s populações locais. Eles não aceitavam passivamente [...] Por outro ladotambém experiências que eu tive com funcionários que eu tentei demitir e não pudeme ensi<strong>na</strong>ram que eu tinha que ter muito mais cui<strong>da</strong>do [...] Eles sabiam <strong>da</strong> forçadeles. Não adiantava eu forçar muito a barra em cima dos funcionários porquemuitos deles diziam: “Aqui ninguém é pagão, todo mundo tem padrinho”. E nomomento necessário o padrinho era acio<strong>na</strong>do. Etambém acontecia muito aquelenegócio de reunião que o sujeito diz: “ok, ok, ok” mas aí depois ele continuafazendo tudo como se <strong>na</strong><strong>da</strong> tivesse acontecido [...] (E/OP/NE)O “grande aprendizado” que o levou a afastar-se <strong>da</strong> política:O que eu aprendi muito disso é que a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de técnica não conseguiu, pelomenos <strong>na</strong>quele momento, ser efetiva pras pessoas. As pessoas não concor<strong>da</strong>vamcom ela, ela não atendia as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas. A racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de técnicainterferia nos arranjos sociais que o grupo já havia feito. Ela desarranjava oequilíbrio que já estava construído socialmente. (E/OP/NE)Estes desarranjos implicavam em, por exemplo, per<strong>da</strong> de poder de alg<strong>uma</strong>s pessoas econseqüentemente, segundo o entrevistado, ela foi rejeita<strong>da</strong>. A manifestação clara dessarejeição foi a derrota <strong>na</strong>s eleições.Embora o nosso grupo, ao longo de quatro anos tenha acreditado que tinhatransformado a administração <strong>da</strong> prefeitura, que a prefeitura era mais técnica, queoferecia melhores serviços e que eles eram mais universais. E em termos deindicadores realmente melhorou. O SUS tinha <strong>na</strong> época um sistema de informaçõesque era muito interessante porque trabalhava com a lógica de faturamento. Umalógica perversa por “n” motivos, mas por outro lado, ela obrigava todos osmunicípios a registrarem o que efetivamente ocorria no sistema pra poderemreceber o repasse. E neste sentido obrigou os municípios a construir sistemas deinformações bastante razoáveis. E estes sistemas permitiam avaliação ecomparação de estágios de evolução. E isso inclusive, era utilizado dentro <strong>da</strong> lógicado próprio sistema pra promoção dos municípios pra estágios mais elevados degestão ple<strong>na</strong>, semiple<strong>na</strong>, aquela coisa to<strong>da</strong>. E os indicadores que nós tínhamos, emdiscussão com os técnicos <strong>da</strong> secretaria do Estado de <strong>saúde</strong> eram expressivos<strong>na</strong>quele momento. Agora, não <strong>na</strong> percepção <strong>da</strong> população. A população acreditouque perdeu. Percebeu que perdeu e reagiu a esta concepção não votando no nossogrupo. (E/OP/NE)