Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes
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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200872GOOD ESHELMAN escreve desde dentro da comunidade. Explicita que realmenteesteve lá e por muito tempo. Em função disso, e algumas vezes, arrisca a fundir-se como ascosmologias Nahuas, ou seja, com estas visões do mundo que constroem as práticas e ajudama entender os não mais tão distintos mundos indigena, mestiço, “branco” e neles transitar. Aoassim proceder, às vezes deixa-se levar, arriscando também sua presença enquanto “aquele (a)de fora”, que busca entender e interpretar. Contudo, esse é um dos riscos que acompanha ofenômeno investigado, faz parte dos fluxos que envolvem a pesquisadora, e GOOD ESHELMANsente-se livre para ser solidária e entristecer-se com suas conclusões: “a única saída aberta paraos mazahuas [Nahuas] é integrar-se ao sistema capitalista, o qual os levaria a sua extinçãocomo grupo étnico. Isso modificaria as formas de exploração, todavia não a eliminaria e, emlongo prazo, somente faria mais eficiente o saque das suas relações de produção internas.” 99No entanto, para alcançar este nível de aproximação com os objetos, os sistemastécnicos, seus produtores e os processos sociais e históricos que englobam o artesanato/culturapopular, faz-se necessário percorrer um caminho mais longo. Este inicia, a meu ver, pelaexploração das formas de produção artesanal encontradas no México e sua possível aplicaçãoou transcriação 100 ao contexto brasileiro – caso seja possível -, especialmente em Florianópolis,Estado de Santa Catarina.Este fato me faz crer na necessidade de constituição desta indústria como um objeto deinvestigação privilegiado para a interpretação de questões microsociológicas que povoam ocotidiano de homens e mulheres participantes das camadas populares, e possibilita conhecer asformas subalternas de interação no mundo “moderno” ou modernizado. Mas, para isso, pensoser necessário ter as investigações realizadas no México – utilizadas de várias maneiras e comdiferentes objetivos ideológicos 101 , enquanto testemunhas destes processos e não como99 A citação original, a saber: “(...) la única salida abierta para los mazahuas es integrarse en el modo de producióncapitalista, lo qual los llevaría a su extinción como grupo étnico. Esto cambiaría las formas de explotación, pero no laeliminaria y, a la larga, sólo haría más eficiente el saqueo de sus relaciones de producción internas.” GOODESHELMAN, Catherine (1988) op. cit. p. 235.100 Remeto a Haroldo de Campos e o seu conceito de transcriação. Para Campos, as traduções para um textoliterário, de narrativas orais, ou mesmo textuais, devem passar pelo processo de transcriação, onde a adaptação danarrativa é feita a partir de uma recriação (reescrita livre) do texto pelo tradutor. Ver CAMPOS, Haroldo (1992)Metalinguagens & outras metas. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva. A transcriação de Haroldo de Campos poderia seraproximada, ou transcrita como algo que BAKHTIN chamaria de heteroglossia ou multilinguagem, onde o “tradutor”se abre para a multiplicidade de linguagens simultaneamente textual, intertextual e contextual. Ver BAKHTIN.Mikhail (2005) Problemas da poética de Dostoievisk. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária.
Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200873comparação. Tomo esta perspectiva das investigações mexicanas para ajudar a instrumentalizarminha investigação e não como modelo a seguir.A temática do artesanato/cultura popular naquele contexto foi, e continua sendo,amplamente explorada, desde a década de 1920, através da clássica publicação dos dois tomosde “Las Artes Populares en México”, de Doctor Alt (Gerardo Murillo) e dos textosrevolucionários/nacionalistas, das décadas de 1930 e 1940, de autoria de artistas, como DiegoRivera, e dos pintores muralistas mexicanos. Ou, ainda, nos anos das décadas de 1970 e 1980até os dias atuais, através da pesquisa sócioantropológica e etno-histórica realizada porinvestigadores (as) da Escola Nacional de Antropologia e História do México, ENAH, daUniversidad Nacional Autónoma do México, UNAM e da Universidad Autónoma Metropolitana,UAM 102 .Ademais, o motivo que me impulsiona a tomar aqueles textos mexicanos comoantecessores pode ser resumido no meu alinhamento com a proposição de NOVELO 103 . Estaautora afirma ser na ação de expor das diferentes formas sociais de produção co-existentes emuma sociedade onde a industrialização se configura como a ideologia que ficticiamente impõe osritmos de crescimento (desenvolvimento), desconstruímos a idéia de que o processo capitalista éem si homogêneo e isento de desigualdades. Ou, mais especificamente, que as formas deprodução artesanais são anacronismos ou não têm relação com a realidade em que vivemosrecentemente. Esta perspectiva permite aproximar-nos das distintas formas de produção queestão nas margens e também dentro do processo industrializador capitalista, e ao realizar suaanálise e interpretação, compreender que mesmo a trajetória daquele processo é desigual ecombina distintas formas de produzir, fazer circular e consumir coisas.101Sobre os usos ideológicos da arte popular no México, remeto, especialmente, aos ensaios de MONSIVAR,Carlos. Las artes populares: hacia uma história del canon. p. 15-26; SÁENZ GONZÁLES, Olga. Arte popularmexicano. Cinco siglos. p 29-44; SUÁREZ FARÍAS, Maria Cristina. El arte popular em México, uma visiónetnográfica. p. 77-83; LECHUGA, Ruth. El arte popular mexicano a lo largo del siglo XX. p. 85-94 e AZUELA, Alícia.Lo que la grandeza mexicana debe al arte indígena. p. 97-103. Todos os ensaios em GONZÁLES, Olga Sáens(coord.) (1996) Arte popular mexicano: cinco siglos. Ciudad de México: Antiguo Colegio San Idelfonso. (catálogo deexposição)102 Cito as teses de mestrado e de doutorado e investigações divulgadas em forma de livro, encontradas durantelevantamento nos acervos da Biblioteca do Instituto Nacional de Antropologia e História INAH, localizada no MuseuNacional de Antropologia e História da Cidade do México; na Biblioteca do Museu de Culturas Populares emCoyoaca, na Cidade do México e na Biblioteca Rogerio Casas-Alatriste no Museu Frans Meyer – artes decorativasen México. Tal levantamento formou parte do plano de atividades realizado durante estágio no Prósgrado enCiencias Antropologicas no Setor de Ciencias Sociales y Humanidades da Universidad Autónoma Metropolitana,unidade Iztapalapa UAM-I, sob orientação do Prof. Dr. Néstor Garcia Canclini.103 NOVELO, Victória. In: BEST MAUGARD, Adolfo (org.) (1982), op. cit.
