Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

pct.capes.gov.br
from pct.capes.gov.br More from this publisher
20.07.2015 Views

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200898realiza todo o processo de produção, com alguma ajuda de trabalhadores não remunerados (oufamiliares). Os volumes, horários e ritmos de produção, e modelos (diseños) são definidos pelomestre-artesão. O acesso aos circuitos de circulação é especializado (via encomenda), realizadopor lojas ou por atravessador, ou ainda para o consumidor direto. Os ateliês de sarapes e detapetes de Teotitlan del Valle, no México, é um exemplo dessa forma social de produção. Algunsmestres de cerâmica figurativa, também conhecidos (as) como bonequeiros (as) no nordeste,centro-oeste e no sudeste brasileiro, poderiam compor esta categoria.A manufatura organiza-se através de uma especializada divisão do trabalho, ondetrabalhadores especialistas em partes do processo produtivo são administrados pelo dono doateliê-empresa – não participante do processo produtivo, mas com ingerência sobre os modelos(diseños). A produção é manual, todavia, alguns instumentos/ferramentas especializadosagilizam os processos e aumentam o volume de produção. As condições de trabalho sãodefinidas pelo administrador e as atividades são divididas em operações parciais e emseqüência, através de uma racionalidade industrial capitalista.Nesta forma de organizar a produção, uma prática comum é a realização de partes doprocesso por artesãos (ãs) independentes em pequenos ateliês domiciliares capitalistas ou porartesãos (ãs) assalariados que possuem um pequeno ateliê domiciliar. Funciona similar a umtipo de terceirização de algumas atividades ou parte da produção. Esta estratégia permite maiorprodução e, conseqüentemente, um estoque de produtos que tem acesso diferenciado aocircuito de comercialização, a saber: os produtos acessam a um circuito de circulação econsumo onde concorrem com os produtos industrializados. As estratégias para participar nestecircuito resumem-se a baixar os preços, quando existem similares industrializados, ou distinguirsetotalmente, na ausência de um similar, e com isso, alcançar maiores preços. Todavia, estasestratégias são ou não exitosas em função do nível de integração do produtor aos circuitos deque participa.Nesta forma de produção, as relações capitalistas de (re)produção estão estabelecidas,a saber: os trabalhadores enfrentam sem mediações os conflitos relacionados às condições detrabalho, as rotinas, as jornadas, a divisão do trabalho, supervisão e aumento do trabalho nãopago. Aqui, o exemplo seriam os grandes ateliês de jóias de prata em Taxco, no México, ouainda as manufaturas de deuses maya em pedras do Estado do México. Sendo seucorrespondente, no Brasil, algumas associações ou grupos de artesãos que participam deprojetos de desenvolvimento regional promovidos pelo Governo Federal ou por agências

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200899privadas ou mistas de desenvolvimento empresarial, ou ,ainda, as indústrias courera do nordestee sul ou as têxteis.Ao utilizar o cruzamento entre aquelas formas de classificação encontradas porNOVELO e a definição construída anteriormente, na forma de parâmetros para pensar aorganização das formas de produção em Florianópolis, é possível classificar os ateliês ouoficinas pesquisados, em uma categoria intermediária ou fronteiriça entre o pequeno ateliêcapitalista e o ateliê de mestre independente encontrados em México. Todavia, comespecificidades e sigularidades significativas, a saber: nos ateliês brasileiros as técnicas deprodução são especializadas de uso geral – a cerâmica. Utilizada para constituir uma indústriageral de uso especializado – a modelagem de cerâmica folclórica.O (a) artesão (ã) e sua família investigados vivem em bairros populares urbanizados, ouseja, acessa os serviços públicos de água, esgoto, luz, transporte público (somente uma artesãnão contava com carro próprio), iluminação pública, escolas, áreas de lazer, posto de saúde,entre outros aspectos básicos de urbanização. Todos possuíam casa própria, independente doateliê e desempenhavam, em grande parte, as atividades de produção-circulação-consumo.Estas eram realizadas, às vezes, com ajuda de alguns trabalhadores, geralmente nãoremunerados (parentes próximos ou aprendizes que, em troca de aperfeiçoamento ou espaço econdições para práticar a modelagem, realizam trabalho não pago).O aprendizado de técnicas e modelos é geralmente especializado, mas nãoexclusivamente, e realizado em oficinas com técnicos especialistas e em escolas de artes ouofícios. Existindo, todavia, o aperfeiçoamento autônomo de técnicas ou a transmisão/troca entreos (as) artesãos (ãs), realizada com menor freqüência. Nestes ateliês, a continuidade doaperfeiçoamento técnico e artístico é um recurso corrente, muitas vezes não assumidopublicamente, e a transmisão geracional tradicional uma idiossincrasia de poucos indivíduos. Asferramentas/equipamentos são de propriedade dos (as) artesãos (ãs), e são desenvolvidas nopróprio ateliê ou compradas em lojas de material para artistas ou de manualidades.O espaço do ateliê é refuncionalizado como cenário onde se realiza a performance do(a) artesão (ã)-artista. Para isso, são criadas múltiplas estratégias narrativas e materiais, muitasvezes sobrepostas e conflitivas, onde se enuncia desde o ateliê do mestre-artesão ao ateliê doartista plástico (como por exemplo, experimentações com murais cerâmicos, cartazes e convitesde exposições colados nas paredes, rádios, móveis antigos convertidos em depósitos, tornosmanuais utilizados como bancada para armazenamento de peças, entre outras estratégias).

