Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

pct.capes.gov.br
from pct.capes.gov.br More from this publisher
20.07.2015 Views

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200828crítica – em contextos urbanos recentes - caracteriza-se por um (re)exame das tensões queenvolvem os processos de mercantilização e desmercantilização 23 dos objetos nas sociedadescomplexas (multiétnicas ou interculturais 24 , ou estratificadas em classes mais ou menosidentificáveis), suas estéticas múltiplas e expressões artísticas (culturais), assim como suasfunções sociais.Na forma de explicitação de minhas escolhas – estas também políticas -, tomo porinterlocutores os artesãos (ãs) e privilegio suas versões a respeito dos conflitos, tensões queconfiguram as disputas neste esboço de arena. Isso é justificado por três motivações: 1. Optopela versão dos artesãos (ãs) pelo fato destes serem aqueles que vivenciam em suas trajetóriasas fraturas configuradas pelos processos de modernização, no seu desenrolar histórico. 2.Acredito que ao reconstruir os “passos perdidos” destes homens e mulheres, via a reconstruçãode suas narrativas sobre as formas de inserir a si e o seu trabalho, nos circuitos de produçãocircilação-consumorecente, explicito uma versão dos conflitos (individuais e coletivos) existentesnesta arena, assim como as formas de opressão e aquelas de resistência que constituem emsujeitos políticos a artesãos (ãs). 3. Via as narrativas destes sujeitos políticos, acredito explicitaruma voz importante para a compreensão da economia política e simbólica do artesanato/culturapopular, em meio às disputas por uma versão ou narrativa oficial sobre as formas das culturaspopulares recentes.23 As estratégias de mercantilização e desmercantilização serão abordadas de forma mais sitemática na análise quesegue, especialmente no capítulo 3. Remeto à KOPYTOFF, Igor. The cultural biography of things: commoditizationas process. In: APPADURAI, Arjun (1988) The social life of things. Commodities in cultural perspective. Cambridge,USA: Cambridge University Press.24 Com relação a esta noção de Intercultural, devo concordar com GARCIA CANCLINI, que cada vez mais vivemosem contextos urbanos onde a mescla, ou como problematiza este autor os processos de hibridação entre etnias ouculturas, inviabiliza a noção de multicultural, sendo mais coerente falar de interculturalidade como uma categoria deanálise para interpretar as tensões que se apresentam na contemporaneidade. Como exemplo este autor cita amigração transnacional, a arte, ou pós-arte contemporânea, os intercâmbios de estudantes, dentre outros. Remeto aGARCIA CANCLINI, Néstor. (2005) Diferentes, desiguais, desconectados. Rio de Janiero: Editora da Universidadedo Rio de Janeiro. Conferir, ainda, GARCIA CANCLINI, Néstor (2007) De la Diversidade a la Interculturalidade.Notas da conferência proferida na sessão “¿O que puede dicir la antropologia sobre los nuevos conflictosinterculturales?” no marco do Taller-Diálogos: “Conflictos Interculturales” ocorrido no Centro Cultural de España –México, no dia 26 de junho de 2007, Cidade do México (notas pessoais).

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200829Figura 01 · Atores envolvidos nas disputas na arena daEconomia política e simbólica do artesanato/cultura popularEspaços decirculação econsumoEspaços decirculaçãosimbólicaMeios MassivosConsumidoresrazões demercadorazões plásticas/ideológicasrazõesideológicasrazõeseconômicas /plásticaslojas, centrosculturais, outros(promotoresculturais)galerias, museus(marchands,negociadores dearte)Televisão, rádio,cinema(jornalistasespecializados)turistas,colecionadores ,outrosArtesãosOrgãosGovernamentaisONGsAcademiarazões econômicas,plásticas,ideológicasrazões ideológicas/econômicasrazõespolíticas/ideológicasrazões científicas/ideológicasartesãos e artesãsprodutores decerâmica folclórica(modelagem)Secretarias degoverno, Institutosde apoio a indústriae comécio, outrosorganizaçoes dedesenvolvimentoregional,organismos e apoioe aperfeiçoamentoda produção localfolcloristas,sociólogos,antropólogos,economistas,artistas, outrosConstruir e utilizar a definição de fenômeno econômico artesanal torna opacas asnoções de necessidade e de utilidade, , que seriam as bases para uma investigação sob aperspectiva da economia clássica ou neoclássica. Estas noções – necessidade e utilidade - nãodesaparecem, somente não estão determinadas por si mesmas. Nesta outra definição, que tomoe reformulo, qualquer determinação se faz a partir dos consumidores/sujeitos do querer e dosvalores e limites por eles determinados. MAUSS afirma que as noções de necessidade eutilidade pouco ajudam a entender os fenômenos econômicos de forma absoluta, visto que estasnoções são estabelecidas em relação a um tempo e um espaço (também sócio-cultural)determinado, e com a mudança destas variáveis muda o sentido/significado daquelas noções;como exemplo, MAUSS cita a divisão do trabalho.À primeira vista, alerta MAUSS, a divisão do trabalho seria especificamente econômica.Todavia, esta configurar-se-iaia mais como um fenômeno jurídico, religioso e moral, sendo asmudanças ou conservação destes status, no decorrer do processo histórico de um grupo social,conseqüência de alguma reorganização interna, ou influência externa, ao grupo social e suatrajetória histórica. Por exemplo, em algumas sociedades em que somente as mulheres podem

