Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes
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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008206biografia dos objetos modelados por esta artesã, sua potência para seguirem sendo objetoseconômicos comuns, a não ser que sua troca (exchange) seja negociada sobre outros regimesde valores. A narradora restringe a mercantilização de sua produção ao impregnar de sentidosua objetualidade. Este dispositivo aproxima-se àquele utilizado pela poeta para singularizar asroupas de seu marido, citado por STALLYBRASS. São as memórias do corpo (as experiênciassensíveis) que se expõem e tomam de assalto o objeto econômico.Mas que regimes seriam estes? Certamente aqueles ligados aos objetos-como-memória,quase objetos de coleção, pequenos conjuntos de alegorias que estão (...) de acordo com o quea gente sabe da história (...) da família e dos costumes, dos tipos e das formas de viver esteespaço e este tempo. A verossimilhança é marcada no trecho, (...) não procuro inventar muito,né! Aqui Resplendor explicita a estratégia contida em cada peça modelada. Explicita, assim, quetoda alegoria é uma invenção, as memórias encrustradas nas peças são versões e as biografiasacessíveis pelas peças são aquelas possíveis e legítimas, (...) meio que viveu, né!Outra forma do movimento de mercantilização ser realizado é narrada por Dona Olinda eSeu Petrolino, a partir de estratégias que estes artesãos utilizaram para inserir sua produção,como objeto econômico, no circuito de circulação e consumo em Florianópolis, SC. Estasestratégias, no decorrer do tempo, foram sendo descartadas e substituídas por outras que têmpor objetivo o seu re-direcionamento ao circuito de circulação simbólico/cultural, especialmentegalerias de “arte popular” e um mercado (consumidor/sujeito do querer) diferenciado. Nestescircuitos, os regimes de valor são definidos por enquadramentos (frameworks) como um tipo desensibilidade estética, moda, entre outros.Uma destas estratégias é acionada pela utilização de sistemas técnicos/tecnológicosque passam a ser inseridos nas formas sociais de produção artesanal (as câmeras digitais e ainternet especialmente). Inicialmente, como forma mais econômica de registro e memória daspeças realizadas, no lugar do acervo em prateleiras e estantes, pastas de arquivos digitalizados,são utilizadas para a montagem de coleções virtuais (assistemáticas) dos sistemas de objetosartesanais. Estas re-configurações dos acervos, que utiliza novas técnicas/tecnologias, expõemmais uma evidência da eficácia das atualizações dos sistemas técnicos, estéticos e de objetosartesanais, somada às biografias de artesãos (ãs) modernamente tradicionais.
Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008207Fragmento 25Fonte: EN: F01 – O&P – 09/2006. Turnos 130-138E. A alfândega foi (...)O. A alfândega foi o ponto mesmo que eu coloquei as peças pras pessoas conhecerem meutrabalho, as pessoas conheceram alí da alfândega (...) e incentivo do Fulano, que o Fulanosempre incentivou bastante e até hoje incentiva bastante, quando ele quer alguma coisaassim então ele vem e diz: “ah, a Olinda faz!”P. E dessas pessoas que acabaram pegando nosso cartão e vindo aqui, dentre elas muita genteque trabalha com eventos, que é o que agora (...) por isso que agora a gente quase não vaiem feira, porque não dá tempo, e a finalidade é a gente trabalhar aqui mesmo no ateliê!Promotores de venda e evento, a maioria tem nosso cartão, telefonam, entram em contato ouvem aqui, ou se passa através de e-mail, né, algumas: “ah, eu quero a figura folclorica tal, boide mamão, maricota (...)”, a gente já tem no computador, manda pra lá!E. Manda pras pessoas, elas escolhem (...)P. Manda pra lá, elas escolhem (...) se for aprovado (...)E. Então tem um site da sra.?P. Não, nós não temos site, via contatos mesmo, ou um e-mail ou telefone mesmo!O. Daí eu mando a foto, eles dizem: “ah, quero tal coisa assim!”, então eu faço uma peça, mandopra ver se eles aprovam, já fiz assim (...) lá pra (...) fiz uma (...) tem até umas peças que euestou fazendo agora alí também (...) aí já virou pra mim fazer comércio (...) alguma coisa (...)P. De preferência que as pessoas venham aqui (...)Como parte da estratégia de construir o ateliê na forma de um espaço/cenário do querer,(...) dessas pessoas que acabaram pegando nosso cartão e vindo aqui, dentre elas, muita genteque trabalha com eventos, que é o que agora (...) por isso que agora a gente quase não vai emfeira, porque não dá tempo, e a finalidade é a gente trabalhar aqui mesmo no ateliê!, as técnicasrecentes (como o computador e a internet) apresentam-se como mais um dispositivo paramercantilização dos objetos artesanais.Ao narrar o deslocamento de estratégias como a divulgação do produto do trabalhoatravés da casa da alfândega 268 , para os compradores diretos, os sistemas técnicos268 A Casa da Alfândega é um prédio no centro de Florianópolis, estilo neoclássico do Sul do Brasil, inaugurado em1876 em função do aniversário da Princesa Izabel, Regente do Império. Após seu tombamento como monumentonacional, em 10 de março de 1975, foi cedido ao governo do Estado de Santa Catarina. Lá estão a sede da 11ªCoordenadoria Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN/SC e a Galeria doArtesanato da Fundação Catarinense de Cultura. A Galeria do Artesanato foi criada pela FCC para expor,comercializar e valorizar a produção artesanal local. Casa da Alfândega – Galeria do Artesanato. (s.d.) Florianópolis:FCC (folder de divulgação).
