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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008241Esta escultura é pesada. Resguarda na aparência <strong>de</strong> sua coisida<strong>de</strong> a materialida<strong>de</strong> dobarro. Os volumes que figuram o movimento da ba<strong>se</strong> arrastam dificultosamente a peça paracima. A mesma ba<strong>se</strong> que a liberta da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referente, não permite sua leveza alegórica.O boi <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor é dinamicamente estático, inerte, impossibilitado <strong>de</strong> bumbarpela sua matéria-carne que o empurra <strong>de</strong> volta para baixo. Fica assim explícito este conflitointerno ao corpo da peça, ao mesmo tempo em que realiza o movimento <strong>de</strong> subida, libertando-<strong>se</strong>da animalida<strong>de</strong>, existe uma força oposta que o faz <strong>de</strong>scer, como <strong>se</strong> o <strong>de</strong>scolamento do chãofos<strong>se</strong> gesto qua<strong>se</strong> insuportável. O boi-escultura <strong>de</strong>stes artesãos configura o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> levezaque não está impresso na sua coisida<strong>de</strong>. Seu enunciado é marcado pela insistente pre<strong>se</strong>nça do“qua<strong>se</strong>” na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significador <strong>de</strong> sua existência: qua<strong>se</strong> boi, qua<strong>se</strong> escultura, qua<strong>se</strong> livre,qua<strong>se</strong> preso.De alguma forma, esta escultura expõe o trânsito da ironia carnavalesca, com suasrebuscadas inversões e <strong>de</strong>stronamentos, à espetacularização-teatral do carnaval recente. Oolhar bovino do boi bufão <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor é uma das poucas marcas do que foi o boique bumba. Este olhar domesticado pelas escolhas plásticas funciona como dispositivo que<strong>de</strong>tona emoções ambivalentes: às vezes lembrança do bicho, às vezes <strong>de</strong><strong>se</strong>jo pelo brinquedo.Suas manchas são como vazios que <strong>se</strong> abrem no corpo <strong>de</strong>ste bicho, ocos <strong>de</strong> significados,espaços <strong>de</strong>marcadores <strong>de</strong> ausências, vazios que em outra repre<strong>se</strong>ntação (aquela <strong>de</strong> Olinda ePetrolino) são preenchidos, refuncionalizados. Aqui são apenas manchas que carregam em <strong>se</strong>uslimites, nem marca do natural, tampouco expressivida<strong>de</strong> plástica.A escultura <strong>de</strong> Olinda e Petrolino é aquela que mais <strong>de</strong>nsamente reflete o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong>. Liberto da “opressiva” matéria do barro, a peça remete-<strong>se</strong> a ele mais como umsigno que a legitima no âmbito <strong>de</strong> uma economia política e simbólica do artesanato e menoscomo matéria que lhe dá existência no mundo das coisas. Este boi não é pedra, vira as costasao olhar inexorável da Medusa (permitindo apropriar-me da liberda<strong>de</strong> poética do que uma vezescreveu Calvino), por fim (ou por início) esta escultura entrega-<strong>se</strong> à leveza. A consagração dapersonagem está localizada nesta peça. Não existe mais mime<strong>se</strong>, o boi-bicho é profundamente<strong>de</strong>slocado, e no <strong>se</strong>u lugar é posto o boi-personagem. Deveras não existe mais o combate entre“homem” e “boi”, este foi suprimido em função da plástica dança hipnótica das cores e padrões.Mesmo entre-laçados, homem e boi não alcançam a potência <strong>se</strong>nsual que configurava em umroteiro original a personagem ambivalente e composta: homem-boi.

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