20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008203A não-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das peças escultóricas, entendida como marca biográfica <strong>de</strong>stesobjetos por Dona Maricota, estabelece as igualmente marcas das diferenças entre sistemas <strong>de</strong>objetos <strong>de</strong>ntro ou fora <strong>de</strong> algo que po<strong>de</strong>ria chamar: cultura popular e sua objetualida<strong>de</strong>. Estafragmentação <strong>se</strong>r-algo e não-<strong>se</strong>r-algo é evidência mais que objetiva <strong>de</strong> que “a alma popular” émenos homogênea, estável e a-histórica do que <strong>se</strong> acredita. E a economia política e simbólicado artesanato uma arena <strong>de</strong> disputas que, mesmo localizada nas bordas do cosmos urbanorecente, tem potência para <strong>de</strong>slocar práticas econômicas e políticas, históricas e estéticas.Outra questão relacionada a este sumário biográfico, qua<strong>se</strong> borda <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>limitações,diz respeito ao trabalho, ou <strong>se</strong>ja, às técnicas e estéticas. Para Dona Maricota, estas bonecas sãodiferentes, <strong>se</strong>guem outras impressões, configuram-<strong>se</strong> sob outras gestualida<strong>de</strong>s. Aliás, paraenten<strong>de</strong>r estas bonecas <strong>se</strong>ria necessária outra arqueologia <strong>de</strong>ssa gestualida<strong>de</strong> (empresaesboçada no capítulo anterior), (...) <strong>de</strong>les ficou uma coisa mais tipo uma escultura, uma coisamais bem trabalhada (...). O <strong>se</strong>ntido do trabalho aqui não quer dizer somente tempo investido, ouconhecimento <strong>sobre</strong> técnicas e <strong>de</strong><strong>se</strong>nhos, mas <strong>de</strong> alguma maneira conota impressão plástica,estética. As categorias assumem outra performance, o que há pouco era sofisticado e rústicoenquanto enquadramento biográfico, diacrítico, das formas <strong>de</strong> estar no mundo e construir alegibilida<strong>de</strong> das performances atuadas, converte-<strong>se</strong> em categoria estética.Por estética não entendo a existência ontológica do belo autônomo e <strong>de</strong>ste ligadoestritamente à arte “universal”, ou um tipo <strong>de</strong> arte consi<strong>de</strong>rada hegemônica. Mas, às vivências <strong>de</strong>ou abertura às experiências <strong>se</strong>nsíveis que <strong>se</strong>guem convenções culturais. Assumo, pois, aperspectiva <strong>de</strong> MANDOKI, para quem “o belo como tal existe qual o vazio, o aborrecido, o doce,o feminino, o nau<strong>se</strong>abundo, o inútil. São efeitos da linguagem que <strong>se</strong> aplica para <strong>de</strong>screverexperiências e percepções e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> convenções culturais” 265 . Esta re-escritura da nocão<strong>de</strong> estética tem por ba<strong>se</strong> críticas como as <strong>de</strong> BOURDIEU, que questionava o que ele chamou <strong>de</strong>“universalização do caso particular”. Para este autor, a experiência estética, percebida sob estaessência universal, incorria em uma dupla <strong>de</strong>s-historização:[por um lado,] constituem (...) uma experiência particular, situada e datada, da obra <strong>de</strong> arte emnorma trans-histórica <strong>de</strong> toda percepção artística. [Por outro,] Calam-<strong>se</strong>, ao mesmo tempo, <strong>sobre</strong>a questão das condições históricas e sociais <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa experiência: com efeito,proíbem a si mesmas a análi<strong>se</strong> das condições as quais foram produzidas e constituídas como265 A citação original é: Lo bello como tal existe igual que lo blanco, lo aburrido, lo dulce, lo feminino, lonau<strong>se</strong>abundo, lo inútil. Son efectos <strong>de</strong>l lenguaje que <strong>se</strong> aplican para <strong>de</strong>scribir experiencias y percepciones y<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n <strong>de</strong> convenciones culturales. MANDOKI, Katya (2006) op. cit. p. 19.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!