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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008229escultóricas que participam <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> circulação simbólico/cultural e ordinário e que, <strong>de</strong>alguma forma, estabelecem diálogo plástico com as atuações levadas a cabo no período dasfestas do boi <strong>de</strong> Florianópolis, SC.O que interessa neste momento da análi<strong>se</strong> é mapear e interpretar como as atualizaçõesdas narrativas da brinca<strong>de</strong>ira, em face das mudanças (limitação) 304 no sumário <strong>de</strong>scritoanteriormente (<strong>se</strong>jam estas históricas, sociais, econômicas, estéticas e éticas), imprimem na<strong>se</strong>qüência <strong>de</strong> cenas (no roteiro) e, con<strong>se</strong>qüentemente, na superfície das peças (locus <strong>de</strong>narrativas visuais), as disputas por espaços <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação tanto político, quanto expressivo(estéticos). Interessa interpretar, na superfície do corpo das coisas e nas versões das históriasdo boi encenadas em Florianópolis, o <strong>de</strong>slocamento provocado pelo trânsito <strong>de</strong> suas narrativa<strong>se</strong>spetaculares, no sistema <strong>de</strong> objetos artesanais e nas estratégias e dispositivos plásticosutilizados pelos autores para legitimar sua participação nos circuitos <strong>de</strong> circulação culturalrecentes.Pretendo, pois, realizar o <strong>se</strong>guinte movimento, a saber: tomo as apre<strong>se</strong>ntações <strong>de</strong>grupos <strong>de</strong> boi-<strong>de</strong>-mamão, ocorridas no âmbito da 13ª Açor – Festa da Cultura Açoriana, que <strong>se</strong><strong>de</strong>u no período <strong>de</strong> 17 a 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, no Centro Histórico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Laguna,Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil 305 , para, a partir <strong>de</strong>las, explicitar as atualizações na304 O <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> limitação aqui referenciado está relacionado ao par limite vs. limiar. Na sua análi<strong>se</strong> da obra <strong>de</strong>Rabelais, BAKHTIN lança mão <strong>de</strong>ste par <strong>de</strong> categorias para enten<strong>de</strong>r a transposição que <strong>de</strong>screve o carnaval comoforma sincrética. Por limiar este autor russo enten<strong>de</strong> o inacabamento da existência, a oposição ao limite, ou <strong>se</strong>ja, olimiar <strong>se</strong>ria a sustentação da carnavalização interna aos discursos polifônicos. Por outro lado, e em contraste, olimite <strong>se</strong>ria a fixi<strong>de</strong>z e estaticida<strong>de</strong> dos discursos monológicos que teriam no canôn clássico sua configuração.DISCINI, Norma. In: BRAIT, Beth (org.) (2006) op. cit.; BAJITIN, Mijail (2005) op.cit.305 Estas ob<strong>se</strong>rvações fazem partes das notas realizadas no período da festa em Laguna. Esta festa configura-<strong>se</strong>como estratégia institucional <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> homogênea <strong>de</strong> “açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte”. Ela érealizada uma vez por ano, em uma cida<strong>de</strong> diferente a cada edição. É organizada pelo Núcleo <strong>de</strong> EstudosAçorianos da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina e tem por propósito “divulgar” a cultura catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> “ba<strong>se</strong>açoriana”. O projeto da festa é estruturado a partir <strong>de</strong> eixos: culinária; folclore (danças e performances dramáticas);manifestações religiosas (missas festivas, <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras); exposições <strong>de</strong> imagens e artesanato. Neste espaçoinstitucional, a encenação <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> cultura local tem por ba<strong>se</strong> o discurso construído nos anos <strong>de</strong> 1960, jáexposto em outro momento. Acredito que estas ações e agendas (calendários) políticas configurariam importantetema <strong>de</strong> investigação <strong>sobre</strong> os usos <strong>de</strong> categorias como cultura popular, artesanato, <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> hibridação,interculturalida<strong>de</strong>, (re)criação <strong>de</strong> tradições, entre outros que ampliariam a discussão ou configuração da arena <strong>de</strong>disputas que envolvem a economia política e simbólica do artesanato/cultura popular em Santa Catarina. A princípionão acredito na eficácia discursiva e objetual <strong>de</strong>ste discurso i<strong>de</strong>ntitário, após acessar alguns <strong>de</strong> <strong>se</strong>us dispositivoslegitimadores, a saber: monografias, dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s <strong>sobre</strong> o que <strong>se</strong> convencionou sob <strong>de</strong>terminadaperspectiva teórica <strong>de</strong> “açorianida<strong>de</strong>”, a criação do calendário institucional que divulga este discurso, as políticaspúblicas e culturais para criação <strong>de</strong> uma memória “coletiva” e positivação <strong>de</strong>ste discurso i<strong>de</strong>ntitário, especialmenteapoiado na figura do (a) mané da ilha. Reconheço que, <strong>de</strong> alguma forma, estes dispositivos refletem (e refratam) um<strong>de</strong><strong>se</strong>jo por i<strong>de</strong>ntificação/i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na Ilha, mas esta não é nem homogênea e livre <strong>de</strong> tensões como apre<strong>se</strong>ntadaatravés <strong>de</strong>stas ações institucionais. Deveras, acredito que a potência que estas estratégias possuem recai no <strong>se</strong>umonologismo, ou <strong>se</strong>ja, na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subordinar as diferentes vozes que participam dos <strong>processo</strong>s <strong>de</strong>

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