20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200891estes grupos, os objetos (mercadorias) eram <strong>de</strong>nsamente significados e nesta ação <strong>de</strong>significação, ritualmente reunidos e entregues ao fogo em tempos e ocasiões específicas. Estaexperiência sacrificial e <strong>se</strong>nsual fazia circular muito mais que a materialida<strong>de</strong> dos objetos ou <strong>se</strong>uvalor enquanto mercadoria, mas as experiências <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e pos<strong>se</strong> que estruturavam aconstituição do <strong>se</strong>lf entre <strong>se</strong>us membros e em relação aos <strong>de</strong> fora do grupo. Nesta estratégia, amercadoria <strong>se</strong>ria novamente significada como objeto, e este preenchido com a relação <strong>de</strong> amor,<strong>de</strong><strong>se</strong>jo, distinção e po<strong>de</strong>r daquele que entrega cerimonialmente ao fogo o valor transcen<strong>de</strong>ntaldos objetos queimados, tal qual um suicídio dionisíaco.O penhor <strong>de</strong> roupas e objetos domésticos, realizado por operários na Inglaterra dos1800, caracterizaria outras <strong>de</strong>stas formas subterrâneas. As lojas <strong>de</strong> penhor inglesas eram, pois,o lugar on<strong>de</strong> os objetos-como-memória eram convertidos em um objeto-como-mercadoria. Comouma <strong>de</strong>scrição, ou registro <strong>de</strong>ste <strong>processo</strong>, po<strong>de</strong>ria listar: o entregar os objetos pessoais, ascoisas <strong>de</strong> casa, as roupas, por fim as marcas <strong>de</strong> distinção pessoais e familiares, ou <strong>se</strong>ja, oobjeto-como-memória preenchido com experiências, passando à sua generalização (inventário),on<strong>de</strong> <strong>se</strong> <strong>de</strong>spe <strong>de</strong>stes objetos toda memória (particularida<strong>de</strong> histórica/biográfica), para então <strong>se</strong>rconvertido novamente em objeto-como-mercadoria, através da instituição <strong>de</strong> <strong>se</strong>u valor <strong>de</strong> troca,o qual permite, por mais uma vez, sua livre circulação e consumo.Esta forma <strong>de</strong> circulação, no entanto, não <strong>se</strong> resumia ao intercâmbiomercadoria/dinheiro, mas estabelecia outras relações sociais – <strong>se</strong>guro que estruturalmenteconflitosas - entre os donos das lojas <strong>de</strong> penhores e os <strong>se</strong>us clientes. Todavia, relações nãonecessariamente capitalistas. O próprio MARX acreditava que a loja <strong>de</strong> penhor, por mais quetenha sido o lugar privilegiado para verificar a eficácia do valor <strong>de</strong> troca abstrato da mercadoria,não po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong>r o ponto <strong>de</strong> partida para verificar o movimento do objeto ao não-objeto. Isso porduas razões, a saber: “a primeira é que o dono da loja <strong>de</strong> penhores é, da perspectiva <strong>de</strong> Marx,um agente do consumo e da re-circulação <strong>de</strong> bens e não da sua produção. A <strong>se</strong>gunda é que,embora na loja <strong>de</strong> penhores vejamos a transformação do objeto em mercadoria, estatransformação particular é uma característica tanto das formas pré-capitalistas quanto dascapitalistas” 147 .Outro exemplo <strong>se</strong>ria a Barter, caracterizada por APPADURAI como “a troca <strong>de</strong> objetospor outro <strong>se</strong>m referência a dinheiro e com maior viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos sociais,147 STALLYBRASS, Peter (2004) O Casaco <strong>de</strong> Marx: roupas, memória, dor. 2ª ed. 1ª reimp. Belo Hoizonte:Autêntica. p. 99. Agra<strong>de</strong>ço a Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro pela indicação <strong>de</strong>ste pequeno ensaio que me ajudoua <strong>de</strong>sdobrar a mim mesmo e a minha percepção das e <strong>sobre</strong> as coisas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!