20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008242A simulação <strong>de</strong> tecido, que moldura o corpo do boi e tem por função <strong>se</strong>rvir <strong>de</strong> ba<strong>se</strong>,toma meta<strong>de</strong> do corpo da peça, coloniza este <strong>de</strong> forma a imprimir sua pre<strong>se</strong>nça. As cores<strong>de</strong>finitivamente encontram <strong>se</strong>u lugar <strong>de</strong> impressão. A vibrante composição <strong>de</strong> formasgeométricas, que contém padrões florais, funciona como renda elaborada, <strong>sobre</strong>posição <strong>de</strong><strong>de</strong><strong>se</strong>jos, espaços <strong>de</strong> contemplação. Evi<strong>de</strong>nte é que as técnicas e estéticas são profundamente<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvidas e re-inventadas por estes artesãos-artistas.Sobre a dinâmica ba<strong>se</strong>-tecido laranja, o corpo cru levanta-<strong>se</strong> e suporta a pequenacabeça <strong>de</strong> boi, qua<strong>se</strong> inexpressiva, qua<strong>se</strong> acessório; a cabeça <strong>de</strong> boi (diacrítico, que um dianomeou a brinca<strong>de</strong>ira) é cuidadosamente in<strong>se</strong>rida no corpo, como uma colagem <strong>de</strong> elementosdissonantes que buscam por justapor-<strong>se</strong>. Cabeça, corpo, são entida<strong>de</strong>s distintas, autônomasque encenam um novo combate, o da expressivida<strong>de</strong> plástica. A cabeça <strong>de</strong> boi questiona ocorpo rendado, e este, por sua vez, expõe sua pouca relação com aquela. A solda entre cabeçae corpo é marca, resíduo que evi<strong>de</strong>ncia esta dupla negação. Por um lado, a cabeça <strong>de</strong> boi impõesua pre<strong>se</strong>nça, como a forma <strong>de</strong> legitimar a participação do elaborado corpo no conjuntoescultórico que repre<strong>se</strong>nta o boi-<strong>de</strong>-mamão. Por outro, o corpo questiona a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>steacessório, que mais impe<strong>de</strong> que sua elaborada <strong>de</strong>coração colonize a superfície <strong>de</strong> barro.Po<strong>de</strong>ria explicitar que mo<strong>de</strong>lagem e pintura são realizadas por mãos diferentes, e esta tensão,pre<strong>se</strong>nte entre superfície e objetualida<strong>de</strong>, talvez <strong>se</strong>ja o anúncio <strong>de</strong> uma disputa interna entre osartesãos pela autoria.A docilida<strong>de</strong> pre<strong>se</strong>nte na escultura <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor é ampliada, o boi <strong>de</strong>Olinda e Petrolino per<strong>de</strong> até o olhar bovino, <strong>se</strong>us chifres <strong>de</strong>slocados ligeiramente para trásretiram por <strong>de</strong>finitivo do emblema sua agressivida<strong>de</strong>; este é boi-escultura, preten<strong>de</strong>ndo <strong>se</strong>r boiobra-<strong>de</strong>-arte.Toda insinuação <strong>de</strong> <strong>se</strong>nsualida<strong>de</strong> ou jocosida<strong>de</strong> é apagada, recalcada. A esculturapensada como um tipo <strong>de</strong> arte popular é bela, em um <strong>se</strong>ntido clássico do termo. Agrada aos<strong>se</strong>ntidos, não fere os padrões <strong>de</strong> uma estética hegemônica. Todavia, esta escultura não guardaespaço para a ambigüida<strong>de</strong>, traduz-<strong>se</strong> diretamente, é óbvia. Apesar <strong>de</strong> sua rica composição <strong>de</strong>formas, simulações <strong>de</strong> movimentos e cuidado com as texturas, ela limita-<strong>se</strong>, configura <strong>se</strong>u corpoe sua superfície em enunciado monológico, refratário às multiplicida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntidos. O boiescultura<strong>de</strong> Olinda e Petrolino subordina a si próprio na categoria <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> arte 318 .318 Nesta especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> arte, concordo com DANTO, que a obra <strong>se</strong>ria objeto mais significado. Assim<strong>se</strong>ndo, o <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> meu enunciado interpretativo, ao contrário <strong>de</strong> legitimar esta escultura qual obra, localiza suacoisida<strong>de</strong> no âmbito do objeto-mercadoria <strong>de</strong> arte, ou qual objeto econômico que tem valor <strong>de</strong> troca monetária,suportada por critérios como o “gosto”, ou “estilo <strong>de</strong> vida”, ou curiosida<strong>de</strong> exótica, ou ainda como um tipo <strong>de</strong>solidarieda<strong>de</strong> míope com relação aos grupos subalternos. DANTO, Arthur C. (2005) op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!