Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

pct.capes.gov.br
from pct.capes.gov.br More from this publisher
20.07.2015 Views

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200840entrevistas realizadas, apresentar/caracterizar os (as) entrevistados (as)/personagens 49 (origem;idade; caracterização profissional) e a classificação da entrevista de acordo com as orientaçõesmetodológicas definidas para o preenchimento da ficha que compõe o protocolo de entrevista(apêndice 01).Ao modo de apresentar as questões subjacentes à caracterização das personagensapresentadas ao longo da análise, poderia adiantar que elas – as personagens - são de tiporedondas, ou seja, mais complexas e com uma grande variedade de características, como:físicas, psicológicas, sociais, ideológicas e morais. Com esta complexidade na caracterizaçãopretendo expor os conflitos vivenciados no processo de modernizar-se de forma mais evidentedo que seria possível demonstrar em personagens planas, sejam estas tipológicas oucaricaturas 50 . Minha estratégia de complexificação das personagens tem por objetivo adesconstrução, de algum modo, das imagens clichês associadas a artesãos (ãs), a saber:inocente, rude, primitivo, pré-artísticos, entre outros, para no seu lugar expor a homens emulheres que em determinados contextos e realizando determinados gestos performatizam oaparentemente ancestral.Os (as) artesãos (ãs) entrevistados participam da mesma camada estratificada dasociedade recente: a popular. Apesar de compartilharem condições econômicas similares, seusrepertórios simbólicos são diferenciados (nível de escolaridade, acesso à informação,participação em atividades culturais, entre outros). Esta distinção se processa em função dasatualizações biográficas e das escolhas realizadas por estes (as) atores/atrizes para a realizaçãodesta modificação na sua atuação. Escolhas mediadas principalmente pelos meios massivos,como a televisão e, cada vez mais, a rede mundial de computadores (internet).Os dois últimos itens do quadro, creio ser importante chamar a atenção nestas notasteórico-metodológicas. Isso, por serem: 1. A caracterização profissional anotada conforme o (a)narrador (a) a apresenta ou se identifica no momento da entrevista. Encaro esta notação como49 Utilizo a noção de personagem como uma recriação desta noção utilizada nas análises de textos literários. ParaGRANCHO que expõe os dispositivos utilizados neste tipo de análise, a personagem é “um ser fictício responsávelpelo desempenho do enredo: em outras palavras, é quem faz a ação” (p. 17). A partir desta definição classifico os(as) entrevistados (as) como aqueles que fazem a ação de me contar suas experiências em face do novo cosmosurbano que se constitui a cada momento em centros urbanos “globalizados/mundializados”. Todavia, o conteúdo derealidade ou verdade de cada personagem, recai na negociação que cada um realiza para construir-se herói ou antiheróide sua própria história, dito de outra forma, a personagem (o/a entrevistado/a) é uma invenção (ficção)resultado da interação entre narrador (a) e investigador e seus repertórios de experiências, mediados pelaintencionalidade de cada um em construir uma imagem ou performance do outro. Conferir GRANCHO, CândidaVilares (2006) Como analisar narrativas. São Paulo: Editora Ática. (série princípios, 207).50 Sobre as caracterizações de personagem plana ou redonda ver GRANCHO, Cândida Vilares (2006) op. cit.

