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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008211justa medida <strong>de</strong> sua objetualida<strong>de</strong>. Esta ba<strong>se</strong> que conecta a narrativa global/local à superfícieon<strong>de</strong> a peça <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta, é objetivamente um corte, uma <strong>se</strong>cção on<strong>de</strong> a narradora/autoraparece dizer: “a partir <strong>de</strong>ste espaço/tempo eu conto a minha versão dos acontecimentos”. Estaba<strong>se</strong> também é inversão (umbral), realizada qual um tecido rendado que <strong>se</strong> coloca sob umamesa, ela abraça a ba<strong>se</strong> como <strong>se</strong> o que vís<strong>se</strong>mos fos<strong>se</strong> o que está por baixo do tampo da mesa,ou aquilo que está obscurecido, do outro lado.A composição da cena apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> como um corte temporal que organiza osacontecimentos e estabelece uma <strong>se</strong>qüência narrativa, revelando, assim, os significados dapeça. Os eixos verticais são multiplicados: pelas torres (paralelogramos azuis), o corpo negro damorte e o mastro on<strong>de</strong> vacila uma ban<strong>de</strong>ira estaduni<strong>de</strong>n<strong>se</strong>. Os aviões em chamas, cravados nastorres, <strong>de</strong><strong>se</strong>nham duas diagonais opostas que <strong>se</strong> encontram no mastro e, por con<strong>se</strong>guinte, naban<strong>de</strong>ira; esta marcação informa ao leitor a respeito <strong>de</strong> uma geografia política possível. Todavia,estes mesmos aviões parecem estar <strong>se</strong>ndo engolidos pelas torres e não <strong>se</strong> chocando contraelas (reforçam o <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> inversão anunciado com a ba<strong>se</strong>). O gesto impresso no corpo da torreé similar à entrada <strong>de</strong> Alice no espelho, ou <strong>se</strong>ja, é leitosa, irradia-<strong>se</strong> como <strong>se</strong> ao invés <strong>de</strong> <strong>se</strong>chocarem, os aviões mergulhas<strong>se</strong>m na superfície <strong>de</strong>nsa <strong>de</strong> um líquido pastoso. Até mesmo aschamas po<strong>de</strong>riam <strong>se</strong>r sinais <strong>de</strong>ste mergulho. Elas realizam torções, giram <strong>sobre</strong> <strong>se</strong>u eixo, masnão queimam os prédios ou os aviões, apenas suavemente <strong>de</strong><strong>se</strong>nham sua helicoida<strong>de</strong> na formada ma<strong>de</strong>ira que sai <strong>de</strong> apontadores <strong>de</strong> lápis <strong>de</strong> cor.À frente, em um primeiro plano narrativo, o conjunto <strong>de</strong> três personagens <strong>se</strong> organiza: aocentro a repre<strong>se</strong>ntação do culpado, o con<strong>de</strong>nado, ao <strong>se</strong>u lado esquerdo e direito dois soldadosque as<strong>se</strong>guram que a <strong>se</strong>ntença <strong>se</strong>rá executada. Estranha postura tanto do con<strong>de</strong>nado, quandodos guardas. Aquele por esboçar um sorriso, por usar uma brilhante camisa amarela, porparecer confortavelmente <strong>de</strong> sua ca<strong>de</strong>ira, vislumbrar o catastrófico cenário que está às suascostas. Seus olhos fixam a frente, mantém uma tranqüilida<strong>de</strong> palerma <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>vora e é<strong>de</strong>vorado pela voracida<strong>de</strong> das imagens projetadas pela da televisão: um espetáculo. Este não éum homem que vai morrer. Ele é impregnado <strong>de</strong> marcas que o localizam, é o único que usabarba e bigo<strong>de</strong>, sinais <strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong> na cena; somente ele mantém uma postura relaxada,<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> com os braços <strong>sobre</strong> os braços da ca<strong>de</strong>ira.De alguma forma, este homem projeta-<strong>se</strong> na grandiosa repre<strong>se</strong>ntação da morte,localizada às suas costas, é como <strong>se</strong> existis<strong>se</strong> uma complementarida<strong>de</strong> entre ele e ela. Igual aele, a morte também tem <strong>se</strong>us braços repousados (tensamente) <strong>sobre</strong> as torres gêmeas, igual a

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