Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

pct.capes.gov.br
from pct.capes.gov.br More from this publisher
20.07.2015 Views

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200826(re)localização cultural na sociedade de consumo recente. Para ORTIZ a (re)localização culturaldo consumidor/cidadão coloca as práticas de consumo como instâncias mediadoras elegitimadoras de comportamentos e valores, e os sistemas de objetos industriais como aexpressão da contemporaneidade 18 .Sendo assim, seria estratégico desconstruir o consumo enquanto alienação, e abordá-lo,a partir de agora, como dispositivo que auxilia ao consumidor/cidadão pensar, classificar eordenar o mundo em que vive e asim, participar ativamente na (re)elaboração do que “é próprio”de seus contextos e práticas culturais e sociais e do que “é exterior” ao seu mundo simbólico ematerial 19 . Esta (re)localização do consumidor/cidadão também (re)localiza as formas departicipação na vida política e cultural, questiona as instituições, possibilita novas formas deorganização social e/ou participação cidadã.Em função disso, concordo com STROMBERG, que entende o mercado (massa social,público-clientela ou sujeito do querer), especialmente aquele que valora os bens artesanais, eminteração com as pressões, explorações e descriminações implicadas nas demandas nacionais einternacionais, por um sistema de objetos, originários de uma indústria (cultural) artesanal 20 .Assim como, em interação com as estratégias de participação na sociedade de consumorecente, utilizando/produzindo outros códigos e atribuindo outros sentidos aos diferentessistemas de objetos artesanais. Estes, de forma mais geral, vistos como resultado da vidacoletiva de grupos sociais “atrasados” ou imersos numa coletivização homegeneizadora, ouainda entendidos como uma experiência alternativa ao sobrecarregado de informação mundo doconsumo.A definição do fenômeno econômico artesanal, a partir da caracterização de mercado(consumidor), expõe a necessidade de elencar os atores envolvidos e que influenciam osprocessos de interação social e legitimação de um tipo de participação no circuito produçãocirculação-consumodos objetos artesanais. Apresento uma primeira caracterização destesatores, localizados em uma arena de disputas ideológicas, estéticas, econômicas e históricas18 ORTIZ, Renato (2000) op. cit.19 Sobre a constituição do consumo como uma forma de participação política não-alienada, remeto a GARCIACANCLINI, Nestor (1999) op. cit. Para uma explicação cultural da produção de sentido do mundo, a partir dosobjetos e sua significação pelos homens, ver SAHLINS, Marshall (2003) Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor.20 Para esta especificação do conceito de mercado (consumidor) participante do fenômeno econômico artesanal,dito de outra forma, da economia simbólica do artesanato, remeto a STROMBERG, Gobi (1985) El juego del coyote:platería y arte en Taxco. México: Fundo de Cultura Económica. (Colección Popular - 299).

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200827que marcam a (re)elaboração simbólica e material daqueles objetos e de práticas sociais deprodução-circulação-consumo.Ou seja, configuro a partir desta caracterização o “espaço” onde as disputas entredistintos repertórios políticos e culturais exigem (re)elaborações simbólicas, materiais,produtivas, estéticas e éticas das práticas artesanais recentes. Esta arena converte-se, assim,no “espaço” onde o (a) artesão (ã) negocia com diferentes agentes (artistas, críticos de arte,marchands, agentes governamentais, representantes dos meios massivos, intelectuais, entreoutros atores), às vezes ganhando, mas também perdendo, questões relacionadas com aqualidade plástica das peças, quantidades, preços, temas e tipos de peças a serem produzidas.Estas questões disputadas funcionam como dispositivos, que legitimam e autorizam aparticipação do sistema de objetos artesanais em um tipo de história da arte “ocidental” 21 .Por outro lado, são igualmente negociadas as disputas pela mobilização e organizaçãopolítica, a constituição de identidades ou individualidades autorais ou, ainda, a instituição de sua(des)vinculação ao anonimato e a um tipo de tradição. Uma tradição entendida como dispositivotirânico de ordenamento e estabilidade, que define as formas de fazer e obscurecem as escolhasestéticas individuais.Esta caracterização da arena de disputas, que configuram o fenômeno econômicoartesanal, possibilita entendê-lo ampliado a um campo aqui denominado economia simbólica doartesanato. Na forma de fluxos, ou melhor, de circuitos 22 de trocas em que sua interpretação e21 Sobre a questão relacionada a instituição de Grandes Tradições Artisticas ou mesmo a uma história da arteocidental, estou de acordo com PRICE, e sua caracterização, a saber: “Poderiamos caracterizar o estudoacadêmico da arte como enfocando a vida e a obra de indivíduos específicos e a sucessão histórica de movimentosartísticos distintos. Assim, como a música, a literatura e o teatro, a história das artes visuais é apresentada como ummosaico de contribuições feitas por indivíduos criativos cujos nomes são lembrados, cujas obras sãoindividualizadas e cujas vidas pessoais e relação com um específico período histórico merecem nossa atenção.Igualmente notável é o destaque dado à dimensão histórica no estudo da arte visual; a maioria dos catálogosuniversitários que listam departamentos de música ou literatura comparada trazem a palavra ‘história’ no verbeterelativo à pintura, escultura ou arquitetura. Nossa própria conceituação de arte não pode ser separada de suacronologia histórica; com poucas exceções, o conhecimento abarcado pela rubrica ‘belas artes’ está situado naseqüência temporal de escolas sucessivas, designadas em termos de séculos, e na progressão ordenada de estilose interesses estéticos”. PRICE, Sally (2000) Arte primitiva em centros civilizados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.p.87.22 A referência ainda insegura à noção de circuito no lugar daquela já utilizada pelos estudiosos das teorias daglobalização e do consumo, a saber: fluxo, tem por suporte minha adesão à proposta do Prof. Dr. Emili Prado, daUniversitat Autónoma de Barcelona, Espanha, para quem os fluxos comunicacionais e de consumo entre contextosglobais, estariam estabelecendo circuitos plásticos, todavia mapeáveis (sendo possível inclusive sua cartografia) emlugar da expansão “livre” pensada e problematizada nos já clássicos estudos sobre a globalização e um tipo deconsumo global. Conferir PRADO, Emili (2007) Comunicación entre hispanohablantes: mercados y políticasculturales (España, América Latina y Estados Unidos). Ponencia proferida no marco do Taller-Diálogos: “ConflictosInterculturales” que se deu no Centro Cultural de España – México, nos dias 25 e 26 de junho de 2007, na Cidadedo México (notas pessoais).

