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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008250<strong>se</strong>u nariz <strong>de</strong>sproporcional, os olhos <strong>se</strong>parados com globos saltando para fora, <strong>se</strong>u olharestrábico e a boca torta fazem com que este rosto <strong>se</strong>ja um esgar, uma careta. Emoldurada poruma cabeleira que parece uma peruca que está prestes a cair, o rosto <strong>de</strong>sta personagem <strong>de</strong>põesua instabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>genera a personagem, a lança ao mundo pré-disposta ao escárnio. Somentesuas sobrancelhas arqueadas conotam certo constrangimento, acenam como interjeição <strong>de</strong>apelo, parecem redimir a curiosa e ex-cêntrica disposição dos <strong>de</strong>mais orgãos.Ela não sorri, está resignada com sua ironia interna, com <strong>se</strong>u gigantismo <strong>de</strong> feira <strong>de</strong>horrores. Seus braços longos <strong>de</strong><strong>se</strong>nham timidamente movimentos <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong>coro moral. Amaricota <strong>de</strong> Dona Maricota é mulher velha, os <strong>se</strong>ios murchos pen<strong>de</strong>ndo por <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> umagrossa faixa rosa, resguardam a feminilida<strong>de</strong> da personagem, uma feminilida<strong>de</strong> que parece damesma forma murcha, <strong>de</strong><strong>se</strong>ngonçada. Não <strong>se</strong> vê nesta escultura nenhuma marca <strong>de</strong> vivacida<strong>de</strong>,<strong>de</strong> alegria; o riso não faz parte <strong>de</strong> sua coisida<strong>de</strong>. Esta maricota é incapaz <strong>de</strong> produzir-<strong>se</strong> corpoem movimento, ou mesmo <strong>de</strong> produzir outro corpo. Sua estaticida<strong>de</strong> a converte em monolitover<strong>de</strong>. O tempo parou e o que resta a esta personagem é levemente tombar para o lado, natentativa <strong>de</strong> equilibrar o peso <strong>de</strong> uma bolsa. Seu gesto <strong>de</strong> tombar simula um entregar-<strong>se</strong> aoacaso, ao acontecer. Entregar-<strong>se</strong> é o que marca o <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong>sta peça. Por isso, esta maricotanão po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r ironia e, ao não o <strong>se</strong>r, reforça o <strong>de</strong>slocamento da sua ironia original.Tampouco a maricota mo<strong>de</strong>lada por Edwilson e Resplendor possui esta potência irônicaoriginal, aquela que em algum momento da trajetória do auto, permitiu a esta personagemparticipar da performance dramática. Nesta escultura, encontro repre<strong>se</strong>ntado o movimentoexasperado que a performance dramática <strong>de</strong>sta personagem exige: girar. Seus braços enrolam<strong>se</strong>em <strong>se</strong>u corpo, construindo uma estranha figura, mulher e contorcionista <strong>de</strong> circo. Estamaricota expõe-<strong>se</strong> ao riso ingênuo, das brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> criança. Sua flexibilida<strong>de</strong> ressoa naatuação da personagem do auto, que nervosamente entra na roda para esbarrar na assistência ecom <strong>se</strong>u corpo <strong>de</strong>sproporcional e movimentos exasperados, abrir a roda, preparar a função. Omovimento sugerido na escultura cita diretamente um instante em que, totalmente enrolada em<strong>se</strong>us braços, a maricota volta a girar e acertar com suas mãos <strong>de</strong> espuma homens e mulheresque acompanham <strong>se</strong>u girar febril. A peça <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor, diferente daquela <strong>de</strong> DonaMaricota, não é monolito, contudo não alcança (re)apre<strong>se</strong>ntar o <strong>de</strong>stronamento proposto nosumário da brinca<strong>de</strong>ira.A ironia continua a per<strong>de</strong>r sua força, não existe inversão que resista a um corpo <strong>de</strong>finido,on<strong>de</strong> alto e baixo não <strong>de</strong>marcam a jocosida<strong>de</strong>, não <strong>se</strong> abrem para a carnavalização. Tanto a

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