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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200877original – a procedência popular <strong>de</strong> formas eruditas – <strong>se</strong>mpre lhe <strong>se</strong>rviu <strong>de</strong> guia: “Do grau <strong>de</strong>aproveitamento <strong>de</strong> material folclórico, mesmo, parecia-lhe possível inferir o grau correspon<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> e o caráter nacional da cultura <strong>de</strong> um povo. Sobre este ponto, aliás, Mário <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> volta com insistência em <strong>se</strong>us escritos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a sua idéia mais cara epropugnando, contra os preconceitos e as suscetibilida<strong>de</strong>s dos ‘letrados’ da terra, peloabrasileiramento da literatura e da música brasileiras, através <strong>de</strong> injeções maciças <strong>de</strong> artepopular” 112 .Todavia, FERNANDES ressalta a contrapelo <strong>de</strong> sua própria ob<strong>se</strong>rvação, que em Mário<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> a distância entre arte popular e arte erudita encontrou sua menor amplitu<strong>de</strong>, eadmite até mesmo <strong>se</strong>r possível pensar em interpenetração e equilíbio notáveis. Mário <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> é, assim. para FERNANDES, o ponto <strong>de</strong> inflexão. Na obra poética daquele folcloristaamador expressavam-<strong>se</strong> com vigor os principios postulados por sua interpretação “qua<strong>se</strong>amorosa” do homem, da cultura popular, do Brasil. Aliás, FERNANDES categoricamente afirma:É óbvio que [Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>] procurava aplicar suas idéias em várias direções, mas parecemeque só como poeta alcançou resultados positivos. Em todas as obras em que tenta aempresa, porém, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> afasta-<strong>se</strong> fielmente do puro retratismo. É o que dá, aliás,força excepcional às suas produções, localizando-as sob es<strong>se</strong> ponto <strong>de</strong> vista. Servir não érecorrer ou reproduzir com fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> acadêmica, mas incorporar e <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver <strong>se</strong>gundo<strong>processo</strong>s <strong>se</strong>mpre novos ou, melhor, dinamicamente renovados pelo próprio viver em comum.Logicamente a razão está com Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, pois trata-<strong>se</strong> da realização da arte erudita enão do <strong>se</strong>u nivelamento à arte popular 113 .Mesmo reafirmando não a diferença, mas a hierarquia entre os dois gestos estéticos,FERNANDES nos permite acessar em Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> mais uma ponte simmeliana, por on<strong>de</strong>é possível cruzar <strong>de</strong> um lado ao outro e, neste ato, misturar tanto formas <strong>de</strong> um lado quanto <strong>de</strong>outro e vice-versa. Na ponte-Mário-<strong>de</strong>-Andra<strong>de</strong>, a arte erudita realiza-<strong>se</strong> na popular e ascamadas populares encontram naquela arte estratégias e dispositivos para objetivações e (re)subjetivações <strong>de</strong> significados e <strong>se</strong>ntidos da vida coletiva. Neste exercício <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> suasproposições, a respeito dos domínios da arte erudita e popular ou <strong>de</strong> uma (im)possível estéticanacional 114 , a obra <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> permite duas preciosas lições, assim apre<strong>se</strong>ntadas porFERNANDES:112 FERNANDES, Florestan (2003) op. cit. p. 168.113 I<strong>de</strong>m. p. 173.

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