20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008237emblema, per<strong>de</strong> sua força narrativa; aos poucos, sua agitação é subordinada ao enredo, aoespetáculo. Sua centralida<strong>de</strong> é questionada pelas pressões que envolvem a atualizaçãoespetacular da performance do auto. Neste <strong>processo</strong> <strong>de</strong> atualização da mitologia do boi,“surgem” cucas do sítio do pica-pau amarelo, o espectro zoo-lógico <strong>se</strong> amplia, e girafas, abelha<strong>se</strong> mariposas inva<strong>de</strong>m a roda, que era palco do boi. O carnaval espetacular recente <strong>de</strong>sloca asinversões e <strong>de</strong>stronamentos, enfraquece a cosmovisão carnavalesca, para, no <strong>se</strong>u lugar,integrar danças <strong>de</strong> espadas e locutores <strong>de</strong> ro<strong>de</strong>io, <strong>de</strong>slocando o <strong>se</strong>ntido recreativo e<strong>de</strong>spreocupado do cômico. O boi, e especialmente o combate (personagem e dramatização daFarra), são refuncionalizados ao modo <strong>de</strong> uma obra realista e romântica, espetacularizadanecessariamente.O movimento <strong>de</strong> ex-centralida<strong>de</strong>, configurado no combate, reflete-<strong>se</strong> (ou refrata-<strong>se</strong>) naobjetualização das (re)apre<strong>se</strong>ntações do Boi-<strong>de</strong>-mamão. Mais uma vez, lanço mão <strong>de</strong>stacategoria <strong>de</strong> DANTO 314 para explicitar – na superfície da matéria dos objetos – um <strong>de</strong>slocamentosimilar ao narrado há pouco. Tomo por começo a mo<strong>de</strong>lagem escultórica <strong>de</strong> Dona Maricota(Ficha Técnica 21). Esta peça pre<strong>se</strong>ntifica o boi “bicho”; sua mo<strong>de</strong>lagem tem por referência umtipo <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação naturalista do animal cuja referência localiza-<strong>se</strong> no repertório <strong>de</strong>experiências da artesã. As vivências <strong>de</strong> Dona Maricota, na olaria <strong>de</strong> <strong>se</strong>us pais, num tempo eespaço rural em <strong>processo</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização na primeira meta<strong>de</strong> do século XX, a fazem(con)figurar no barro marcas que (re)apre<strong>se</strong>ntam estes lugares, tempos e gentes. O bicho-boi <strong>de</strong>Dona Maricota é memória metamorfo<strong>se</strong>ada em objeto, a relação com a personagem daperformance dramática resi<strong>de</strong> somente na existência <strong>de</strong> um boi, tanto nesta, quanto no conjunto<strong>de</strong> peças que o repre<strong>se</strong>nta.O oco configurado pelo conjunto escultórico <strong>de</strong> Dona Maricota, em meio às coleçõescatalogadas <strong>de</strong> outros artesãos (ãs) que <strong>se</strong> mo<strong>de</strong>rnizam, produz uma fratura nas estratégiasplásticas para in<strong>se</strong>rção <strong>de</strong>stes sistemas <strong>de</strong> objetos artesanais no circuito <strong>de</strong> circulaçãosimbólico/cultural; salvo naquele caracterizado como naïf ou ingênuo. Tal fratura expõe que,mesmo participando <strong>de</strong> alguma forma daqueles circuitos culturais/simbólicos, o movimentocaracterizado como tradicionalmente mo<strong>de</strong>rno não alcançou, no âmbito da sua objetualida<strong>de</strong> ou<strong>de</strong> suas estéticas, o a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> gestualida<strong>de</strong>s pre<strong>se</strong>nte nas formas <strong>de</strong> fazer e apren<strong>de</strong>r astécnicas artesanais. Ou <strong>se</strong>ja, acredito que um tipo <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>lagem tradicional” ainda nãocon<strong>se</strong>guiu transmutar em formas plásticas as atualizações técnicas e econômicas, históricas e314 DANTO, Arthur C. (2005) op. cit. Ao modo <strong>de</strong> esclarecimento, DANTO formula as categorias <strong>de</strong> (re)apre<strong>se</strong>ntação para remeter à pre<strong>se</strong>nça, enquanto a repre<strong>se</strong>ntação estaria conectada à aparência, ao aparecimento.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!