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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008202artesanato, estes dois pólos <strong>de</strong>finem as rotas por on<strong>de</strong> os objetos econômicos artesanaisacessam e realizam as possibilida<strong>de</strong>s biográficas disponíveis e aceitáveis para sua vida social(produção, circulação e consumo).Ao modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alguns sumários biográficos, 264 Dona Maricota comenta: (...)muita gente faz maricota, mas eles fazem uma boneca comum, não é a maricota. Eles fazemuma boneca sofisticada, cheia <strong>de</strong> coisa, aí não é uma maricota (...). No estabelecimento do quenão é uma maricota (sofisticada, cheia <strong>de</strong> coisa), Dona Maricota configura a trajetória biograficada peça escultural, ou <strong>se</strong>ja, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realização biográfica <strong>de</strong> uma peça “sofisticada”,(...) <strong>de</strong>les ficou uma coisa mais tipo uma escultura, uma coisa mais bem trabalhada (...), ou <strong>se</strong>ja,a <strong>de</strong>les tem sua origem na gestualida<strong>de</strong> artesanal, mas no <strong>de</strong><strong>se</strong>nrolar <strong>de</strong> sua vida socialobjetualizam-<strong>se</strong> em uma outra gestualida<strong>de</strong>, aquela do artista hegemônico.A narradora configura, ainda, o dispositivo plástico (expressivida<strong>de</strong> plástica) que faz comque as peças-escultura aces<strong>se</strong>m a um circuito <strong>de</strong> circulação e consumo especialista (ocultural/simbólico) (...) uma coisa mais bem trabalhada (...), e a um lugar <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong> sígnica(caso isso <strong>se</strong>ja possível) on<strong>de</strong> <strong>se</strong> cola simultaneamente <strong>sobre</strong> sua superfície <strong>de</strong> barro coloridoqualquer significado: (...) uma boneca comum (...), (...) uma boneca sofisticada (...). Naconstrução da teoria <strong>sobre</strong> o artesanato <strong>de</strong> Dona Maricota, esta boneca (comum ou sofisticada)não é a maricota do Boi-<strong>de</strong>-mamão.Contudo, até nesta construção <strong>de</strong> neutralidada<strong>de</strong> sígnica é possível i<strong>de</strong>ntificar um<strong>se</strong>ntido: o não-<strong>se</strong>r-algo. Ao não-<strong>se</strong>r-a-maricota, esta outra boneca é superfície objetualizada poron<strong>de</strong> diferentes narrativas po<strong>de</strong>m encontrar sua objetivida<strong>de</strong> e, assim, <strong>se</strong>rem (re)subjetivadascomo outras personagens, performances, histórias. O “não-<strong>se</strong>r” i<strong>de</strong>ntifica o “não-eu”, i.é., aooutro (a) e a uma relação ainda não <strong>de</strong> toda compreendida, conhecida. Ao estabelecer esta nãoi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,Dona Maricota fala dos diálogos estabelecidos entre sujeitos e objetos, ou <strong>se</strong>ja,subjacente a esta estratégia, estão expressas as formas que operam os <strong>processo</strong>s <strong>de</strong>intersubjetivida<strong>de</strong>. Abre-<strong>se</strong>, pois, a fratura para os <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> diálogo tenso e conflituoso, mastambém negociador, a respeito das formas <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> estar no mundo e nele organizar asformas <strong>de</strong> viver (performances) tradicional e/ou mo<strong>de</strong>rnamente.264 O sumário é uma forma <strong>de</strong> apre<strong>se</strong>ntação dos acontecimentos mediada pelo narrador, ou <strong>se</strong>ja, este conta eresume as categorias <strong>de</strong> tempo, espaço e ações. A utilização do sumário dá à narrativa o tratamento pictórico, que émarcado pelo distanciamento do leitor em relação ao narrado. Dessa forma, utilizo o sumário biográfico qualdispositivo para i<strong>de</strong>ntificar as biografias possíveis (disponíveis) e realizáveis pelos sistemas <strong>de</strong> objetos artesanais e,igualmente, como dispositivo para i<strong>de</strong>ntificar as biografias i<strong>de</strong>ais existentes nas narrativas coletadas. Sobre a noçãooriginal <strong>de</strong> sumário. LEITE, Lígia Chiappini Moraes. (2006) op. cit.

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