Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200820objetos artesanais. Aliás, aproveitando da explicitação de minha posição contrária ao diagnósticodaqueles autores, de forma breve, apresento a seguir os capítulos deste trabalho.O primeiro capítulo é dedicado às notas teórico-metodológicas. Nestas notas sãoapresentadas as discussões conceituais, explicitando meu lugar de fala, ou minha estratégia edispositivos de edição dos textos e linguagens que possibilitam a interpretação, na forma de uminter-texto. Advirto que não parto de um campo específico das Ciências Sociais e Humanas, masconstruo, a partir deste intrincado campo do saber humano, uma trilha, um caminho. A aventuraconceitual a que me lanço, abarca outro esgarçamento: o da disciplina. Parto de uma abordagemplástica (flexível), onde discuto conceitos da história cultural, antropologia, crítica literária e dearte, para então encontrar os conceitos e posturas teóricas, que possibilitam meuconfronto/encontro com meus (minhas) interlocutores (as), com as performances dramáticas do“ciclo do boi” na Ilha e com os objetos-esculturas.Conheço as limitações de minha busca teórica (como a pouca generalização, ainsistência em um estilo ensaístico, entre outras). Contudo, tenho certo que a justa medida detrabalho teórico foi marca das formas conceituais (ainda abertas) que se configuraramespecialmente neste primeiro capítulo, mas também em todo o texto. Como bem problematizouOZ 8 sobre os inícios, não faço promessas, não cumpro propósitos, não disponho sonhos, apenasdiscorro sobre como, a partir das vozes das “gentes” e de “coisas” igualmente menosfantasmagóricas, caso saibamos ouvi-las, é possível construir imagens, um tanto foscas, umtanto sobrepostas, mas cheias de possibilidades de leituras.O segundo capítulo é dedicado às reconstruções de narrativas. Neste momento,mergulho no encontro com um (a) outro (a) para num instante de compartilhamento das históriasde vidas, iniciar a configuração dos movimentos de falar de si, de organizar-se enquanto herói(ou anti-herói) de sua própria história. Enveredo pela interpretação dos significados/sentidos defazer-se personagem legível, íntegra, e de organização de uma história de vida coerente. Nestecapítulo são discutidos temas relativos à criação e à produção objetualizada e simbólica dascoisas. Na forma de um sumário de cenas estão contidas neste capítulo, as questõesrelacionadas às estratégias de participação nos circuitos de circulação e consumo, as formas deaprender os ofícios e suas estéticas, e os jeitos (movimentos) de tornar-se artesão (ãs). Aqui,como em um exercício de escritura de uma novela, as personagens se apresentam possíveis, oscenários são construídos ao sabor das narrativas, as ações (performances) são atuadas e8 Conferir OZ, Amos (2007) E a história começa. Dez brilhantes inícios de clássicos da literatura universal. Rio deJaneiro: Ediouro.

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 200821atualizadas. Acredito que a beleza deste capítulo localiza-se na costura cuidadosa dosfragmentos narrativos, no trabalho “artesanal” de amarração das palavras, no gesto de abotoardas memórias, na forma de sobreposição das histórias e teorias.Subjacente a este capítulo está o desejo de apresentar estes homens e mulheres emsua corpo-realidade 9 , desconstruindo, assim, a fantasmagoria com que são tratados tanto emtextos folclóricos, como naqueles museográficos. Meu desejo é fazer ver que os (as) narradores(as) com quem partilho esta investigação sobre as atualizações biográficas, são igualmentesujeitos do querer, consumidores de estilos de vida, autores das performances do gosto. Dessaforma, complexifico as personagens, explicito suas contradições, desejos e teorias, para nestemovimento trazer à cena estes atores-autores de suas performances e não as vazias cascas quese encontram (ou não se encontram) classificadas nas descrições de manifestações popularesou, ainda, anotadas em fichas catalográficas de museus como “anônimo”, ou então diluída emuma coletividade étnica.Em movimento complementar a este, pretendo desconstruir o objeto artesanal a-histórico. Acredito, a partir da reconstrução das narrativas de artesãos (ãs) e da corporificaçãode sua existência como autores de gestualidades plásticas histórica, ser possível expor asescolhas políticas, econômicas e estéticas de que estes (as) narradores (as) lançam mão naobjetualização dos conjuntos escultóricos que narram a festa do boi na Ilha de Santa Catarina.Ou seja, tomo a gestualidade plástica de artesãos (ãs) na configuração do sistema de objetosartesanais (especialmente aqueles esculturais) como mediação das negociações travadas noscircuitos de circulação econômicos e culturais/simbólicos. Mediação configuradora de algumasestratégias que disparam vários dispositivos de atualizações biográficas dos objetos artesanais.Segue a este último, capítulo dedicado à circulação e ao consumo dos sistemas deobjetos artesanais. Desloco meu olhar das “gentes” para as “coisas”, não por estas serem9 Esta noção de corpo-realidade é formulada por MANDOKI, em consonância com a problematização a respeito deuma possibilidade de estética cotidiana, para narrar as formas de perceber a realidade social a partir das diversasmaneiras de viver o corpo e suas apreensões sensíveis. Daí a insistência desta autora em afirmar: La realidad escorpo-realidad pues el cuerpo precede y constituye todo sentido y toda estesis. (p. 85). Em parte estou de acordocom esta formulação a respeito da noção de corpo-realidade, especialmente na centralidade que dá ao corpo (aossentidos) na percepção, construção, atualização da realidade. Todavia, desconfio da constituição excessiva dasensorialidade na formulação dos sentidos/significados atribuídos à “realidade”. Isso, por crer que estes sentidossão profundamente marcados pelos processos históricos, econômicos, culturais, estéticos e políticos que fazemeste corpo (e, por conseguinte os sentidos) ser construção. E sua precedência em relação à configuração, ouvivência da realidade, uma escolha política. Contudo, confio na noção, mesmo que momentaneamente, para marcaruma presença que é obscurecida no âmbito do conflito entre a cultura popular (subalterna) e outra hegemônica,onde prevalece o anonimato e a a-historicidade como diacríticos de uma sociologia, ou antropologia sobre suasmanifestações. Remeto a MANDOKI, Katya (2006) op.cit.