Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes
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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008208relacionados à comunicação adquirem um papel importante, (...) Promotores de venda e evento,a maioria tem nosso cartão, telefonam, entram em contato ou vem aqui, ou se passa através dee-mail, né, algumas: “ah, eu quero a figura folclorica tal, boi de mamão, maricota (...)”, a gente játem no computador, manda pra lá! Cartões de visita, embalagens especiais, imagens digitaisconfiguram uma coleção de dispositivos, alguns novos e outros nem tanto, que faz com que abiografia das coisas artesanais aconteça de forma muito similar a de outros objetos econômicosnos circuitos de circulação e consumo, como, por exemplo, o design de pequenas séries ouexclusivo.Com a utilização dos acervos digitalizados e da internet, a biografia dos sistemas deobjetos artesanais modifica-se, oferecendo mais uma possibildade de se realizarem, mais umapossibilidade de mudança e atualização. Ao acessar os meios comunicacionais recentes, asimagens das peças entram em circuitos “mundiais” de divulgação e experiência: além de serpossível visitar o (a) artesão (ã) e, com este contato, vivenciar experiências de consumoalternativas àquelas massificadas. Inusitadamente, pode-se receber em casa uma imagem doobjeto do querer e sobre esta “matéria” interferir, modificar, descartar. Amplia-se, assim, apotência da experiência de consumo: a mediação converte-se, também, no objeto de consumo.Dito de outra forma, o “freguês” passa a ter um tipo de acesso ao objeto artesanal que em outrasconfigurações da economia simbólica do artesanato, era (e ainda continua a ser) sequerimaginável.GARCIA CANCLINI, em sua investigação buscou “entender os ‘paradoxos’ querepresentavam as culturas populares, concebidas como formas tradicionais de produção erepresentação, dentro de uma modernização que há vinte anos era associada principalmente àurbanização e ao desenvolvimento industrial” 269 . Ao partir desta problematizaçao explicitouatualizações de diferentes âmbitos/domínios da cultura popular, entre eles, e sendo um dos maisinstigantes, as formas de circulação e consumo que, artesãos (ãs) acessam ao utilizarem ossuportes tecnológicos comunicacionais (como a internet, os e-mails, entre outros). GARCIACANCLINI afirma que cada vez mais, estes meios ou suportes comunicacionais, devem fazerparte das investigações sobre as culturas populares 270 . Visto que, por meio destes meios, são269 A citação original é: (...) entender las “paradojas” que representaban las culturas populares, concebidas comoformas tradicionales de producción y representación, dentro de una modernización que hace vinte años se asociabaprincipalmente a la urbanización y al desarrollo industrial. GARCIA CANCLINI, Néstor (2002) op. cit. p. 13.270 Acredito que esta questão toma centralidade no momento em que intervenções públicas e privadas, políticaspúblicas locais e globais a respeito da cultura popular ganham espaço e utilizam estes meios para divulgação de
Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008209anunciados e vendidos produtos tradicionais muito mais em função das qualidades inovadorasdos desenho/design, que relacionados às comunidades étnicas ou populares (subalternas). Esteautor comenta que a circulação e consumo do artesanato através da rede mundial decomputadores, aciona dispositivos de competitividade entre os (as) neo-mini-empresários (as) doartesanato para situar-se em circuitos de circulação e consumo especializados e globais 271 .Poderia aproximar esta prática ainda recente entre os jovens artesãos, mas nãodesconhecida daqueles que trabalham em contextos urbanos, ao que os grandes sistemasindustriais (ou pós-industriais) recentes denominaram “costumização” do produto. Acredito que, apartir desta estratégia, o artesanato recente acessa a outras formas de espaços para realizaçãode trocas (exchange), configura novos enquadramentos (frameworks) que determinam acentralidade da experiência de consumo do sistema de objetos artesanais e, de alguma forma,obscurece as técnicas e as estéticas, os tempos e os espaços (a gestualidade).Com isso, não quero propor que as formas sociais de produção artesanal seguirão asformas sociais de produção industrial em sua massificação e “virtualização”; não acredito nisso.No entanto, é possível que em função de um deslocamento das políticas do querer, os sistemasde objetos artesanais se aproximem cada vez mais do que é conhecido como o “objeto de arte”ou de design, atualizando não somente performances, mas também as formas de fazer erepresentar o mundo e a história. Como exemplo deste processo, poderia citar a “escultura” queaparece na capa do livro de GARCIA CANCLINI, “Culturas Populares en el Capitalismo”.A cerâmica modelada em 2002 pela artesã Natividad Gonzáles Morales de Ocumicho,em Michoacan, na República do México, e que toma a capa do livro de GARCIA CANCLINI,representa o ataque às torres de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, ocorrido em2001. Esta escultura tem por título: La Tragedia de Torres Gemelas el dia 11 de septiembre de2001. Ao modo de uma sobreposição de narrativas catastróficas, das gravuras populares dedecapitações da Revolução Francesa, ou de execusões de criminosos, ou ainda de martírio desantos católicos, são presentificados o tempo passado - em que ocorre o choque dos aviõescontra os edifícios, ambos sob a guarda de uma figura obscura da morte, maior que ambos osprédios -, e o tempo futuro, representada na captura e punição na cadeira elétrica dos autores dosuas ações e como estratégia eficaz para acessar um consumidor “mundializado”. Neste ensaio, esta reflexão nãofoi privilegiada, mas não posso deixar de chamar a atenção de pesquisadores (as) das temáticas que envolvem acultura popular e o artesanato para mais esta estratégia biográfica dos objetos e de artesãos (ãs).271 Para uma visão mais ampla sobre a análise deste autor a respeito da presença do artesanato na internet emuitas outras questões importantes sobre este sistema de objetos. GARCIA CANCLINI, Néstor. Introducción a laedición de 2002. In: GARCIA CANCLINI, Néstor (2002) op. cit. p. 13-46.
