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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200890“alternativos” lançam, naquela arena, valores, <strong>de</strong><strong>se</strong>jos e práticas sociais da mesma forma nãohegemônicas, “mo<strong>de</strong>rnas” ou mo<strong>de</strong>rnizadas, monetárias e antagônicas em <strong>processo</strong> dinâmico<strong>de</strong> atualização e reconfiguração. Isso como um intento <strong>de</strong> expor que, nesta com-vivência, ocapitalismo, enquanto forma <strong>de</strong> homogenização, é mais vacilante que po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong> esperar.Como exemplo, retomo ao dom maussiano. MAUSS configura no dom a forma <strong>de</strong>enten<strong>de</strong>r as trocas (prestações, contra-prestações e entregas) “não-monetárias”, realizadas noritual do Kula entre os Trombian<strong>de</strong><strong>se</strong>s do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal, narrada na clássica etnografiaconradiana 142 <strong>de</strong> Malinowski <strong>de</strong> início do Século XX 143 . Neste sistema <strong>de</strong> intercâmbios, osobjetos trocados não são “coisas indiferentes” utilizadas ou trocadas por moeda em um circuitoenvolvendo um mercado. Pelo contrário, aqueles objetos possuem nomes, <strong>se</strong>ntidos e trajetóriasbiográficas 144 , que ao circularem trazem consigo e levam para, além <strong>de</strong> si, <strong>de</strong><strong>se</strong>jos, expectativa<strong>se</strong> memórias que constituem a vida <strong>de</strong> homens (e mulheres) envolvidos no circuito <strong>de</strong>circulação 145 .Uma radicalização biográfica <strong>se</strong>ria o Potlach, prática realizada por grupos indígenas(originários) do Oeste dos Estados Unidos da América, também citados por MAUSS 146 . Entre142 Para esta caracterização a respeito da escrita conradiana <strong>de</strong> Malinowski, apoio-me na análi<strong>se</strong> <strong>de</strong> CLIFFORD. Em“A experiência etnográfica”, este autor preten<strong>de</strong> explorar, através <strong>de</strong> uma aproximação, as subjetivida<strong>de</strong>s nas obras<strong>de</strong> Conrad e <strong>de</strong> Malinowski; que nas palavras <strong>de</strong> CLIFFORD eram “duas pessoas ‘<strong>de</strong>slocadas’, as quais estiveramàs voltas, no início do Século XX, com o cosmopolitismo e compu<strong>se</strong>ram suas próprias versões <strong>de</strong> ‘Sobre a verda<strong>de</strong>e a mentira em um <strong>se</strong>ntido cultural’” (p. 104). CLIFFORD comenta que para Malinowski “o nome <strong>de</strong> Conrad era umsímbolo <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong> e sutileza. (Ele o invoca neste <strong>se</strong>ntido no diário <strong>de</strong> campo). Mas Malinowskinão era o Conrad da antropologia. Seu mo<strong>de</strong>lo literário mais direto era certamente James Frazer, e em muito <strong>de</strong> suaprópria escrita ele lembrava Zola – um naturalista apre<strong>se</strong>ntando fatos justamente com uma intensa ‘atmosfera’, suas<strong>de</strong>scrições científico-culturais levando a alegorias humanistas moralmente carregadas” (p. 105). CLIFFORD, James(2002) A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. 2ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora da UFRJ.143 MALINOWSKY, Bronislau (1976) Argonautas do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal: um relato do empreendimento e da aventurados nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Abril Cultural.144 Ao afirmar que os objetos possuem trajetórias biográficas, estou concordando com a perspectiva proposta porKOPYTOFF para enten<strong>de</strong>r a circulação dos objetos. Esta abordagem <strong>se</strong>rá explicitada mais <strong>de</strong>talhadamente emoutro momento; contudo e a modo <strong>de</strong> explicação inicial, é necessário enten<strong>de</strong>r que para este autor: “commoditiesmust be not only produced materially as things, but also culturally marked as being a certain kind of thing. Out of thetotal range of things available in a society, only some of them are consi<strong>de</strong>red appropriate for making as commodities”(p. 64). Assim, em uma possível biografia dos objetos po<strong>de</strong>riam <strong>se</strong>r perguntadas questões similares àquelasrecomendadas para a coleta <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> vida ou narrativas biográficas: “What, sociologicaly, are the biographicalpossibilities inherent in its ‘status’ and in the period and culture, and how are the<strong>se</strong> possibilities realized? Wheredoes the thing come from and who ma<strong>de</strong> it? What has been its career so far, and what are the recognized ’ages’ orperiods in the thing’s life, and what are the cultural markers for them? How does the thing’s u<strong>se</strong> change whith its age,and what happens to it when it reaches the end of its u<strong>se</strong>fulness? (p. 66-67). KOPYTOFF, Igor. In: APPADURAY,Arjun. (ed.) (1986) op. cit.145 Para uma análi<strong>se</strong> mais complexa do Kula, incluindo uma atualização das interpretações realizadas <strong>sobre</strong> estecircuito, ver APPADURAI, Arjun. Introduction: commodities and the politics of value. In: _______ (ed.) (1986) op. cit.146 MAUSS, Marcel (2003) op. cit.

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