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200826(re)localização cultural na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo recente. Para ORTIZ a (re)localização culturaldo consumidor/cidadão coloca as práticas <strong>de</strong> consumo como instâncias mediadoras elegitimadoras <strong>de</strong> comportamentos e valores, e os sistemas <strong>de</strong> objetos industriais como aexpressão da contemporaneida<strong>de</strong> 18 .Sendo assim, <strong>se</strong>ria estratégico <strong>de</strong>sconstruir o consumo enquanto alienação, e abordá-lo,a partir <strong>de</strong> agora, como dispositivo que auxilia ao consumidor/cidadão pensar, classificar eor<strong>de</strong>nar o mundo em que vive e asim, participar ativamente na (re)elaboração do que “é próprio”<strong>de</strong> <strong>se</strong>us contextos e práticas culturais e sociais e do que “é exterior” ao <strong>se</strong>u mundo simbólico ematerial 19 . Esta (re)localização do consumidor/cidadão também (re)localiza as formas <strong>de</strong>participação na vida política e cultural, questiona as instituições, possibilita novas formas <strong>de</strong>organização social e/ou participação cidadã.Em função disso, concordo com STROMBERG, que enten<strong>de</strong> o mercado (massa social,público-clientela ou sujeito do querer), especialmente aquele que valora os bens artesanais, eminteração com as pressões, explorações e <strong>de</strong>scriminações implicadas nas <strong>de</strong>mandas nacionais einternacionais, por um sistema <strong>de</strong> objetos, originários <strong>de</strong> uma indústria (cultural) artesanal 20 .Assim como, em interação com as estratégias <strong>de</strong> participação na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumorecente, utilizando/produzindo outros códigos e atribuindo outros <strong>se</strong>ntidos aos diferentessistemas <strong>de</strong> objetos artesanais. Estes, <strong>de</strong> forma mais geral, vistos como resultado da vidacoletiva <strong>de</strong> grupos sociais “atrasados” ou imersos numa coletivização homegeneizadora, ouainda entendidos como uma experiência alternativa ao <strong>sobre</strong>carregado <strong>de</strong> informação mundo doconsumo.A <strong>de</strong>finição do fenômeno econômico artesanal, a partir da caracterização <strong>de</strong> mercado(consumidor), expõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elencar os atores envolvidos e que influenciam os<strong>processo</strong>s <strong>de</strong> interação social e legitimação <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> participação no circuito produçãocirculação-consumodos objetos artesanais. Apre<strong>se</strong>nto uma primeira caracterização <strong>de</strong>stesatores, localizados em uma arena <strong>de</strong> disputas i<strong>de</strong>ológicas, estéticas, econômicas e históricas18 ORTIZ, Renato (2000) op. cit.19 Sobre a constituição do consumo como uma forma <strong>de</strong> participação política não-alienada, remeto a GARCIACANCLINI, Nestor (1999) op. cit. Para uma explicação cultural da produção <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntido do mundo, a partir dosobjetos e sua significação pelos homens, ver SAHLINS, Marshall (2003) Cultura e Razão Prática. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Jorge Zahar Editor.20 Para esta especificação do conceito <strong>de</strong> mercado (consumidor) participante do fenômeno econômico artesanal,dito <strong>de</strong> outra forma, da economia simbólica do artesanato, remeto a STROMBERG, Gobi (1985) El juego <strong>de</strong>l coyote:platería y arte en Taxco. México: Fundo <strong>de</strong> Cultura Económica. (Colección Popular - 299).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!