20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008233médico-palhaço ri <strong>de</strong> si mesmo, <strong>de</strong>safia sua própria autorida<strong>de</strong>, manipula <strong>de</strong>sajeitadamente <strong>se</strong>u<strong>se</strong>quipamentos. Seu corpo é uma hipérbole do fracasso da ciência; as fórmulas <strong>de</strong> <strong>se</strong>u gestualsão sinuosas, instáveis; sua gesticulação numa mistura <strong>de</strong> precisão e embriagez, <strong>de</strong>slocam-no.O <strong>de</strong>stronamento da ciência, metaforizada na performance do médico-palhaço me fazrefletir <strong>sobre</strong> as estratégias que as repre<strong>se</strong>ntações dramáticas <strong>de</strong> alguma forma subterrânea,interna à visualida<strong>de</strong> da encenação, ou nas entrelinhas do roteiro da brinca<strong>de</strong>ira resguardam,apesar da atualização, sua confiança na multiplicida<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> saber, viver e estar, ou,então, sua fragmentabilida<strong>de</strong>. Assim, o roteiro encenado “aponta” para esta personagem e expõe<strong>de</strong> um lado a outro do <strong>se</strong>u corpo revestido <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou saber, o <strong>se</strong>u mascaramento, asua incompletu<strong>de</strong>. Como símbolo ou alegoricamente ícone russo, esta personagem apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong>nas atualizações na forma da fadiga, do cansaço e da crítica com relação aos dispositivos eestratégias <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> ciência médica e <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> relação da cultura popular com estaciência. Po<strong>de</strong>ria ousar dizer que esta personagem é o diacrítico <strong>de</strong> crítica social, especialmentepolítica, explicitamente camuflada.Entretanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coerência do roteiro narrativo menos surreal, força a umare-or<strong>de</strong>nação interna na cena e expõe, nas performances recentes, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>se</strong>rção<strong>de</strong> outras (novas) personagens. Ou <strong>se</strong>ja, faz-<strong>se</strong> necessária a pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> outras vozes paracompletar um enunciado que explicita suas lacunas através da atuação do médico-palhaço, e,assim, explicitar a multivocalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um enunciado aparentemente monológico. Outra (nova)voz apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> na forma da bruxa 309 ; esta assumiu o ancestral lugar do (a) benze<strong>de</strong>iro (a). Poroutro lado, po<strong>de</strong>ria dizer que a cena realiza um retorno, qual um <strong>de</strong>ja vu, do roteiro original. Aproposta monológica do médico-palhaço que diagnostica e cura não dá conta do cosmospolifônico carnavalesco popular. Este, interno e constituidor das performances dramáticasburlescas populares, pressiona as atualizações, exigindo <strong>de</strong>stas a necessária continuida<strong>de</strong> dainversão burlesca, do riso disfarçado e da ironia.309 A escolha da bruxa como personagem que repre<strong>se</strong>nta um tipo <strong>de</strong> saber popular e que entra em combate com omédico-palhaço, é questão instigante. A princípio, acredito que esta personagem é retirada <strong>de</strong> um acervo <strong>de</strong> “novas”imaginações da e <strong>sobre</strong> a Ilha. A Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina é divulgada popularmente nos circuitos turísticos como ailha da magia. Acredito que, <strong>de</strong> alguma forma, esta estratégia <strong>de</strong> in<strong>se</strong>rção da Ilha num circuito turístico “ven<strong>de</strong>ndo”este aspecto <strong>de</strong> mistério e misticismo, ou mesmo <strong>de</strong> alternativo a uma experiência mo<strong>de</strong>rna, é entretecido nasatualizações das performances dramáticas do boi. Esta, por sua vez, canibaliza estes discursos e os objetualiza naforma <strong>de</strong> “novas” personagens, cenas e músicas. Todavia, <strong>se</strong>ria necessário enten<strong>de</strong>r os <strong>processo</strong>s históricosrecentes, mapeando as políticas públicas para o turismo, enten<strong>de</strong>ndo <strong>se</strong>u estreito diálogo com aquelas culturais erealizar o cruzamento <strong>de</strong>ste <strong>processo</strong> com as atualizações no sumário das atuações do boi. Acredito que umainvestigação com este propósito po<strong>de</strong>ria ampliar (completar) a caracterização da arena <strong>de</strong> disputas <strong>de</strong> umaeconomia política e simbólica do artesanato/cultura popular.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!