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200829Figura 01 · Atores envolvidos nas disputas na arena daEconomia política e simbólica do artesanato/cultura popularEspaços <strong>de</strong>circulação econsumoEspaços <strong>de</strong>circulaçãosimbólicaMeios MassivosConsumidoresrazões <strong>de</strong>mercadorazões plásticas/i<strong>de</strong>ológicasrazõesi<strong>de</strong>ológicasrazõe<strong>se</strong>conômicas /plásticaslojas, centrosculturais, outros(promotoresculturais)galerias, mu<strong>se</strong>us(marchands,negociadores <strong>de</strong>arte)Televisão, rádio,cinema(jornalista<strong>se</strong>specializados)turistas,colecionadores ,outrosArtesãosOrgãosGovernamentaisONGsAca<strong>de</strong>miarazões econômicas,plásticas,i<strong>de</strong>ológicasrazões i<strong>de</strong>ológicas/econômicasrazõespolíticas/i<strong>de</strong>ológicasrazões científicas/i<strong>de</strong>ológicasartesãos e artesãsprodutores <strong>de</strong>cerâmica folclórica(mo<strong>de</strong>lagem)Secretarias <strong>de</strong>governo, Institutos<strong>de</strong> apoio a indústriae comécio, outrosorganizaçoes <strong>de</strong><strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimentoregional,organismos e apoioe aperfeiçoamentoda produção localfolcloristas,sociólogos,antropólogos,economistas,artistas, outrosConstruir e utilizar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> fenômeno econômico artesanal torna opacas asnoções <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, , que <strong>se</strong>riam as ba<strong>se</strong>s para uma investigação sob aperspectiva da economia clássica ou neoclássica. Estas noções – necessida<strong>de</strong> e utilida<strong>de</strong> - não<strong>de</strong>saparecem, somente não estão <strong>de</strong>terminadas por si mesmas. Nesta outra <strong>de</strong>finição, que tomoe reformulo, qualquer <strong>de</strong>terminação <strong>se</strong> faz a partir dos consumidores/sujeitos do querer e dosvalores e limites por eles <strong>de</strong>terminados. MAUSS afirma que as noções <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> eutilida<strong>de</strong> pouco ajudam a enten<strong>de</strong>r os fenômenos econômicos <strong>de</strong> forma absoluta, visto que estasnoções são estabelecidas em relação a um tempo e um espaço (também sócio-cultural)<strong>de</strong>terminado, e com a mudança <strong>de</strong>stas variáveis muda o <strong>se</strong>ntido/significado daquelas noções;como exemplo, MAUSS cita a divisão do trabalho.À primeira vista, alerta MAUSS, a divisão do trabalho <strong>se</strong>ria especificamente econômica.Todavia, esta configurar-<strong>se</strong>-iaia mais como um fenômeno jurídico, religioso e moral, <strong>se</strong>ndo asmudanças ou con<strong>se</strong>rvação <strong>de</strong>stes status, no <strong>de</strong>correr do <strong>processo</strong> histórico <strong>de</strong> um grupo social,con<strong>se</strong>qüência <strong>de</strong> alguma reorganização interna, ou influência externa, ao grupo social e suatrajetória histórica. Por exemplo, em algumas socieda<strong>de</strong>s em que somente as mulheres po<strong>de</strong>m

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!