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 200821atualizadas. Acredito que a beleza <strong>de</strong>ste capítulo localiza-<strong>se</strong> na costura cuidadosa dosfragmentos narrativos, no trabalho “artesanal” <strong>de</strong> amarração das palavras, no gesto <strong>de</strong> abotoardas memórias, na forma <strong>de</strong> <strong>sobre</strong>posição das histórias e teorias.Subjacente a este capítulo está o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> apre<strong>se</strong>ntar estes homens e mulheres emsua corpo-realida<strong>de</strong> 9 , <strong>de</strong>sconstruindo, assim, a fantasmagoria com que são tratados tanto emtextos folclóricos, como naqueles mu<strong>se</strong>ográficos. Meu <strong>de</strong><strong>se</strong>jo é fazer ver que os (as) narradores(as) com quem partilho esta investigação <strong>sobre</strong> as atualizações biográficas, são igualmentesujeitos do querer, consumidores <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> vida, autores das performances do gosto. Dessaforma, complexifico as personagens, explicito suas contradições, <strong>de</strong><strong>se</strong>jos e teorias, para nestemovimento trazer à cena estes atores-autores <strong>de</strong> suas performances e não as vazias cascas que<strong>se</strong> encontram (ou não <strong>se</strong> encontram) classificadas nas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> manifestações popularesou, ainda, anotadas em fichas catalográficas <strong>de</strong> mu<strong>se</strong>us como “anônimo”, ou então diluída emuma coletivida<strong>de</strong> étnica.Em movimento complementar a este, pretendo <strong>de</strong>sconstruir o objeto artesanal a-histórico. Acredito, a partir da reconstrução das narrativas <strong>de</strong> artesãos (ãs) e da corporificação<strong>de</strong> sua existência como autores <strong>de</strong> gestualida<strong>de</strong>s plásticas histórica, <strong>se</strong>r possível expor a<strong>se</strong>scolhas políticas, econômicas e estéticas <strong>de</strong> que estes (as) narradores (as) lançam mão naobjetualização dos conjuntos escultóricos que narram a festa do boi na Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina.Ou <strong>se</strong>ja, tomo a gestualida<strong>de</strong> plástica <strong>de</strong> artesãos (ãs) na configuração do sistema <strong>de</strong> objetosartesanais (especialmente aqueles esculturais) como mediação das negociações travadas noscircuitos <strong>de</strong> circulação econômicos e culturais/simbólicos. Mediação configuradora <strong>de</strong> alguma<strong>se</strong>stratégias que disparam vários dispositivos <strong>de</strong> atualizações biográficas dos objetos artesanais.Segue a este último, capítulo <strong>de</strong>dicado à circulação e ao consumo dos sistemas <strong>de</strong>objetos artesanais. Desloco meu olhar das “gentes” para as “coisas”, não por estas <strong>se</strong>rem9 Esta noção <strong>de</strong> corpo-realida<strong>de</strong> é formulada por MANDOKI, em consonância com a problematização a respeito <strong>de</strong>uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estética cotidiana, para narrar as formas <strong>de</strong> perceber a realida<strong>de</strong> social a partir das diversasmaneiras <strong>de</strong> viver o corpo e suas apreensões <strong>se</strong>nsíveis. Daí a insistência <strong>de</strong>sta autora em afirmar: La realidad escorpo-realidad pues el cuerpo prece<strong>de</strong> y constituye todo <strong>se</strong>ntido y toda estesis. (p. 85). Em parte estou <strong>de</strong> acordocom esta formulação a respeito da noção <strong>de</strong> corpo-realida<strong>de</strong>, especialmente na centralida<strong>de</strong> que dá ao corpo (aos<strong>se</strong>ntidos) na percepção, construção, atualização da realida<strong>de</strong>. Todavia, <strong>de</strong>sconfio da constituição excessiva da<strong>se</strong>nsorialida<strong>de</strong> na formulação dos <strong>se</strong>ntidos/significados atribuídos à “realida<strong>de</strong>”. Isso, por crer que estes <strong>se</strong>ntidossão profundamente marcados pelos <strong>processo</strong>s históricos, econômicos, culturais, estéticos e políticos que fazemeste corpo (e, por con<strong>se</strong>guinte os <strong>se</strong>ntidos) <strong>se</strong>r construção. E sua precedência em relação à configuração, ouvivência da realida<strong>de</strong>, uma escolha política. Contudo, confio na noção, mesmo que momentaneamente, para marcaruma pre<strong>se</strong>nça que é obscurecida no âmbito do conflito entre a cultura popular (subalterna) e outra hegemônica,on<strong>de</strong> prevalece o anonimato e a a-historicida<strong>de</strong> como diacríticos <strong>de</strong> uma sociologia, ou antropologia <strong>sobre</strong> suasmanifestações. Remeto a MANDOKI, Katya (2006) op.cit.

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