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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008201personagem do boi] é as tuas e não tem pra mais ninguém (...). Ao citar este julgamento, anarradora converte em singular o <strong>se</strong>u gesto plástico, e incorpora (embodie) valores dasnarrativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>/<strong>sobre</strong> as suas peças que têm ressonância nos circuitos <strong>de</strong> circulação econsumo, a saber: a originalida<strong>de</strong>, a tradição, a rusticida<strong>de</strong>, o colorido, a arte popular, entreoutros. Esta voz <strong>de</strong> “experto” ecoa em todo o fragmento e, por con<strong>se</strong>qüência, na construção daspossibilida<strong>de</strong>s biográficas que esta artesã vê como i<strong>de</strong>al para <strong>se</strong>u sistema <strong>de</strong> objetos, e <strong>de</strong> certaforma, aquelas <strong>de</strong> que estes narradores dispõem para construir-<strong>se</strong> heróis <strong>de</strong> suas novas (outras)histórias.Assim, a maricota mo<strong>de</strong>lada por esta artesã possui as marcas <strong>de</strong> uma biografiai<strong>de</strong>almente exitosa. A primeira marca é o reconhecimento pelos agentes legitimadores - <strong>de</strong> umtipo <strong>de</strong> circuito <strong>de</strong> circulação e consumo cultural - <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s (valores) incorporadas naspeças mo<strong>de</strong>ladas, cuja percepção viabiliza a troca (exchange) econômica (...) Então a Fulanadis<strong>se</strong> que a minha maricota é a original (...). Seguido da possibilida<strong>de</strong> “inerente” <strong>de</strong>stas peçasrealizarem através <strong>de</strong> sua objetualida<strong>de</strong> a vinculação com outros repertórios (verbais,performáticos, visuais, pictóricos, entre outros) das práticas populares, (...) porque quando vemuma pessoa, geralmente a mulher assim muito (...) como é que eu vou dizer (...) que a maricotaé es<strong>se</strong>s braços compridos aquela bolsa, tudo assim mal, né! (...) a gente vê uma mulher assim ediz: “Ah! Parece a maricota do boi <strong>de</strong> mamão(...)!” ((risos)).O ponto máximo da biografia é a constituição <strong>de</strong> uma mercantilização terminal (terminalcommoditization), que para KOPYTOFF 263 <strong>se</strong>ria uma mercadoria mais ou menos singular e <strong>de</strong>valor flexível. A mercantilização terminal teria valor ambiguo para quem produz e ven<strong>de</strong> e paraquem utiliza e consome, fazendo com que as esferas <strong>de</strong> troca (exchange) possam <strong>se</strong>rdiversificadas, (...) não é que o meu é mal feito, mas é este estilo folclórico que eu criei, (...), elesnão, aí eles mudaram o jeito (...).Dona Maricota é atenta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciar os valores incorporados(embodied) na suas peças em relação àquelas mo<strong>de</strong>ladas por outros artesãos (ãs) e, para isso,constrói a <strong>se</strong>guinte teoria: eles fazem bonecas/esculturas, ela maricotas/folclore. Os regimes <strong>de</strong>valor em que a narradora enquadra os objetos produzidos por ela e por outros artesãos (ãs) sãoiconizados nos diacríticos: <strong>de</strong>les-sofisticado e meu-rústico. Por es<strong>se</strong>s dois pares, ela <strong>de</strong>terminaos enquadramentos (frameworks) sob os quais circula o sistema <strong>de</strong> objetos artesanais emFlorianópolis, S.C. A partir <strong>de</strong> sua percepção (teoria pessoal) da economia simbólica do263 KOPYTOFF, Igor. In: APPADURAI, Arjun. (1986) op. cit.

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