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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008227Em Santa Catarina, a brinca<strong>de</strong>ira do boi tem por curiosa <strong>de</strong>nominação “Boi-<strong>de</strong>mamão”298 , cujo mito-narrativo fundador, SOARES explica da <strong>se</strong>guinte forma: “(...) a brinca<strong>de</strong>iraera conhecida como bumba-meu-boi, <strong>de</strong>pois passou a boi-<strong>de</strong>-panos. Mas conta-<strong>se</strong> que certavez, com a pressa <strong>de</strong> <strong>se</strong> fazer a cabeça, foi usado um mamão ver<strong>de</strong>, o que o levou a <strong>de</strong>nominar<strong>se</strong>boi-<strong>de</strong>-mamão. O nome <strong>se</strong> manteve até hoje, embora <strong>se</strong> veja boi com cabeça <strong>de</strong> todos ostipos, até mesmo <strong>de</strong> boi, menos <strong>de</strong> mamão”. O próprio SOARES não atesta a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stahistória originária da brinca<strong>de</strong>ira e anota <strong>se</strong>guido a esta micronarrativa o <strong>se</strong>guinte: “(...) há quemcontrarie esta versão (...)” 299 .Aliás, permitindo-me uma digressão, em meu período em campo pu<strong>de</strong> acessar versões<strong>de</strong>sta narrativa originária on<strong>de</strong> a justificativa para o nome “boi-<strong>de</strong>-mamão” abrangia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um“não <strong>se</strong>i por quê!” até a confirmação (ou reprodução) <strong>de</strong>ste mito fundacional narrado porSOARES. Estas respostas expõem <strong>de</strong> alguma forma as fraturas entre as formas <strong>de</strong> circulaçãodas “tradições populares” e a eficácia das políticas públicas na inscrição <strong>de</strong> memórias “coletivas”e na construção <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local” e “cultura popular” da Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina.Das conversas informais em reuniões entre amigos nativos e resi<strong>de</strong>ntes da Ilha, a gran<strong>de</strong>maioria diz lembrar que, ao utilizar o boi qual brinca<strong>de</strong>ira na infância, era um mamão ver<strong>de</strong> acabeça e um tecido colorido o corpo da armação que dava “vida” ao boi e tentava (re)apre<strong>se</strong>ntaraquele dos bois dramáticos, encenados no ciclo das festas que tinham por período os me<strong>se</strong><strong>se</strong>ntre o natal e o carnaval, esten<strong>de</strong>ndo-<strong>se</strong> até as Festas do Divino 300 .298 Não é minha intenção neste ensaio aprofundar na <strong>de</strong>scrição da brinca<strong>de</strong>ira do Boi-<strong>de</strong>-mamão. Para isso,importantes trabalhos <strong>de</strong> registro e interpretação foram realizados pela então Comissão Nacional do Folcloreatravés dos Boletins do Folclore Brasileiro nos anos das décadas <strong>de</strong> 1950 e 60; na forma <strong>de</strong> monografias,dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina UFSC e pelo Instituto <strong>de</strong> Patrimônio Histórico eArtístico Nacional - IPHAN. Pretendo somente contextualizar a narrativa, indicar suas personagens e tornar legível oscript que subjaz ao conjunto mo<strong>de</strong>lado. Aliás, minha atenção estará voltada apenas às informações que po<strong>de</strong>mcompor o enquadramento da objetualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta brinca<strong>de</strong>ira. Para ampliar as informações <strong>sobre</strong> as manifestaçõesda cultura popular em Santa Catarina, remeto aos Boletins do Folclore; BOITEUX, Lucas Alexandre (1950)Superstições e crendices. Boletim Trimestral da Comissão Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Folclore. Florianópolis, 1 (4), pp. 35-36,jun.; HENRIQUES, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s. (1950) Boi-<strong>de</strong>-mamão. Boletim Trimestral da Comissão Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong>Folclore. Florianópolis, 2 (5), pp. 51-55, <strong>se</strong>t.; PIAZA, Walter F. (1951) Contribuição ao folclore do boi, no Brasil.Boletim Trimestral da Comissão Catarinen<strong>se</strong> do Folclore. Florianópolis, 2 (8), pp. 71-74, jun.; PIAZA, Walter (1953)Aspectos folclóricos catarinen<strong>se</strong>s. Florianópolis, Comissão Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Folclore. 22.; e as ba<strong>se</strong>s <strong>de</strong> dados <strong>sobre</strong>dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s da UFSC.299 As citações transcritas neste parágrafo encontram-<strong>se</strong> em SOARES, Doralécio (2002) op. cit. p. 48.300 “As Festas do Divino Espirito Santo realizam-<strong>se</strong> nos me<strong>se</strong>s <strong>de</strong> maio e junho, <strong>de</strong> acordo com o calendário litúrgicoda Igreja Católica – cinqüenta dias após a Páscoa – e culminam no domingo <strong>de</strong> Pentecostes, quando <strong>se</strong> celebra a<strong>de</strong>scida do Espirito Santo – Terceira Pessoa da Santíssima Trinda<strong>de</strong> – <strong>sobre</strong> os apóstolos”. NUNES, Lélia Pereirada Silva. (2007) Caminhos do Divino – um olhar <strong>sobre</strong> a Festa do Espirito Santo em Santa Catarina. Florianópolis:Insular. p. 22.

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