20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008212ele a morte sorri. Mas <strong>se</strong>u sorriso não é tranqüilo, mas, sim, tenso, esganiçado, os brancos<strong>de</strong>ntes expostos, o vazio <strong>de</strong> <strong>se</strong>us olhos, a cruz marcada em sua testa, marcam a agonia que, porsua vez, não está no con<strong>de</strong>nado. A repre<strong>se</strong>ntação da morte parece <strong>se</strong>r a projeção dos<strong>se</strong>ntimentos do con<strong>de</strong>nado, sua localização e proporção (exatamente às costas daquele) reforçaessa conexão entre as duas personagens.Os guardas, por sua vez, são anônimos e qua<strong>se</strong> autômatos, suas posturasprogramadas, <strong>se</strong>us gestos mecânicos conferem anonimato a estes dois homens, suas fardas ecapacetes os fazem sumir nas infinitas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> não-<strong>se</strong>r. De certo ângulo (o da foto dacapa) as chamas parecem sair <strong>de</strong> suas cabeças, como chifres vermelhos e amarelos. Po<strong>de</strong>ria<strong>se</strong>r uma brinca<strong>de</strong>ira que a artesã faz, na forma <strong>de</strong> uma jocosa piada <strong>sobre</strong> uma animalida<strong>de</strong><strong>de</strong>stes homens? Ou uma ambigüida<strong>de</strong>, somente exposta em função do ponto <strong>de</strong> vista dofotógrafo, que, ao posicionar a lente, escolhe o ângulo que constrói esta microhistória <strong>sobre</strong> osguardas?Por fim, duas alegorias localizadas simetricamente na composição repre<strong>se</strong>ntam aqueles(as) mortos no atentado: <strong>de</strong> um lado uma cruz e <strong>se</strong>pultura estaduni<strong>de</strong>n<strong>se</strong>; <strong>de</strong> outro uma cruz eban<strong>de</strong>ira <strong>sobre</strong> a qual não é possivel i<strong>de</strong>ntificar uma geografia política (é o outro repre<strong>se</strong>ntado).Estes signos brancos, em meio ao azul, e o negro parecem não-lugares marcados por cruzes, apre<strong>se</strong>nça/ausência <strong>de</strong>stas formas brancas parece <strong>de</strong>rreter-<strong>se</strong> por <strong>sobre</strong> a ba<strong>se</strong>, como gelo quepor alguns momentos encontra a materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua forma, para logo escoar como água soloa<strong>de</strong>ntro. As <strong>se</strong>pulturas atuam como marca <strong>de</strong> que toda esta tragédia <strong>se</strong> dissolverá em face <strong>de</strong>uma ainda mais grotesca.Todavia, não foi para enten<strong>de</strong>r a narrativa possível na superfície <strong>de</strong>sta escultura querealizo este estudo. Minha intenção é expor outras histórias impressas na matéria/pele <strong>de</strong> outra<strong>se</strong>sculturas. Contudo, é necessário chamar a atenção para estas possibilida<strong>de</strong>s biográficas queparecem <strong>se</strong> configurar para os sistemas <strong>de</strong> objetos artesanais e para artesãos (ãs) a partir dautilização das estratégias disponíveis para mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong>. Acredito que este movimento <strong>de</strong>aproximação do <strong>de</strong>sign e da arte hegemônica com o objeto artesanal, que ocorre no México,está ocorrendo em alguns ateliês investigados, alguns com mais eficácia que em outros.Igualmente acredito que esta <strong>se</strong>ria uma das formas pelas quais o sistema <strong>de</strong> objetos artesanai<strong>se</strong> as formas sociais <strong>de</strong> produção artesanal disporiam para atualizar-<strong>se</strong> e mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong>.Contudo, também acredito que o redirecionamemto neste <strong>se</strong>ntido subordina as práticas,técnicas e estéticas, domestica a potência política que estes objetos possuem, obscurece as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!