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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008206biografia dos objetos mo<strong>de</strong>lados por esta artesã, sua potência para <strong>se</strong>guirem <strong>se</strong>ndo objeto<strong>se</strong>conômicos comuns, a não <strong>se</strong>r que sua troca (exchange) <strong>se</strong>ja negociada <strong>sobre</strong> outros regimes<strong>de</strong> valores. A narradora restringe a mercantilização <strong>de</strong> sua produção ao impregnar <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntidosua objetualida<strong>de</strong>. Este dispositivo aproxima-<strong>se</strong> àquele utilizado pela poeta para singularizar asroupas <strong>de</strong> <strong>se</strong>u marido, citado por STALLYBRASS. São as memórias do corpo (as experiências<strong>se</strong>nsíveis) que <strong>se</strong> expõem e tomam <strong>de</strong> assalto o objeto econômico.Mas que regimes <strong>se</strong>riam estes? Certamente aqueles ligados aos objetos-como-memória,qua<strong>se</strong> objetos <strong>de</strong> coleção, pequenos conjuntos <strong>de</strong> alegorias que estão (...) <strong>de</strong> acordo com o quea gente sabe da história (...) da família e dos costumes, dos tipos e das formas <strong>de</strong> viver esteespaço e este tempo. A verossimilhança é marcada no trecho, (...) não procuro inventar muito,né! Aqui Resplendor explicita a estratégia contida em cada peça mo<strong>de</strong>lada. Explicita, assim, quetoda alegoria é uma invenção, as memórias encrustradas nas peças são versões e as biografiasacessíveis pelas peças são aquelas possíveis e legítimas, (...) meio que viveu, né!Outra forma do movimento <strong>de</strong> mercantilização <strong>se</strong>r realizado é narrada por Dona Olinda eSeu Petrolino, a partir <strong>de</strong> estratégias que estes artesãos utilizaram para in<strong>se</strong>rir sua produção,como objeto econômico, no circuito <strong>de</strong> circulação e consumo em Florianópolis, SC. Esta<strong>se</strong>stratégias, no <strong>de</strong>correr do tempo, foram <strong>se</strong>ndo <strong>de</strong>scartadas e substituídas por outras que têmpor objetivo o <strong>se</strong>u re-direcionamento ao circuito <strong>de</strong> circulação simbólico/cultural, especialmentegalerias <strong>de</strong> “arte popular” e um mercado (consumidor/sujeito do querer) diferenciado. Nestescircuitos, os regimes <strong>de</strong> valor são <strong>de</strong>finidos por enquadramentos (frameworks) como um tipo <strong>de</strong><strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> estética, moda, entre outros.Uma <strong>de</strong>stas estratégias é acionada pela utilização <strong>de</strong> sistemas técnicos/tecnológicosque passam a <strong>se</strong>r in<strong>se</strong>ridos nas formas sociais <strong>de</strong> produção artesanal (as câmeras digitais e ainternet especialmente). Inicialmente, como forma mais econômica <strong>de</strong> registro e memória daspeças realizadas, no lugar do acervo em prateleiras e estantes, pastas <strong>de</strong> arquivos digitalizados,são utilizadas para a montagem <strong>de</strong> coleções virtuais (assistemáticas) dos sistemas <strong>de</strong> objetosartesanais. Estas re-configurações dos acervos, que utiliza novas técnicas/tecnologias, expõemmais uma evidência da eficácia das atualizações dos sistemas técnicos, estéticos e <strong>de</strong> objetosartesanais, somada às biografias <strong>de</strong> artesãos (ãs) mo<strong>de</strong>rnamente tradicionais.