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200898realiza todo o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> produção, com alguma ajuda <strong>de</strong> trabalhadores não remunerados (oufamiliares). Os volumes, horários e ritmos <strong>de</strong> produção, e mo<strong>de</strong>los (di<strong>se</strong>ños) são <strong>de</strong>finidos pelomestre-artesão. O acesso aos circuitos <strong>de</strong> circulação é especializado (via encomenda), realizadopor lojas ou por atravessador, ou ainda para o consumidor direto. Os ateliês <strong>de</strong> sarapes e <strong>de</strong>tapetes <strong>de</strong> Teotitlan <strong>de</strong>l Valle, no México, é um exemplo <strong>de</strong>ssa forma social <strong>de</strong> produção. Algunsmestres <strong>de</strong> cerâmica figurativa, também conhecidos (as) como bonequeiros (as) no nor<strong>de</strong>ste,centro-oeste e no su<strong>de</strong>ste brasileiro, po<strong>de</strong>riam compor esta categoria.A manufatura organiza-<strong>se</strong> através <strong>de</strong> uma especializada divisão do trabalho, on<strong>de</strong>trabalhadores especialistas em partes do <strong>processo</strong> produtivo são administrados pelo dono doateliê-empresa – não participante do <strong>processo</strong> produtivo, mas com ingerência <strong>sobre</strong> os mo<strong>de</strong>los(di<strong>se</strong>ños). A produção é manual, todavia, alguns instumentos/ferramentas especializadosagilizam os <strong>processo</strong>s e aumentam o volume <strong>de</strong> produção. As condições <strong>de</strong> trabalho são<strong>de</strong>finidas pelo administrador e as ativida<strong>de</strong>s são divididas em operações parciais e em<strong>se</strong>qüência, através <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> industrial capitalista.Nesta forma <strong>de</strong> organizar a produção, uma prática comum é a realização <strong>de</strong> partes do<strong>processo</strong> por artesãos (ãs) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em pequenos ateliês domiciliares capitalistas ou porartesãos (ãs) assalariados que possuem um pequeno ateliê domiciliar. Funciona similar a umtipo <strong>de</strong> terceirização <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s ou parte da produção. Esta estratégia permite maiorprodução e, con<strong>se</strong>qüentemente, um estoque <strong>de</strong> produtos que tem acesso diferenciado aocircuito <strong>de</strong> comercialização, a saber: os produtos acessam a um circuito <strong>de</strong> circulação econsumo on<strong>de</strong> concorrem com os produtos industrializados. As estratégias para participar nestecircuito resumem-<strong>se</strong> a baixar os preços, quando existem similares industrializados, ou distinguir<strong>se</strong>totalmente, na ausência <strong>de</strong> um similar, e com isso, alcançar maiores preços. Todavia, esta<strong>se</strong>stratégias são ou não exitosas em função do nível <strong>de</strong> integração do produtor aos circuitos <strong>de</strong>que participa.Nesta forma <strong>de</strong> produção, as relações capitalistas <strong>de</strong> (re)produção estão estabelecidas,a saber: os trabalhadores enfrentam <strong>se</strong>m mediações os conflitos relacionados às condições <strong>de</strong>trabalho, as rotinas, as jornadas, a divisão do trabalho, supervisão e aumento do trabalho nãopago. Aqui, o exemplo <strong>se</strong>riam os gran<strong>de</strong>s ateliês <strong>de</strong> jóias <strong>de</strong> prata em Taxco, no México, ouainda as manufaturas <strong>de</strong> <strong>de</strong>u<strong>se</strong>s maya em pedras do Estado do México. Sendo <strong>se</strong>ucorrespon<strong>de</strong>nte, no Brasil, algumas associações ou grupos <strong>de</strong> artesãos que participam <strong>de</strong>projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento regional promovidos pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral ou por agências

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!