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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008225Esta percepção parte da crença <strong>de</strong> que o Boi-<strong>de</strong>-mamão ligado à farra do boi 291resguarda sua atuação em outros significados distintos a algum modo <strong>de</strong> manifestação religiosa,como acontece em muitas brinca<strong>de</strong>iras do boi pelo Brasil. Por exemplo, no Maranhão; on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>acordo com CARVALHO, o boi é uma forma <strong>de</strong> oração, um meio (veículo) parachegar/homenagear a São João Batista 292 . Por outro lado, a “simplicida<strong>de</strong>” do boi <strong>de</strong> SantaCatarina <strong>se</strong>guiria a uma lógica das permutações, ou <strong>se</strong>ja, a uma “relativida<strong>de</strong> das verda<strong>de</strong>s paraque <strong>se</strong> <strong>de</strong>finam as <strong>de</strong>gradações próprias a um mundo dado ao revés” 293 . A inversão, pre<strong>se</strong>ntenas “ausências” <strong>de</strong>ste boi, configura a cosmovisão carnavalesca e toma forma no riso (naspiadas <strong>de</strong> conteúdo ambivalente utilizadas para re-elaborar o script original), no grotesco docorpo (especialmente marcado na personagem da maricota, mas não exclusivamente), nosinacabamentos e regenerações (da narrativa como um todo e das personagens, através daslacunas e ocos nas performances), equivalente àquelas estudadas por BAKHTIN na obra <strong>de</strong>Rabelais 294 .Ao realizar este movimento em direção ao corpo e às <strong>de</strong>gradações, ambasconfiguradoras da cultura cômica popular, a dramaticida<strong>de</strong> do boi <strong>de</strong> Santa Catarina, localiza oescárnio, ou a ironia através do cômico. Dessa forma, a “<strong>de</strong>scontração” do boi pre<strong>se</strong>ntifica muitomais uma versão carnavalizada das hierarquias e subordinações, assim como expõe osdispositivos <strong>de</strong> resistências, através <strong>de</strong> um realismo movimentado, <strong>se</strong>nsual, <strong>de</strong>gradado (cômico)e grotesco. Importante chamar a atenção que a noção <strong>de</strong> grotesco, aqui utilizada, diz respeito aoexagero, ao hiperbolismo, à profusão e ao excesso; dito <strong>de</strong> outra forma, o grotesco exprimiria o291 Concordo com BASTOS que o Boi-<strong>de</strong>-mamão é uma performance dramática (e igualmente dionisíaca) da Farrado boi. Assim como a Farra, o boi-<strong>de</strong>-mamão repre<strong>se</strong>nta e pre<strong>se</strong>ntifica “violentamente” a morte, as ambigüida<strong>de</strong>s ehierarquias sociais, entre ouros aspectos da socieda<strong>de</strong> recente. Enquanto na Farra “<strong>de</strong>vora-<strong>se</strong>” ao boi, naperformance dramática “<strong>de</strong>voram-<strong>se</strong>” os <strong>se</strong>ntidos, as imaginações. BASTOS, Rafael José <strong>de</strong> Mene<strong>se</strong>s (org) (1993)Dionísio em Santa Catarina, ensaios <strong>sobre</strong> a Farra do boi. Florianópolis: Editora da UFSC. Ver também LACERDA,Eugênio Pascele. (2003) op. cit. Neste texto, esta hipóte<strong>se</strong> é mais explícita: “(...) o leitor <strong>de</strong>ve ter notado que tentoolhar para a festa [Farras do Boi] como uma manifestação local do “ciclo do boi” brasileiro (...). Tendo no Nor<strong>de</strong>stebrasileiro <strong>se</strong>u núcleo principal <strong>de</strong> irradiação, ‘o boi-que-dança’ vai adquirindo diferenças regionais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> anomenclatura até os aspectos da própria dança, tais como a forma <strong>de</strong> apre<strong>se</strong>ntação do auto, das personagens, dasmúsicas e das cantigas, da indumentária e dos instrumentos. (...) Em Santa Catarina, o rito é conhecido como boi<strong>de</strong>-mamão,ao que tudo indica faz parecer variante do auto nor<strong>de</strong>stino (...). Noto que uma característica <strong>de</strong>s<strong>se</strong>sautos é o comparecimento alegórico do Boi, enquanto que em outras modalida<strong>de</strong>s rituais, como a vaquejadanor<strong>de</strong>stina e a Farra do Boi catarinen<strong>se</strong>, o boi comparece in natura”. p. 44-45.292 CARVALHO, In: BASTOS, Rafael José <strong>de</strong> Menezes (org) (1993) op. cit.293 DISCINI, Norma. Carnavalização. In: BRAIT, Beth (org.) (2006) op. cit. p. 57.294 BAJTIN, Mijail (2005) op. cit.

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