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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200833refletir – teorizar -, interpretar e dar or<strong>de</strong>m e <strong>se</strong>ntido à sua vida e em con<strong>se</strong>qüência, à vidasocial 35 .Junto a estas premissas estruturantes do método <strong>de</strong> abordagem, é imprescindível, aotratar <strong>de</strong> narrativas ou relatos biográficos, acercar-<strong>se</strong> das perspectivas da História Oral.Encarada como mais uma mediação teórica que ajuda a enten<strong>de</strong>r e interpretar as filigranas queconectam a enunciação narrativa 36 com a memória, ou à memória <strong>de</strong> uma memória. Para isso, énecessário ter em vista que as narrativas coletadas a partir <strong>de</strong> entrevistas extensas, em umprimeiro momento, po<strong>de</strong>m parecer <strong>se</strong>r a materialida<strong>de</strong> da experiência direta dos sujeitos no<strong>de</strong>correr histórico. Todavia, essa aparente “realida<strong>de</strong> histórica” é recordada e montada/editadaao sabor dos <strong>de</strong><strong>se</strong>jos do (a) entrevistado (a), ou <strong>se</strong>ja, o (a) narrador (a) escolhe o que dizer ecomo dizer, <strong>de</strong>fine a <strong>se</strong>qüência dos acontecimentos e sua importância. Este procedimentointerno do (a) narrador (a) revela, por outro lado, uma experiência mediada profundamente pelotempo, pela cultura e pela reflexão 37 .A memória, pois, torna-<strong>se</strong> uma armadilha carinhosa. Recordar é nada menos queescolher e organizar a experiência vivida. Es<strong>se</strong> tecer lembranças é entremeado pelos silêncios eesquecimentos voluntários ou não, e, por isso, é <strong>se</strong>mpre uma versão dos fatos. Este campo <strong>de</strong>ação da memória, materializado na narrativa, permite a contínua negociação das percepções <strong>de</strong><strong>se</strong>r e estar no mundo e transforma o fato <strong>de</strong> recordar em uma evidência historicamentesignificativa. Sendo assim, não existe mentira nas narrativas produzidas. Visto que toda mentiratem intencionalida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r compreendida, i.é., <strong>de</strong>ve-<strong>se</strong> levar em conta o significado dasalterações, pois é nestes lugares – da alteração, da imprecisão, da mentira e do esquecimento –on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a matéria bruta para a interpretação. São nestas tensões e fraturas existentes nasnarrativas, que são evi<strong>de</strong>nciadas as experiências <strong>de</strong> cada sujeito e, por extensão, <strong>de</strong> algumaforma, do grupo que exerce ou participa das práticas sociais em um tempo e espaço.35 BERGER, Peter; LUCKMAM, Thomas (2006) A Construção Social da Realida<strong>de</strong>. Tratado <strong>de</strong> sociologia doconhecimento. 26ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes; APPEL, Michael (2005) op. cit.; BRIGGS, Charles L. (1986) op. cit.36 Utilizo aqui enunciação narrativa para diferenciar da enunciação argumentativa e da <strong>de</strong>scritiva. Nesta perspectivametodológica e <strong>de</strong> análi<strong>se</strong> privilegia-<strong>se</strong> as reconstruções extensas <strong>de</strong> fatos vividos, ou a enunciação narrativa,entendida como um esquema discursivo privilegiado que fornece material para a interpretação sociológica,antropológica, histórica e lingüística.37 Conferir NECOECHEA GARCIA, Gerardo (2005). Después <strong>de</strong> vivir um siglo. Ensayos <strong>de</strong> historia oral. México D.F.: CONACULTA: INAH; MONTENEGRO, Antônio (2006) Memórias e Metodologias da História Oral: impas<strong>se</strong>s eperspectivas. Notas pessoais da aula magna do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em História da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Santa Catarina UFSC. 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006. Florianópolis, Santa Catarina; MEIHY, José Carlos Sebe (2005)Manual <strong>de</strong> História Oral. 5ª ed. São Paulo: Edições Loyola.

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