Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008218Outro motivo para a escolha foi a centralidade do conjunto de peças, nas manifestaçõesculturais populares ou institucionais, econômicas e políticas deste contexto urbano. Somado àsua circulação nas atividades culturais estatais em publicações especializadas, enquanto temade meios massivos locais, mas também nas imagens e imaginações que povoam a cidade(pinturas em muros, performances em eventos oficiais e de rua, marcas de restaurantes, muraisem prédios residênciais e outros). Ou, ainda, como discurso identitário plasmado nestamanifestação da cultura popular e em tantas outras formas (contextualizadas oudescontextualizadas) nas quais aparecem as personagens escolhidas.Em função da representatividade e centralidade do boi na vida econômica e culturalbrasileira, identificada desde a época colonial e de grande importância no Nordeste nos séculosXVII e XVIII, no que foi denominado ciclo do gado ou civilização do couro. Do seu registro comoo ícone nacional ou uma metáfora da nacionalidade utilizada em um tipo de literatura sobre asgentes brasileiras por Mário de Andrade, e na investigação folclórica por Câmara Cascudo eoutros intelectuais brasileiros que narraram sobre e investigaram as representações coletivasdeste país 282 . Opto por realizar aqui a interpretação de algumas peças escultóricas que fazemparte do conjunto modelado em argila do “Boi-de-mamão de Florianópolis”.Quadro 06· Lista de Protocolos de Pesquisa para Documentos Iconográficos · PPDIsutilizados na análise apresentada no item 3.2Fonte: lista dos PPDI · Apêndice 03Autor (a) Peça/conjunto ClassificaçãoOlinda e PetrolinoEdwilson e ResplendorMaricotaConjunto do boi-de-mamãoBoi-de-mamãoBernunçaMaricotaConjunto do boi-de-mamãoBoi-de-mamãoBernunçaBernunça (com pernas)MaricotaConjunto do boi-de-mamãoBoi-de-mamãoBernunçaMaricotaPPDI – O&P – 05 - 037 – mai/2007;PPDI – O&P – 05 – 051 – mai/2007;PPDI – O&P – 05 – 052 – mai/2007;PPDI – O&P – 05 – 038 – mai/2007.PPDI – ED&R – 04 – 021 - abr/2007;PPDI – ED&R – 04 – 034 – abr/2007;PPDI – ED&R – 04 – 035 – abr/2007;PPDI – ED&R – 04 – 036 – abr/2007;PPDI – ED&R – 04 - 022 – abr/2007.PPDI – MM – 02 – 001 - abr/2007;PPDI – MM – 02 – 008 – abr/2007;PPDI – MM – 02 – 007 – abr/2007;PPDI – MM – 02 – 013 – abr/2007.282 Para estabelecer estas motivações tomo apoio no texto de CARVALHO, Maria Michol Pinto. O ciclo ritual do Boino Maranhão, sob a ótica da tradição e da modernidade. In: BASTOS, Rafael José de Meneses (org). (1993)Dionísio em Santa Catarina: ensaios sobre a farra do boi. Florianópolis: Editora da UFSC. P. 93-113.

