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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008200E. Então me explique assim, como a sra. vê esta diferença do <strong>se</strong>u trabalho e o trabalho dosoutros. Porque a sra. dis<strong>se</strong> que: “o meu é o folclórico o dos outros é o artístico”, eu gostaria<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o que é o folclórico e o que é o artístico (...)M. O artístico é uma coisa assim, mais sofisticado, não é o rústico como o que eu faço (...) <strong>de</strong>lesnão, <strong>de</strong>les ficou uma coisa mais tipo uma escultura, uma coisa mais bem trabalhada, não éque o meu é mal feito, mas é este estilo folclórico que eu criei, e é es<strong>se</strong> aqui, eles não, aíeles mudaram o jeito, eles fazem o aríistico (...) uma coisa já mais (...) ((movimenta osbraços, ergue os ombros, inclina suavemente a cabeça pra trás))E. Mais (...)?M. Já mais sofisticado, já mais (...) pra (...), já não é mais o verda<strong>de</strong>iro (...) para mim, né! naminha opinião (...)Dona Maricota transforma <strong>se</strong>u trabalho em objetos econômicos através dasingularização <strong>de</strong> <strong>se</strong>u gesto plástico, não qualquer estratégia <strong>de</strong> singularização, mas aquela quea conecta a uma “verda<strong>de</strong>/originalida<strong>de</strong>” <strong>sobre</strong> a objetualida<strong>de</strong> do folclórico, (...) O meu é ooriginal (...). Esta estratégia singulariza não só o gesto plástico e os objetos resultado do trabalho<strong>de</strong>sta artesã, mas, e fundamentalmente, incorpora (embodie) o que <strong>se</strong> possa enten<strong>de</strong>r porfolclore e <strong>se</strong>us significados à sua pre<strong>se</strong>nça física (...) o meu é (...) o folclore mesmo (...). “Sou euo folclore”, po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong>r a transcriação <strong>de</strong>ste enunciado, “não existe folclore fora <strong>de</strong> minhagestualida<strong>de</strong>”, a ação resultante <strong>de</strong>sta afirmação, e na forma <strong>de</strong> confirmar isso, (...) o meu (...) eunão quero mudar (...), (...) tem nada <strong>de</strong> mudar; este eu criei sozinha e enquanto eu pu<strong>de</strong>rtrabalhar é es<strong>se</strong> aqui (...).Apesar da as<strong>se</strong>rtiva (...) enquanto eu pu<strong>de</strong>r trabalhar é es<strong>se</strong> aqui (...), que po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong>rlida na forma <strong>de</strong> resistência cultural e política, este trecho expõe a ambigüida<strong>de</strong> dos discursos<strong>sobre</strong> o popular que habitam as narrativas e práticas <strong>de</strong> artesãos (ãs) no contexto urbanorecente. Ao mesmo tempo em que existe “uma resistência” à mudança (ou uma performanceatuada com este argumento), o trabalho <strong>de</strong> Dona Maricota está em profundo <strong>processo</strong> <strong>de</strong>atualização. Atualização <strong>de</strong> gestualida<strong>de</strong>s, plásticas e técnicas, que recolocam este “eu” criadorautorem relação a outras vozes <strong>de</strong> “expertos” e <strong>de</strong> não “expertos” que também falam <strong>sobre</strong>estas gestualida<strong>de</strong>s, plásticas e técnicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outros lugares (os diferentes circuitos <strong>de</strong>circulação economica, simbólica/cultural), e <strong>de</strong>stes lugares, dizem como e o que são asgestualida<strong>de</strong>s, plásticas e técnicas artesanais/populares.Outra voz que legitima o enunciado <strong>de</strong> Dona Maricota, é citada no início do fragmento.Esta <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta como um tipo <strong>de</strong> voz “experto” em “arte popular” que diz: (...) maricota [a

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