20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200895padronizadas <strong>de</strong> interação social; por fim, as diferentes maneiras <strong>de</strong> estar e viver o e no mundocontemporâneo. Um exemplo <strong>de</strong>ste <strong>processo</strong> <strong>de</strong> relacionar-<strong>se</strong> com os objetos <strong>de</strong> forma a utilizáloscomo suporte da experiência humana é narrado por STALLYBRASS da <strong>se</strong>guinte forma:Allon e eu tínhamos <strong>se</strong>mpre trocado roupas, [...]. Quando Allon morreu, Jen me <strong>de</strong>u sua jaqueta<strong>de</strong> bei<strong>se</strong>bol, coisa que parecia bastante apropriada, uma vez que naquela altura eu tinha memudado permanentemente para os Estados Unidos. Mas ela também me <strong>de</strong>u a jaqueta <strong>de</strong> Allonque eu mais havia cobiçado. Ele tinha comprado numa loja <strong>de</strong> objetos usados, perto da estação<strong>de</strong> trem <strong>de</strong> Brighton e <strong>se</strong>u mistério era, e é, bastante fácil <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver. Ela é feita <strong>de</strong> um tecido<strong>de</strong> poliéster com algodão preto e brilhoso e a parte exterior ainda está em bom estado. Mas,interiormente, gran<strong>de</strong> parte do forro está rasgado como <strong>se</strong> tives<strong>se</strong> sido atacado por gatosraivosos. No inteiror, a única coisa que resta da sua antiga glória é o rótulo: ‘Fabricadoexpressamente para o Trundof. Por Di Rossi. Costurado à mão’. Com muita freqüência, tenhome perguntado <strong>se</strong> foi a marca que atraiu Allon, na medida em que ele adorava a moda italiana<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância, mas, muito provavelmente, foi simplesmente o corte da jaqueta.De qualquer forma, essa era a jaqueta que eu estava vestindo quando apre<strong>se</strong>ntava o meutrabalho <strong>sobre</strong> o indivíduo, um trabalho que sob muitos aspectos, era uma tentativa <strong>de</strong> relembrarAllon. Mas, em nenhum momento da escrita <strong>de</strong>s<strong>se</strong> trabalho, a minha invocação foi respondida.Tal como o trabalho, Allon estava morto. Então, à medida em que eu comecei a ler, fui habitadopor sua pre<strong>se</strong>nça, fui tomado por ela. Se eu vestia a jaqueta, Allon me vestia. Ele estava lá nospuimentos do cotovelo, puimentos que no jargão técnico da costura são chamados <strong>de</strong> ‘memória’.Ele estava nas manchas que estavam na parte inferior da jaqueta; ele estava lá no cheiro dasaxilas. Acima <strong>de</strong> tudo, ele estava lá no cheiro 156 .Neste movimento, ou (re)leitura, encaro a mercadoria enquanto texto narrativo (corpo,materialida<strong>de</strong>) das interações sociais e assim como uma entre várias formas <strong>de</strong> materializaçãodas relações (trabalho concreto, biografias pessoais e <strong>de</strong> objetos) existentes fora e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le.Desloco, <strong>de</strong>ssa forma, a relação fantasmagórica entre <strong>se</strong>res humanos e objetos no <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong>enten<strong>de</strong>r a mediação dos objetos não mais como hieróglifos ou disfarces, mas como produto daapropriação <strong>de</strong> homens e mulheres <strong>de</strong> diferentes narrativida<strong>de</strong>s. Isso entendido na forma <strong>de</strong>uma polissêmica linguagem capaz <strong>de</strong> contar como aqueles homens e mulheres (re)produzemsuas vidas nos e através da contínua subjetivação da objetualida<strong>de</strong> das matérias em coisas.A<strong>de</strong>mais, e como STALLYBRASS reivindica, não é o fetichismo que <strong>se</strong> configura comoum problema para o mundo contemporâneo – mesmo porque este é e talvez tenha sido <strong>se</strong>mpreuma das formas que homens e mulheres organizam suas vidas e experiências. Acredito que oquiprocó do capitalismo recente resi<strong>de</strong>, sim, no fetichismo da mercadoria e subjacente outranscen<strong>de</strong>nte a esta (caso <strong>se</strong>ja possível falar <strong>de</strong> transcendência em um olhar <strong>sobre</strong> o156 STALLYBRASS, Peter (2004) op. cit. p. 11-13.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!