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008219O “ciclo do boi” 283 configura-se como um tempo não cronológico e encontra sua forçamotriz, para o estabelecimento de seu calendário, nas diferentes festas (rituais e ordinárias)associadas ao boi e seu protagonismo qual personagem, metáfora ou emblema. Estasobreposição de tempo/espaço da festas (não-cronológico) em relação a um tempo/espaçoinstitucional (cronológico), expõe a ambivalência entre diferente e cotidiano, entre extra eordinário e é caracterizada pela simultaneidade e continuidade. A re-ordenação tempo-espacialdo “ciclo do boi” estabelece dinâmicas próprias, onde a temporalidade é marcada pelos roteirosalegórico das brincadeiras. Os tempos do boi são “datas místicas” que, de alguma forma,seguem a sobreposição dos tempos de brincadeira e de recolhimento, apóiam as performances,dão tratamento dramático à apresentação das cenas e cenários, funcionam como panoramas oupanorâmicas dos ciclos da vida (individual e social). Assim, “não se morre, se repete, sereencarna, [e,] volta a ser” 284 , para mais uma vez e repetir o ciclo, dar a medida da vida,(re)apresentar 285 a história e a cultura.De acordo com folcloristas que se dedicaram ao mapeamento e registro dasmanifestações do folclore catarinense, como SOARES 286 , a brincadeira do boi tem grandeatrativo popular em Santa Catarina. Esta manifestação configura um circuito de bricadeirasexistente em todo o Brasil, cuja personagem principal é a representação alegórica de um boi,como, por exemplo, o Bumba-meu-boi no Maranhão, boi-bumbá ou boi-de-reis no Amazonas e283 A noção de “ciclo do Boi” é apropriada por mim a partir da reflexão de CARVALHO. Idem.284 Idem. p. 98. A noção de “data mística” também é uma apropriação de CARVALHO. Apesar desta autora nãodetalhar este conceito, acredito contextualmente que este representa uma marcação temporal que tem por baseaspectos performáticos associados à cosmovisão das gentes que participam desta manifestação da cultura popular.Ao tratar de cosmovisões ou visões de mundo, estou de acordo com a Dra. Portal da Universidad AutónomaMetropolitana UAM-I, México, que retoma este conceito antropológico qual chave para ampliar e interpretar aspossibilidades de interações com o outro próximo, nas sociedades abertas ou complexas. Com a revisão desteconceito, ela busca por explorar, discutir e ampliar problemas antes interpretados à luz de propostasteórico/metodológicas no campo da antropologia, que trataram de descartar este conceito como uma chave deentendimento das formas de ver o mundo e a ele organizar e entender. No caminho inverso de um tipo de teoriasocial, criticada pela autora, a noção de cosmovisão possibilitaria interpretar as questões relacionadas com amudança e a transformação das práticas (vivências, entendidas como parciais) sociais, estéticas, históricas,econômicas e políticas, isso por acreditar que numa sociedade existem espaços de significação diferentes, eminteração, por isso as vivências de que fala PORTAL, serem sempre parciais. PORTAL, Maria Ana. (1996) Elconcepto de cosmovisión desde la antropología mexicana contemporánea. In: Inventário Antropológico. Anuário dela Revista Alteridades. Vol. 2. México D.F.: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa.285 Esta inscrição de representação e (re)apresentação encontra seu suporte teórico em DANTO. Para este autor, ostermos se configurariam de duas formas: 1. Qual uma marca da presença de algo ou de seu aparecimento, ou seja,tornar de novo presente; 2. Aparência, i.é., algo que está no lugar de outra coisa. DANTO, Arthur C. (2005) op. cit.286 SOARES, Doralécio. (2002) Folclore Catarinense. Florianópolis: Ed. da UFSC.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008219O “ciclo do boi” 283 configura-<strong>se</strong> como um tempo não cronológico e encontra sua forçamotriz, para o estabelecimento <strong>de</strong> <strong>se</strong>u calendário, nas diferentes festas (rituais e ordinárias)associadas ao boi e <strong>se</strong>u protagonismo qual personagem, metáfora ou emblema. Esta<strong>sobre</strong>posição <strong>de</strong> tempo/espaço da festas (não-cronológico) em relação a um tempo/espaçoinstitucional (cronológico), expõe a ambivalência entre diferente e cotidiano, entre extra eordinário e é caracterizada pela simultaneida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>. A re-or<strong>de</strong>nação tempo-espacialdo “ciclo do boi” estabelece dinâmicas