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200841importante chave para entender a forma como cada indivíduo se posiciona na arena de disputasou quer ser reconhecido em meio ao grupo do qual faz parte ou com o qual interage. 2.Classificação da entrevista composta pela codificação indicada no procedimento metodológicoutilizado. Como, por exemplo, explicito a notação do código EN: F01 – XX – mês/ano. Onde ENé relativo à entrevista narrativa, F01 número da fita transcrita, i.é., o modo de registro daentrevista (neste caso, fitas magnéticas), seguido das iniciais do (a) entrevistado (a), porexemplo, XX – em dois casos acontecem entrevistas conjuntas, o que é codificado com a inicialde cada entrevistado (a): X&W, e, finalmente, data de realização da entrevista (mês e ano) 51 .Quadro 01 · Caracterização esquemática dos (as) entrevistados (as)Fonte: Sistematização dos Protocolos de Dados PessoaisEntrevistado (a)* Local denascimentoIdade Caracterização profissional Classificação daentrevistaMaricota São José, SC 71 Artesã / professora deartesanatoEN: F01- MM - 09 /2006EN: F02- MM - 10 /2006Olinda Capoeiras, SC 49 Artesã / dona de casa EN: F01- O&P - 09 / 2006Petrolino Uruguaiana, RS 55 Artista / funcionário público /militar retiradoEN: F01- O&P - 09 / 2006Resplendor Itajaí, SC 31 Artesã / Bióloga EN: F01- R&ED - 02 /2006Edwilson Florianópolis, SC 31 Professor de Geografia /artesãoEN: F01- ED - 01 / 2006EN: F02- ED - 05 / 2006* Os nomes dos (as) estrevistados (as) são fictícios, somente as iniciais foram conservadas; isso para manter a indicação nosfragmentos utilizados na análise.Uma observação possível de ser adiantada a partir do quadro de sistematizaçãoapresentado está relacionada à origem dos (as) narradores (as). Ao iniciar a investigação, eutinha como especulação (romântica) a idéia de que todos (as) os (as) artesãos (ãs) de cerâmicafolclórica - ou utilizando uma categoria dos gestores dos espaços de circulação e consumovinculados às iniciativas estatais: do artesanato de referência cultural, eram originários deFlorianópolis, no Estado de Santa Catarina, Brasil. Contudo, ao seguir os (as) narradores (as),partilhar suas memórias e reconstruir suas histórias, verifiquei que em sua maioria, os (as)51 A referência das entrevistas, de onde retirei os fragmentos apresentados no decorrer deste capítulo, serárealizada pela sua classificação, indicada no Quadro 01 · Caracterização esquemática dos (as) entrevistados (as), eexplicitada neste parágrafo.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200840entrevistas realizadas, apre<strong>se</strong>ntar/caracterizar os (as) entrevistados (as)/personagens 49 (origem;ida<strong>de</strong>; caracterização profissional) e a classificação da entrevista <strong>de</strong> acordo com as orientaçõesmetodológicas <strong>de</strong>finidas para o preenchimento da ficha que compõe o protocolo <strong>de</strong> entrevista(apêndice 01).Ao modo <strong>de</strong> apre<strong>se</strong>ntar as questões subjacentes à caracterização das personagensapre<strong>se</strong>ntadas ao longo da análi<strong>se</strong>, po<strong>de</strong>ria adiantar que elas – as personagens - são <strong>de</strong> tiporedondas, ou <strong>se</strong>ja, mais complexas e com uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> características, como:físicas, psicológicas, sociais, i<strong>de</strong>ológicas e morais. Com esta complexida<strong>de</strong> na caracterizaçãopretendo expor os conflitos vivenciados no <strong>processo</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong> <strong>de</strong> forma mais evi<strong>de</strong>ntedo que <strong>se</strong>ria possível <strong>de</strong>monstrar em personagens planas, <strong>se</strong>jam estas tipológicas oucaricaturas 50 . Minha estratégia <strong>de</strong> complexificação das personagens tem por objetivo a<strong>de</strong>sconstrução, <strong>de</strong> algum modo, das imagens clichês associadas a artesãos (ãs), a saber:inocente, ru<strong>de</strong>, primitivo, pré-artísticos, entre outros, para no <strong>se</strong>u lugar expor a homens emulheres que em <strong>de</strong>terminados contextos e realizando <strong>de</strong>terminados gestos performatizam oaparentemente ancestral.Os (as) artesãos (ãs) entrevistados participam da mesma camada estratificada dasocieda<strong>de</strong> recente: a popular. Apesar <strong>de</strong> compartilharem condições econômicas similares, <strong>se</strong>usrepertórios simbólicos são diferenciados (nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, acesso à informação,participação em ativida<strong>de</strong>s culturais, entre outros). Esta distinção <strong>se</strong> processa em função dasatualizações biográficas e das escolhas realizadas por estes (as) atores/atrizes para a realização<strong>de</strong>sta modificação na sua atuação. Escolhas mediadas principalmente pelos meios massivos,como a televisão e, cada vez mais, a re<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong> computadores (internet).Os dois últimos itens do quadro, creio <strong>se</strong>r importante chamar a atenção nestas notasteórico-metodológicas. Isso, por <strong>se</strong>rem: 1. A caracterização profissional anotada conforme o (a)narrador (a) a apre<strong>se</strong>nta ou <strong>se</strong> i<strong>de</strong>ntifica no momento da entrevista. Encaro esta notação como49 Utilizo a noção <strong>de</strong> personagem como uma recriação <strong>de</strong>sta noção utilizada nas análi<strong>se</strong>s <strong>de</strong> textos literários. ParaGRANCHO que expõe os dispositivos utilizados neste tipo <strong>de</strong> análi<strong>se</strong>, a personagem é “um <strong>se</strong>r fictício responsávelpelo <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho do enredo: em outras palavras, é quem faz a ação” (p. 17). A partir <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>finição classifico os(as) entrevistados (as) como aqueles que fazem a ação <strong>de</strong> me contar suas experiências em face do novo cosmosurbano que <strong>se</strong> constitui a cada momento em centros urbanos “globalizados/mundializados”. Todavia, o conteúdo <strong>de</strong>realida<strong>de</strong> ou verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada personagem, recai na negociação que cada um realiza para construir-<strong>se</strong> herói ou antiherói<strong>de</strong> sua própria história, dito <strong>de</strong> outra forma, a personagem (o/a entrevistado/a) é uma invenção (ficção)resultado da interação entre narrador (a) e investigador e <strong>se</strong>us repertórios <strong>de</strong> experiências, mediados pelaintencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um em construir uma imagem ou performance do outro. Conferir GRANCHO, CândidaVilares (2006) Como analisar narrativas. São Paulo: Editora Ática. (série princípios, 207).50 Sobre as caracterizações <strong>de</strong> personagem plana ou redonda ver GRANCHO, Cândida Vilares (2006) op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!