20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008247A linguagem teatral, muito mais próxima do circo, ainda pre<strong>se</strong>nte na performatizaçãodramática das festas populares, ten<strong>de</strong> a tomar partido da linguagem do cinema para justificarsua atualização biográfica. Explicito <strong>de</strong>ssa forma que os meios massivos jogam papel estratégiconas escolhas <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> artesãos (ãs), impulsionando a refuncionalização dos repertóriosnarrativos e performáticos, plásticos e econômicos. Ao modo <strong>de</strong> explicitar este ponto, apoiominha interpretação na análi<strong>se</strong> <strong>de</strong> BENJAMIN 325 <strong>sobre</strong> a obra <strong>de</strong> arte mo<strong>de</strong>rna.BENJAMIN comenta que o teatro pre<strong>se</strong>rva o caráter ilusionista da cena, enquanto nocinema o ilusionismo <strong>se</strong>ria <strong>de</strong> <strong>se</strong>gunda or<strong>de</strong>m, resultado da montagem. Para isso, lança mão <strong>de</strong>algumas metáforas que ajudam a enten<strong>de</strong>r esta mudança na experiência. Uma das maiscontun<strong>de</strong>ntes diz respeito a distância (referente <strong>de</strong> espaço). Enquanto no teatro pre<strong>se</strong>rvar-<strong>se</strong>-ia adistância entre a realida<strong>de</strong> dada e o assistente, garantindo a ilusão, no cinema esta distância (econ<strong>se</strong>qüentemente a ilusão) é dissolvida, e o assistente penetra no que aquele autor chamou <strong>de</strong>víceras da realida<strong>de</strong>. Outra questão ainda relacionada com a distância, todavia vista a partir doresultado <strong>de</strong> sua experiência, tem relação com o tipo <strong>de</strong> imagem que cada meio formula, asaber: no teatro a imagem <strong>se</strong>ria total, enquanto no cinema, construída por fragmentosrecompostos.Sobre esta carta tempo-espacial e imagética, proposta por BENJAMIN, construo meuargumento a respeito do trânsito das performances e objetualida<strong>de</strong>s da cultura popular <strong>de</strong> umaimagem total e ilusória para uma imagem recomposta e “real”. Assim como o cinema, aperformance dramática do boi-<strong>de</strong>-mamão passa a <strong>se</strong>r oferecida como uma experiência em que oponto <strong>de</strong> ob<strong>se</strong>rvação não é mais oferecido pela localização do assistente em relação ao evento.A performance é pensada ao modo <strong>de</strong> uma interpretação feita em uma cena <strong>de</strong> estúdio. Assim,toda a lógica interna da performance é modificada. O que tinha por princípio o círculo (a roda <strong>de</strong>assistência do boi) passa a <strong>se</strong>r enquadrada no Frame; esta mudança <strong>de</strong> uma geografia daassistência explicita mais um dispositivo <strong>de</strong> atualização da performance e, por con<strong>se</strong>guinte, <strong>de</strong>sua objetualida<strong>de</strong>. O frame retira da assistência a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher <strong>se</strong>u lugar (ponto <strong>de</strong>vista) <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> ou distanciamento da imagem. Elimina, ainda, a experiência pessoal <strong>de</strong>interação com os acontecimentos, visto que são eleitos, a priori, quais jogos, encenações,inversões e risadas são legítimas.A assistência, pois, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>se</strong>r parte da performance e passa a <strong>se</strong>r platéia, que exigepenetrar no âmago da realida<strong>de</strong> da narrativa. Igualmente a assistência da brinca<strong>de</strong>ira, o325 BENJAMIN, Walter. A obra <strong>de</strong> arte na era <strong>de</strong> sua reprodutibilida<strong>de</strong> técnica. In: _______ (1994) Magia e técnica,arte e política: ensaios <strong>sobre</strong> literatura e história da cultura. 7ª ed. São Paulo: Brasilien<strong>se</strong> (obras escolhidas. V. 1).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!