próprias, on<strong>de</strong> a temporalida<strong>de</strong> é marcada pelos roteirosalegórico das brinca<strong>de</strong>iras. Os tempos do boi são “datas místicas” que, <strong>de</strong> alguma forma,<strong>se</strong>guem a <strong>sobre</strong>posição dos tempos <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong> recolhimento, apóiam as performances,dão tratamento dramático à apre<strong>se</strong>ntação das cenas e cenários, funcionam como panoramas oupanorâmicas dos ciclos da vida (individual e social). Assim, “não <strong>se</strong> morre, <strong>se</strong> repete, <strong>se</strong>reencarna, [e,] volta a <strong>se</strong>r” 284 , para mais uma vez e repetir o ciclo, dar a medida da vida,(re)apre<strong>se</strong>ntar 285 a história e a cultura.De acordo com folcloristas que <strong>se</strong> <strong>de</strong>dicaram ao mapeamento e registro dasmanifestações do folclore catarinen<strong>se</strong>, como SOARES 286 , a brinca<strong>de</strong>ira do boi tem gran<strong>de</strong>atrativo popular em Santa Catarina. Esta manifestação configura um circuito <strong>de</strong> brica<strong>de</strong>ira<strong>se</strong>xistente em todo o Brasil, cuja personagem principal é a repre<strong>se</strong>ntação alegórica <strong>de</strong> um boi,como, por exemplo, o Bumba-meu-boi no Maranhão, boi-bumbá ou boi-<strong>de</strong>-reis no Amazonas e283 A noção <strong>de</strong> “ciclo do Boi” é apropriada por mim a partir da reflexão <strong>de</strong> CARVALHO. I<strong>de</strong>m.284 I<strong>de</strong>m. p. 98. A noção <strong>de</strong> “data mística” também é uma apropriação <strong>de</strong> CARVALHO. Apesar <strong>de</strong>sta autora não<strong>de</strong>talhar este conceito, acredito contextualmente que este repre<strong>se</strong>nta uma marcação temporal que tem por ba<strong>se</strong>aspectos performáticos associados à cosmovisão das gentes que participam <strong>de</strong>sta manifestação da cultura popular.Ao tratar <strong>de</strong> cosmovisões ou visões <strong>de</strong> mundo, estou <strong>de</strong> acordo com a Dra. Portal da Universidad AutónomaMetropolitana UAM-I, México, que retoma este conceito antropológico qual chave para ampliar e interpretar aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interações com o outro próximo, nas socieda<strong>de</strong>s abertas ou complexas. Com a revisão <strong>de</strong>steconceito, ela busca por explorar, discutir e ampliar problemas antes interpretados à luz <strong>de</strong> propostasteórico/metodológicas no campo da antropologia, que trataram <strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar este conceito como uma chave <strong>de</strong>entendimento das formas <strong>de</strong> ver o mundo e a ele organizar e enten<strong>de</strong>r. No caminho inverso <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> teoriasocial, criticada pela autora, a noção <strong>de</strong> cosmovisão possibilitaria interpretar as questões relacionadas com amudança e a transformação das práticas (vivências, entendidas como parciais) sociais, estéticas, históricas,econômicas e políticas, isso por acreditar que numa socieda<strong>de</strong> existem espaços <strong>de</strong> significação diferentes, eminteração, por isso as vivências <strong>de</strong> que fala PORTAL, <strong>se</strong>rem <strong>se</strong>mpre parciais. PORTAL, Maria Ana. (1996) Elconcepto <strong>de</strong> cosmovisión <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la antropología mexicana contemporánea. In: Inventário Antropológico. Anuário <strong>de</strong>la Revista Alterida<strong>de</strong>s. Vol. 2. México D.F.: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa.285 Esta inscrição <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação e (re)apre<strong>se</strong>ntação encontra <strong>se</strong>u suporte teórico em DANTO. Para este autor, ostermos <strong>se</strong> configurariam <strong>de</strong> duas formas: 1. Qual uma marca da pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> algo ou <strong>de</strong> <strong>se</strong>u aparecimento, ou <strong>se</strong>ja,tornar <strong>de</strong> novo pre<strong>se</strong>nte; 2. Aparência, i.é., algo que está no lugar <strong>de</strong> outra coisa. DANTO, Arthur C. (2005) op. cit.286 SOARES, Doralécio. (2002) Folclore Catarinen<strong>se</strong>. Florianópolis: Ed. da UFSC.

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