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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008239escultórica com o animal. Tanto este – o animal -, quanto aquela – a (re)apre<strong>se</strong>ntaçãoescultórica - são formas daquilo que chamamos <strong>de</strong> boi, e, assim <strong>se</strong>ndo, ambos – ma<strong>se</strong>specialmente a escultura – são formas legítimas <strong>de</strong> <strong>se</strong>r ambiguamente emblema. Resumindo, écomo <strong>se</strong> esta artesã, através <strong>de</strong> sua gestualida<strong>de</strong> plástica, apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong> mais uma vez o boi daFarra. Aquele que in natura <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta para a brinca<strong>de</strong>ira, e através <strong>de</strong> sua atuação convoca atodos novamente a i<strong>de</strong>ntificar-<strong>se</strong>/diferenciar-<strong>se</strong>, <strong>se</strong>r “homem” ou “boi”, <strong>se</strong>r “nós” e/ou “eles”.A expressivida<strong>de</strong> escultural <strong>de</strong>sta peça (re)localiza um argumento original, talvez porisso sua radicalida<strong>de</strong> na “pre<strong>se</strong>rvação” <strong>de</strong> uma originalida<strong>de</strong> (relativo a uma origemtranscen<strong>de</strong>ntal e não relacionado à especificida<strong>de</strong>), a saber: o discurso da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. O boibicho<strong>de</strong> Dona Maricota narra a construção <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>institucionalizada, construída para <strong>se</strong>rem as marcas que i<strong>de</strong>ntificam os nativos da Ilha. De forma<strong>se</strong>melhante como a relatada por GARCIA CANCLINI 316 , <strong>sobre</strong> o momento em que às culturaspopulares no México, restava somente “escolher” entre os signos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, que os meiosmassivos disponibilizavam para dizer quem eram os mexicanos e qual o valor simbólico/culturale econômico <strong>de</strong> <strong>se</strong>u trabalho. Na Ilha, foram as instituições como a Universida<strong>de</strong>, os órgãospúblicos gestores das políticas culturais, entre outros, aqueles que forneceram os signos, asnarrativas, o acervo <strong>de</strong> imagens e as estratégias <strong>de</strong> divulgação que abriram os caminhos paracolonizar as imaginações das gentes que tinham por propósito falar <strong>de</strong> <strong>se</strong>u lugar, das suasformas <strong>de</strong> viver.Não <strong>se</strong>ndo romântico, a este ponto da análi<strong>se</strong>, pois comungo com HOBSBAWM 317 quetoda invenção <strong>de</strong> tradição apóia-<strong>se</strong> em fragmentos passados, pre<strong>se</strong>ntes e porque não dizerfuturos, <strong>de</strong> outras tradições – e aí acredito que tocamos as mesmas estratégias e interpretamosos mesmos dispositivos -, e que mesmo estas tradições sofrem a inevitável ação dos <strong>processo</strong>shistóricos, econômicos e sociais. Acredito que o boi-bicho-escultura <strong>de</strong> Dona Maricota é<strong>de</strong>poimento objetualizado <strong>de</strong> um <strong>processo</strong> político, que tem <strong>se</strong>u início com o I Congresso <strong>de</strong>316 GARCIA CANCLINI, Néstor (2002) op. cit.317 “Por ‘tradição inventada’ enten<strong>de</strong>-<strong>se</strong> um conjunto <strong>de</strong> práticas, normalmente reguladas por regras tácita ouabertamente aceitas; tais práticas <strong>de</strong> natureza rítual ou simbólica visam involucrar certos valores e normas <strong>de</strong>comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuida<strong>de</strong> em relação ao passado.Aliás, <strong>se</strong>mpre que possível tenta-<strong>se</strong> estabelecer continuida<strong>de</strong> com um passado histórico apropriado (...). O passadohistórico no qual a nova tradição é in<strong>se</strong>rida não precisa <strong>se</strong>r remoto, perdido nas brumas do tempo. (...). Contudo, namedida em que há referência a um passado histórico, as tradições ‘inventadas’ caracterizam-<strong>se</strong> por estabelecercomo ele uma continuida<strong>de</strong> bastante artificial. Em poucas palavras, elas são reações a situações novas que ouassumem a forma <strong>de</strong> referência a situações anteriores, ou estabelecem <strong>se</strong>u próprio passado através da repetiçãoqua<strong>se</strong> que obrigatória” (p. 09-10). HOBSBAWN, Eric. Introdução: A invenção das tradições. In: HOBSBAWN, Eric;RAGER, Terence. (orgs) (2006) A invenção das tradições. 4ª ed. São Paulo: Paz e Terra. pp. 09-23.

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