20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008243A bernúncia <strong>se</strong>gue o mesmo <strong>processo</strong> <strong>de</strong> subordinação <strong>de</strong> sua performance. Nanarrativa do Boi-<strong>de</strong>-mamão, esta personagem é atualização <strong>se</strong>m começo, <strong>se</strong>ja peloesquecimento da sua historicida<strong>de</strong> ou pelo entrelaçamento <strong>de</strong> sua existência ao cotidiano (aoconhecido) das formas que, no boi, é cantada e contada. “Bicho” ou “não-bicho”, <strong>se</strong>r fantásticoou assombração, a bernúncia é o novo tomado como familiar e, <strong>de</strong>ssa forma, é mito criado(tradição inventada) na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> original (original <strong>de</strong>sta vez, conotado qual ancestral). Suaexistência no auto do boi-<strong>de</strong>-mamão relaciona-<strong>se</strong> com as maneiras que as gentes da Ilhaproduziram para lidar com as superstições (crenças) ligadas ao fantástico e ao extra-natural.Apoiada em formas já existentes, a bernunça é continuida<strong>de</strong> histórica (mítica ou mística)convertida em personagem do auto em Florianópolis. Ela é o resultado da canibalização“mo<strong>de</strong>rnista” do outro. Sua potência para ironizar os estatutos locais a colocaria no mesmopatamar das alegorias pre<strong>se</strong>ntes na obra carnavalesca <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.Em algumas explicações <strong>sobre</strong> sua existência, como aquela <strong>de</strong> SOARES 319 ,apre<strong>se</strong>ntada anteriormente, a bernúncia é uma versão do dragão chinês, noutras como nasnarrativas <strong>de</strong> artesãos (ãs) é memória do bicho papão 320 . Sejam quais forem as micronarrativasque tentam dar conta <strong>de</strong>sta personagem, elas expõem <strong>de</strong> alguma forma a pre<strong>se</strong>nça doincomum, do exterior à “realida<strong>de</strong>” e <strong>de</strong> <strong>se</strong>u manifestar-<strong>se</strong> na “realida<strong>de</strong>” da brinca<strong>de</strong>ira e,con<strong>se</strong>qüentemente, na social. Aliás, esta incerteza <strong>sobre</strong> os inícios <strong>de</strong>sta personagem ou suaassociação a uma mitologia fantástica, somente aguça o interes<strong>se</strong> nos <strong>processo</strong>s <strong>de</strong>atualizações biográficas que as performances dramáticas encontram como legítimas oupossíveis.A bernúncia ou bernunça – assim como a maricota - é signo (marca) da canibalização dacultura do outro e <strong>de</strong> sua subordinação aos sistemas <strong>de</strong> significados e enquadramentos culturaisconstruídos localmente. Esta estratégia é utilizada para tornar legíveis as relações com os outro<strong>se</strong> com o mundo social recente, gerando repre<strong>se</strong>ntações que dão conta das diferenças, ou pelomenos as configuram. Isso afirmo pelo fato <strong>de</strong>sta personagem, tanto em investigações folclóricasquanto na reconstrução <strong>de</strong> narrativas <strong>de</strong> artesãos (ãs) <strong>sobre</strong> as personagens do boi-<strong>de</strong>-mamão,319 SOARES, Doralécio (2002) op. cit.320 Sobre a perspectiva da bernunça atuando como bicho papão, remeto ao <strong>se</strong>guinte trecho da narrativa <strong>de</strong>Resplendor: “(...) a bernunça só tem aqui (...) e aí (...) o personagem particular daqui é a bernunça, que é umpersonagem feito <strong>de</strong> pano assim, que o pessoal vai <strong>de</strong>ntro, assim (...) vai uma fileira <strong>de</strong> três ou quatro pessoas<strong>de</strong>ntro, e o da frente leva a cabeça, vai abrido caminho assim ((simula com as mãos o movimento)), como <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>um bicho papão (...) mais ou menos assim (...)”. EN: F01 – R&ED – 02/2006. Turno 90.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!