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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008236pela fascinante <strong>se</strong>nsualida<strong>de</strong> que envolve o instante <strong>de</strong> combate, do choque, do encontro. Aatuação culmina com o gesto <strong>de</strong> o mateus interromper a luta-dança, arquear os braços e girarvigorosamente <strong>se</strong>u laço no ar e, <strong>de</strong> uma só vez, suspen<strong>de</strong>r o tempo, pren<strong>de</strong>r o pulsante boipelos chifres. Este momento <strong>de</strong>fine a plenitu<strong>de</strong> tempo/espaço, on<strong>de</strong>/quando a personagemcomposta <strong>se</strong> configura, ou <strong>se</strong>ja, unidos pelo fio homem e boi, convertem-<strong>se</strong> alegoricamente noque BASTOS chamou <strong>de</strong> homem-boi.Encerra a cena o arrastar vitorioso, o retirar das vistas o emblema, o sagrar ao silêncio oferoz. Do outro lado (ou do mesmo lado), como <strong>se</strong> tives<strong>se</strong> acordado <strong>de</strong> um sonho ou saído <strong>de</strong>um <strong>de</strong>lírio, a assistência <strong>de</strong><strong>se</strong>nha o esgar <strong>de</strong> horror e prazer, lança gritos e palmas, multiplica, naroda dos assistentes, os comentários <strong>de</strong> admiração a respeito do heroísmo e valentia do mateus.Em meio às gentes da assistência o exagero festivo (marcado na risada frouxa) retorna à cenatensa do combate. Somos, por fim, <strong>de</strong>vorados sinestesicamente, cada <strong>se</strong>ntido é canibalizado e,por mais uma vez, igual ao boi não morremos, nos repetimos e reencarnamos, ou, ainda<strong>se</strong>melhante ao mateus (laçador) somos vitoriosos, imponentes guerreiros domadores davoracida<strong>de</strong> da natureza que insite em nos engolir (<strong>de</strong>vorar). Em sinte<strong>se</strong>, na performance docombate entre homem e boi, somos metamorfo<strong>se</strong>ados em homem-boi e neste movimentointerno <strong>de</strong> nossa própria existência, como afirmou BAKHTIN 313 , voltamos a <strong>se</strong>r e a (re)apre<strong>se</strong>ntara vida.Em algumas repre<strong>se</strong>ntações <strong>de</strong>ste momento do combate, uma investida mal sucedidado mateus ao laçar o boi, <strong>de</strong>tona o silêncio na roda, a tensão <strong>de</strong>forma o rosto da platéia, opróprio brincante convulsiona, enrijece os músculos da face, treme a mão. Momentos <strong>de</strong>frustração, prolongamento <strong>de</strong> instantes on<strong>de</strong> <strong>se</strong>ntimentos ambivalentes tomam a cena: por umlado, pena pelo fracasso do Mateus; por outro, temor pelo bumbar agressivo do boi. Uivos evaias são ouvidos. Contudo, o laçador não <strong>se</strong> ren<strong>de</strong>. Este homem, montado em <strong>se</strong>u cavalo <strong>de</strong>pano (meio boneco meio homem, um “qua<strong>se</strong>” centauro) gira no ar uma e outra vez <strong>se</strong>u laço elança <strong>sobre</strong> o boi sua investida e mesmo que improvisadamente, <strong>se</strong> o laço atinge <strong>se</strong>u alvo, aexplosão da platéia é o sinal <strong>de</strong> que a or<strong>de</strong>m foi mais uma vez (re)estabelecida, que o roteiroretomou sua <strong>se</strong>qüência <strong>de</strong> cenas e que a performance po<strong>de</strong> <strong>se</strong>guir sua dramaticida<strong>de</strong> jocosa.Todavia, nas atualizações que assisti, o frenesi do boi e o combate com o mateus,acontece como uma dança <strong>de</strong>sconcertada, uma agitação sinuosa que tem por função excitar,não mais pelo do medo, mas pelo prazer <strong>de</strong> ver “bicho” e “homem” atuar. O boi, no lugar do313 BAJTIN, Mijail (2005) op.cit.

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