Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes
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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008212ele a morte sorri. Mas seu sorriso não é tranqüilo, mas, sim, tenso, esganiçado, os brancosdentes expostos, o vazio de seus olhos, a cruz marcada em sua testa, marcam a agonia que, porsua vez, não está no condenado. A representação da morte parece ser a projeção dossentimentos do condenado, sua localização e proporção (exatamente às costas daquele) reforçaessa conexão entre as duas personagens.Os guardas, por sua vez, são anônimos e quase autômatos, suas posturasprogramadas, seus gestos mecânicos conferem anonimato a estes dois homens, suas fardas ecapacetes os fazem sumir nas infinitas possibilidades de não-ser. De certo ângulo (o da foto dacapa) as chamas parecem sair de suas cabeças, como chifres vermelhos e amarelos. Poderiaser uma brincadeira que a artesã faz, na forma de uma jocosa piada sobre uma animalidadedestes homens? Ou uma ambigüidade, somente exposta em função do ponto de vista dofotógrafo, que, ao posicionar a lente, escolhe o ângulo que constrói esta microhistória sobre osguardas?Por fim, duas alegorias localizadas simetricamente na composição representam aqueles(as) mortos no atentado: de um lado uma cruz e sepultura estadunidense; de outro uma cruz ebandeira sobre a qual não é possivel identificar uma geografia política (é o outro representado).Estes signos brancos, em meio ao azul, e o negro parecem não-lugares marcados por cruzes, apresença/ausência destas formas brancas parece derreter-se por sobre a base, como gelo quepor alguns momentos encontra a materialidade de sua forma, para logo escoar como água soloadentro. As sepulturas atuam como marca de que toda esta tragédia se dissolverá em face deuma ainda mais grotesca.Todavia, não foi para entender a narrativa possível na superfície desta escultura querealizo este estudo. Minha intenção é expor outras histórias impressas na matéria/pele de outrasesculturas. Contudo, é necessário chamar a atenção para estas possibilidades biográficas queparecem se configurar para os sistemas de objetos artesanais e para artesãos (ãs) a partir dautilização das estratégias disponíveis para modernizar-se. Acredito que este movimento deaproximação do design e da arte hegemônica com o objeto artesanal, que ocorre no México,está ocorrendo em alguns ateliês investigados, alguns com mais eficácia que em outros.Igualmente acredito que esta seria uma das formas pelas quais o sistema de objetos artesanaise as formas sociais de produção artesanal disporiam para atualizar-se e modernizar-se.Contudo, também acredito que o redirecionamemto neste sentido subordina as práticas,técnicas e estéticas, domestica a potência política que estes objetos possuem, obscurece as
Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008213formas de viver e estar no mundo qual participante de uma prática cultural diversa àquelahegemônica. O que quero dizer, é que acredito que o sistema de objetos artesanais deverasnecessita modernizar-se e romper com as cenografias (estético-ético-político-histórico-culturais)de um tipo de imagem estereotipada de “pobreza” (subalternidade). Mas não consigo, ainda,vislumbrar para aonde estas possibilidades biográficas, disponíveis e mapeadas aqui, levariam aestes objetos e seus agentes. O que acredito, é que as versões sobre os acontecimentosmundiais encontram - e encontrarão cada vez mais -, nas narrativas artesanais recentes, outrasmatérias onde ser/serão registrados. A partir da radical atualização de temas e cenografias doquerer, o gesto plástico artesanal pode oferecer mais um depoimento de como foram/são vividosos fluxos e contrafluxos da história e da cultura contemporânea.3.2. Esboço de uma análise: das coisas aos sentidosDenomino esboço à minha escritura por acreditar que esta configura muito mais um ensaio doque uma análise objetiva, classificatória. Entendo e reconheço a importância deste tipo deinvestida teórica (a análise classificatória). Entretanto, ao ter em mente a aproximação queproponho entre crítica de arte, especialmente a escultórica, a estética e minha reflexão sobre oartesanato, tomo o cuidado de caracterizar este esboço como uma busca por formas de olhar(procedimentos analíticos, ferramentas metodológicas, abordagens críticas, teóricas ehistoriográficas) a objetualidade artesanal a partir de sua organização formal e expressiva, seussentidos e processos simbólicos, suas relações/diálogos com outras objetualidades igualmentesubalternas e aquelas hegemônicas.Este cuidado metodológico e teórico