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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200873comparação. Tomo esta perspectiva das investigações mexicanas para ajudar a instrumentalizarminha investigação e não como mo<strong>de</strong>lo a <strong>se</strong>guir.A temática do artesanato/cultura popular naquele contexto foi, e continua <strong>se</strong>ndo,amplamente explorada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1920, através da clássica publicação dos dois tomos<strong>de</strong> “Las Artes Populares en México”, <strong>de</strong> Doctor Alt (Gerardo Murillo) e dos textosrevolucionários/nacionalistas, das décadas <strong>de</strong> 1930 e 1940, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> artistas, como DiegoRivera, e dos pintores muralistas mexicanos. Ou, ainda, nos anos das décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980até os dias atuais, através da pesquisa sócioantropológica e etno-histórica realizada porinvestigadores (as) da Escola Nacional <strong>de</strong> Antropologia e História do México, ENAH, daUniversidad Nacional Autónoma do México, UNAM e da Universidad Autónoma Metropolitana,UAM 102 .A<strong>de</strong>mais, o motivo que me impulsiona a tomar aqueles textos mexicanos comoantecessores po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r resumido no meu alinhamento com a proposição <strong>de</strong> NOVELO 103 . Estaautora afirma <strong>se</strong>r na ação <strong>de</strong> expor das diferentes formas sociais <strong>de</strong> produção co-existentes emuma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a industrialização <strong>se</strong> configura como a i<strong>de</strong>ologia que ficticiamente impõe osritmos <strong>de</strong> crescimento (<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento), <strong>de</strong>sconstruímos a idéia <strong>de</strong> que o <strong>processo</strong> capitalista éem si homogêneo e i<strong>se</strong>nto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Ou, mais especificamente, que as formas <strong>de</strong>produção artesanais são anacronismos ou não têm relação com a realida<strong>de</strong> em que vivemosrecentemente. Esta perspectiva permite aproximar-nos das distintas formas <strong>de</strong> produção queestão nas margens e também <strong>de</strong>ntro do <strong>processo</strong> industrializador capitalista, e ao realizar suaanáli<strong>se</strong> e interpretação, compreen<strong>de</strong>r que mesmo a trajetória daquele <strong>processo</strong> é <strong>de</strong>sigual ecombina distintas formas <strong>de</strong> produzir, fazer circular e consumir coisas.101Sobre os usos i<strong>de</strong>ológicos da arte popular no México, remeto, especialmente, aos ensaios <strong>de</strong> MONSIVAR,Carlos. Las artes populares: hacia uma história <strong>de</strong>l canon. p. 15-26; SÁENZ GONZÁLES, Olga. Arte popularmexicano. Cinco siglos. p 29-44; SUÁREZ FARÍAS, Maria Cristina. El arte popular em México, uma visiónetnográfica. p. 77-83; LECHUGA, Ruth. El arte popular mexicano a lo largo <strong>de</strong>l siglo XX. p. 85-94 e AZUELA, Alícia.Lo que la gran<strong>de</strong>za mexicana <strong>de</strong>be al arte indígena. p. 97-103. Todos os ensaios em GONZÁLES, Olga Sáens(coord.) (1996) Arte popular mexicano: cinco siglos. Ciudad <strong>de</strong> México: Antiguo Colegio San I<strong>de</strong>lfonso. (catálogo <strong>de</strong>exposição)102 Cito as te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> mestrado e <strong>de</strong> doutorado e investigações divulgadas em forma <strong>de</strong> livro, encontradas durantelevantamento nos acervos da Biblioteca do Instituto Nacional <strong>de</strong> Antropologia e História INAH, localizada no Mu<strong>se</strong>uNacional <strong>de</strong> Antropologia e História da Cida<strong>de</strong> do México; na Biblioteca do Mu<strong>se</strong>u <strong>de</strong> Culturas Populares emCoyoaca, na Cida<strong>de</strong> do México e na Biblioteca Rogerio Casas-Alatriste no Mu<strong>se</strong>u Frans Meyer – artes <strong>de</strong>corativa<strong>se</strong>n México. Tal levantamento formou parte do plano <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s realizado durante estágio no Prósgrado enCiencias Antropologicas no Setor <strong>de</strong> Ciencias Sociales y Humanida<strong>de</strong>s da Universidad Autónoma Metropolitana,unida<strong>de</strong> Iztapalapa UAM-I, sob orientação do Prof. Dr. Néstor Garcia Canclini.103 NOVELO, Victória. In: BEST MAUGARD, Adolfo (org.) (1982), op. cit.