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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008251maricota <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor, quanto aquela <strong>de</strong> Dona Maricota, não riem, e <strong>se</strong> o fazem,apenas esboçam um riso contido, reduzido, qua<strong>se</strong> uma <strong>de</strong>formação, um congelar dos nervos emúsculos. Estas maricotas, por não absorverem a ironia que as gerou enquanto personagens,não são absorvidas pelo mundo. Estagnam sua permanência no auto e assim estagnam o tempocarnavalesco. São, por fim, objetos plásticos nas mãos <strong>de</strong> <strong>se</strong>us (suas) autores (as) e naquelas<strong>de</strong> <strong>se</strong>us consumidores. A <strong>de</strong><strong>se</strong>stabilização do “mundo oficial” que a personagem da maricota<strong>de</strong>veria imprimir tanto na performance quanto no conjunto <strong>de</strong> peças que a repre<strong>se</strong>nta, éaplacada pela sua imobilida<strong>de</strong> que gira, mais uma vez gira, e, por fim, volta a girar. Dessamaneira, à maricota-escultura só resta simular o girar, girar e girar em torno <strong>de</strong> <strong>se</strong>u gigantismovazio.A última peça que analiso neste capítulo é a maricota mo<strong>de</strong>lada por Olinda e Petrolino(ficha técnica 26). Esta peça encima o apagamento total da ironia da maricota. Não existe<strong>de</strong>formação, não existe contorcionismo ingênuo, muito menos estaticida<strong>de</strong> monolítica. Estamaricota é escultura dinâmica, qua<strong>se</strong> barroca. A profusão <strong>de</strong> curvas que a configuram são ahipérbole do movimento que a maricota-personagem realiza na performance dramática do auto.Seus cabelos acentuam o dinamismo, os braços <strong>de</strong>spojadamente largados <strong>de</strong><strong>se</strong>nham dinâmica<strong>se</strong>lip<strong>se</strong>s que sobem por <strong>se</strong>u corpo <strong>de</strong> moça jovem e, por mais uma vez, reforçam o dinamismo. Acomposição das cores e padrões, que <strong>de</strong>coram a superfície da peça, “iluminam” e obrigam osolhos vorazmente pas<strong>se</strong>arem por toda a escultura.Todavia, apesar <strong>de</strong> uma efusiva beleza escultórica, <strong>se</strong>guindo (ou per<strong>se</strong>guindo a) umcanôn clássico, nesta peça a ironia da maricota converte-<strong>se</strong> em torpor, ou <strong>se</strong>ja, ela figura o<strong>de</strong>slocamento da cosmovisão carnavalesca popular para, no <strong>se</strong>u lugar, instituir a “beleza”simples da espetacularização do carnaval recente. Anuladas totalmente as inversões, o queresta a esta escultrura é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua expressivida<strong>de</strong> plástica constituir uma estéticapopular que possa participar das <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas e dos circuitos <strong>de</strong> circulaçãosimbólica/cultural, nos mesmos espaços e tempos que as obras <strong>de</strong> arte hegemônicas. Com estamaricota, cessa-<strong>se</strong> a multivocalida<strong>de</strong>, o enunciado ironico é silenciado e, em <strong>se</strong>u lugar, instituídaa completu<strong>de</strong> do corpo clássico. As fronteiras entre o corpo e o mundo, e <strong>de</strong>ste com osdiferentes corpos, a <strong>se</strong>nsualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vastadora e <strong>de</strong>stronadora são rendidas à retomada, porparte dos sistemas <strong>de</strong> objetos artesanais, das imagens clássicas e naturalistas.Dessa forma, a ironia da maricota, enfraquecida pelo trânsito em direção ao mo<strong>de</strong>rnizar<strong>se</strong>,<strong>de</strong>marca igualmente o enfraquecimento da potência política <strong>de</strong>stes objetos. Contudo, ao

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