tem como objetivo mapear a superfície do barro enela interpretar os processos de representação das sensibilidades e imaginações popularesrecentes. Empresa que um tipo de “análise objetiva” encararia como observação de elementosexteriores às relações sociais, econômicas ou históricas das formas de produção artesanal, oudefiniria como elementos demasiado ordinários, sendo somente objeto das investigaçõescatalográficas sobre as técnicas/tecnologias ou folclóricas.Meu movimento de apreensibilidade dirige-se para a suprefície do corpo das coisas,arranha sua coisidade mesma, para alcançar nesta superfície em tensão os gestos visíveis dos(as) agentes, ou seja, as impressões deixadas por estes sobre suas experiências. Utilizo o termoimpressões por sua ambigüidade semântica. Por um lado, conota gesto de imprimir algo sobre
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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008213formas <strong>de</strong> viver e estar no mundo qual participante <strong>de</strong> uma prática cultural diversa àquelahegemônica. O que quero dizer, é que acredito que o sistema <strong>de</strong> objetos artesanais <strong>de</strong>verasnecessita mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong> e romper com as cenografias (estético-ético-político-histórico-culturais)<strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> imagem estereotipada <strong>de</strong> “pobreza” (subalternida<strong>de</strong>). Mas não consigo, ainda,vislumbrar para aon<strong>de</strong> estas possibilida<strong>de</strong>s biográficas, disponíveis e mapeadas aqui, levariam aestes objetos e <strong>se</strong>us agentes. O que acredito, é que as versões <strong>sobre</strong> os acontecimentosmundiais encontram - e encontrarão cada vez mais -, nas narrativas artesanais recentes, outrasmatérias on<strong>de</strong> <strong>se</strong>r/<strong>se</strong>rão registrados. A partir da radical atualização <strong>de</strong> temas e cenografias doquerer, o gesto plástico artesanal po<strong>de</strong> oferecer mais um <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> como foram/são vividosos fluxos e contrafluxos da história e da cultura contemporânea.3.2. Esboço <strong>de</strong> uma análi<strong>se</strong>: das coisas aos <strong>se</strong>ntidosDenomino esboço à minha escritura por acreditar que esta configura muito mais um ensaio doque uma análi<strong>se</strong> objetiva, classificatória. Entendo e reconheço a importância <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>investida teórica (a análi<strong>se</strong> classificatória). Entretanto, ao ter em mente a aproximação queproponho entre crítica <strong>de</strong> arte, especialmente a escultórica, a estética e minha reflexão <strong>sobre</strong> oartesanato, tomo o cuidado <strong>de</strong> caracterizar este esboço como uma busca por formas <strong>de</strong> olhar(procedimentos analíticos, ferramentas metodológicas, abordagens críticas, teóricas ehistoriográficas) a objetualida<strong>de</strong> artesanal a partir <strong>de</strong> sua organização formal e expressiva, <strong>se</strong>us<strong>se</strong>ntidos e <strong>processo</strong>s simbólicos, suas relações/diálogos com outras objetualida<strong>de</strong>s igualmentesubalternas e aquelas hegemônicas.Este cuidado metodológico e teórico tem como objetivo mapear a superfície do barro enela interpretar os <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação das <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong>s e imaginações popularesrecentes. Empresa que um tipo <strong>de</strong> “análi<strong>se</strong> objetiva” encararia como ob<strong>se</strong>rvação <strong>de</strong> elemento<strong>se</strong>xteriores às relações sociais, econômicas ou históricas das formas <strong>de</strong> produção artesanal, ou<strong>de</strong>finiria como elementos <strong>de</strong>masiado ordinários, <strong>se</strong>ndo somente objeto das investigaçõescatalográficas <strong>sobre</strong> as técnicas/tecnologias ou folclóricas.Meu movimento <strong>de</strong> apreensibilida<strong>de</strong> dirige-<strong>se</strong> para a suprefície do corpo das coisas,arranha sua coisida<strong>de</strong> mesma, para alcançar nesta superfície em tensão os gestos visíveis dos(as) agentes, ou <strong>se</strong>ja, as impressões <strong>de</strong>ixadas por estes <strong>sobre</strong> suas experiências. Utilizo o termoimpressões por sua ambigüida<strong>de</strong> <strong>se</strong>mântica. Por um lado, conota gesto <strong>de</strong> imprimir algo <strong>sobre</strong>