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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008208relacionados à comunicação adquirem um papel importante, (...) Promotores <strong>de</strong> venda e evento,a maioria tem nosso cartão, telefonam, entram em contato ou vem aqui, ou <strong>se</strong> passa através <strong>de</strong>e-mail, né, algumas: “ah, eu quero a figura folclorica tal, boi <strong>de</strong> mamão, maricota (...)”, a gente játem no computador, manda pra lá! Cartões <strong>de</strong> visita, embalagens especiais, imagens digitaisconfiguram uma coleção <strong>de</strong> dispositivos, alguns novos e outros nem tanto, que faz com que abiografia das coisas artesanais aconteça <strong>de</strong> forma muito similar a <strong>de</strong> outros objetos econômicosnos circuitos <strong>de</strong> circulação e consumo, como, por exemplo, o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> pequenas séries ouexclusivo.Com a utilização dos acervos digitalizados e da internet, a biografia dos sistemas <strong>de</strong>objetos artesanais modifica-<strong>se</strong>, oferecendo mais uma possibilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong> realizarem, mais umapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança e atualização. Ao acessar os meios comunicacionais recentes, asimagens das peças entram em circuitos “mundiais” <strong>de</strong> divulgação e experiência: além <strong>de</strong> <strong>se</strong>rpossível visitar o (a) artesão (ã) e, com este contato, vivenciar experiências <strong>de</strong> consumoalternativas àquelas massificadas. Inusitadamente, po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> receber em casa uma imagem doobjeto do querer e <strong>sobre</strong> esta “matéria” interferir, modificar, <strong>de</strong>scartar. Amplia-<strong>se</strong>, assim, apotência da experiência <strong>de</strong> consumo: a mediação converte-<strong>se</strong>, também, no objeto <strong>de</strong> consumo.Dito <strong>de</strong> outra forma, o “freguês” passa a ter um tipo <strong>de</strong> acesso ao objeto artesanal que em outrasconfigurações da economia simbólica do artesanato, era (e ainda continua a <strong>se</strong>r) <strong>se</strong>querimaginável.GARCIA CANCLINI, em sua investigação buscou “enten<strong>de</strong>r os ‘paradoxos’ querepre<strong>se</strong>ntavam as culturas populares, concebidas como formas tradicionais <strong>de</strong> produção erepre<strong>se</strong>ntação, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rnização que há vinte anos era associada principalmente àurbanização e ao <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento industrial” 269 . Ao partir <strong>de</strong>sta problematizaçao explicitouatualizações <strong>de</strong> diferentes âmbitos/domínios da cultura popular, entre eles, e <strong>se</strong>ndo um dos maisinstigantes, as formas <strong>de</strong> circulação e consumo que, artesãos (ãs) acessam ao utilizarem ossuportes tecnológicos comunicacionais (como a internet, os e-mails, entre outros). GARCIACANCLINI afirma que cada vez mais, estes meios ou suportes comunicacionais, <strong>de</strong>vem fazerparte das investigações <strong>sobre</strong> as culturas populares 270 . Visto que, por meio <strong>de</strong>stes meios, são269 A citação original é: (...) enten<strong>de</strong>r las “paradojas” que repre<strong>se</strong>ntaban las culturas populares, concebidas comoformas tradicionales <strong>de</strong> producción y repre<strong>se</strong>ntación, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> una mo<strong>de</strong>rnización que hace vinte años <strong>se</strong> asociabaprincipalmente a la urbanización y al <strong>de</strong>sarrollo industrial. GARCIA CANCLINI, Néstor (2002) op. cit. p. 13.270 Acredito que esta questão toma centralida<strong>de</strong> no momento em que intervenções públicas e privadas, políticaspúblicas locais e globais a respeito da cultura popular ganham espaço e utilizam estes meios para divulgação <strong>de</strong>