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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008240História Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> 1948 e que atravessou as décadas <strong>se</strong>guintes, <strong>se</strong>ndo utilizado comoconstrução <strong>de</strong> campo teórico <strong>sobre</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte”. Assim tomadocomo signo e repre<strong>se</strong>ntando a este discurso, a superfície <strong>de</strong> barro é marcada com asimpressões do rústico, do “artesanal”, do local, do Mané - por mais conflituosa e obscurecida queesta repre<strong>se</strong>ntação possa <strong>se</strong>r.Seguindo a mesma orientação i<strong>de</strong>ológica, todavia, acessando outros dispositivos <strong>de</strong>configuração <strong>de</strong> sua objetualida<strong>de</strong>, os bois-esculturas <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor (ficha técnica20), Olinda e Petrolino (ficha técnica 19), são repre<strong>se</strong>ntações da performance dramática do boi<strong>de</strong>-mamão.Nestas peças, as marcas <strong>de</strong> uma discursivida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntitária <strong>se</strong> dissolvem no <strong>de</strong><strong>se</strong>jo<strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> no circuito <strong>de</strong> circulação simbólica. Não é mais o boi-bicho figurado no barro,mas uma versão autoral da personagem que dança no auto, que atua sua morte e ressurreição.O boi <strong>de</strong> Edwilson e Resplendor liberta-<strong>se</strong> do naturalismo que pressiona a peça <strong>de</strong> DonaMaricota; ainda é possível perceber a evocação do animal, mas sua abstração é aguda emrelação ao anterior. O boi é <strong>de</strong>scolado do chão, sobe, ganha uma saia movimentada e colorida,cuja tensão, em relação à cabeça da peça, retira <strong>de</strong>sta sua ligação com a natureza. O<strong>de</strong>slocamento ainda é tímido. Isso é possível <strong>se</strong>r percebido apenas no jogo <strong>de</strong> proporções; acabeça que conecta a escultura ao sumário do auto, ainda é prepon<strong>de</strong>rante na composição, masdiferente do boi <strong>de</strong> Dona Maricota, os chifres não <strong>se</strong>rvem mais para significar a animalida<strong>de</strong> dobicho, somente atuam como marcas que i<strong>de</strong>ntificam a personagem, como emblema tema daperformance dramática.O cuidado com a expressão impressa na cara da personagem-escultura é uma dasmarcas da metamorfo<strong>se</strong> do boi-bicho em boi-personagem, realizada por estes artesãos.Expressivida<strong>de</strong> que é configurada em uma mo<strong>de</strong>lagem que parte <strong>de</strong> um gestual amoroso, on<strong>de</strong>as circunferências dos olhos – que dão um caráter bovino ao olhar da escultura - e oarredondamento das orelhas e chifres explicitam <strong>se</strong>r este boi feito para brincar e que <strong>se</strong>u bumbaré carinho, alegria ingênua e festa. A austerida<strong>de</strong> cromática, impressa nas peças <strong>de</strong> DonaMaricota, é rompida com a aplicação <strong>de</strong> cores vibrantes na ba<strong>se</strong>-tecido da peça. Ba<strong>se</strong> que <strong>se</strong>constitui na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcador do <strong>se</strong>ntido da narrativa contida na peça, ou <strong>se</strong>ja, atravésdo estabelecimento da ba<strong>se</strong>-tecido, os autores anunciam: “este é boi <strong>de</strong> brinquedo”. Com estedispositivo plástico-narrativo, a escultura per<strong>de</strong> sua característica <strong>de</strong> versão das coisas <strong>de</strong> um“mundo real”, para assumir o papel <strong>de</strong> alegoria, metáfora.

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