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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008198feitas <strong>de</strong> uma pelúcia axadrezada (azul-cinza, vermelho-tijolo e ocre-amarelo). Vi que a camisacinza tinha sido usada uma vez, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido passada a ferro e, então, recolocada em <strong>se</strong>ucabi<strong>de</strong> para <strong>se</strong>r vestida outra vez. Se eu colocas<strong>se</strong> minha cabeça no meio das roupas, eu podiacheirá-lo 259 .Esta experiência da poeta em relação às roupas, retira-as do circuito <strong>de</strong> circulação eimpregna sua objetualida<strong>de</strong> com significados (valores) que as transformam em não-mercadorias(non-commodities), ou então <strong>de</strong>sativadas enquanto mercadorias. Mesmo <strong>se</strong>ndo objetosordinários, aquelas camisas, gravatas e jaquetas são revestidas <strong>de</strong> uma “aura” que esvazia avalorização monetária do <strong>se</strong>u valor <strong>de</strong> troca (abstrato). Ao realizar estes <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> (re)objetivação-subjetivação das roupas <strong>de</strong> <strong>se</strong>u marido, Nina Payne ativa um tipo <strong>de</strong> experiênciaesquecida na socieda<strong>de</strong> capitalista recente: a atenção ao material e às experiências <strong>se</strong>nsíveis(estéticas) que <strong>se</strong> po<strong>de</strong> ter através <strong>de</strong>stas objetualida<strong>de</strong>s prosaicas. STALLYBRASS comentaque este tipo <strong>de</strong> experiência em socieda<strong>de</strong>s como as nossas (economias mo<strong>de</strong>rnas), são raras epon<strong>de</strong>ra: “Eu acho que isso ocorre porque, apesar <strong>de</strong> toda nossa crítica <strong>sobre</strong> o materialismo davida mo<strong>de</strong>rna, a atenção ao material é precisamente aquilo que está au<strong>se</strong>nte. Ro<strong>de</strong>ados comoestamos por uma extraordinária abundância <strong>de</strong> materiais, <strong>se</strong>u valor <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r incessantemente<strong>de</strong>svalorizado e substituído” 260 .Os dispositivos para a <strong>de</strong>smercantilização po<strong>de</strong>m abranger a sacralização <strong>de</strong> objetos,por exemplo, os objetos rituais nas diferentes manifestações religiosas. A restrição pela proibiçãopolítica-cultural (i<strong>de</strong>ológica), como as que pesam sob alguns bens como monumentos, terraspúblicas, coleções <strong>de</strong> arte estatais. Ou, ainda, aquela realizada através <strong>de</strong> re<strong>se</strong>rva (interdição)<strong>de</strong> um tipo ou clas<strong>se</strong> <strong>de</strong> objeto para um <strong>de</strong>terminado grupo social, como as jóias da coroabritânica, ou os elefantes albinos para os reis do Sião. No entanto, faz-<strong>se</strong> necessário enten<strong>de</strong>rque a sacralização, restrição e interdição fornecem singularida<strong>de</strong>, mas a singularida<strong>de</strong> nãogarante a sacralização, restrição ou mesmo a interdição. Assim como não garante a total<strong>de</strong>smercantilização dos objetos, ou <strong>se</strong>ja, não garante que esta não-mercadoria (non-commodity)<strong>se</strong>ja “não-trocável” (non-exchangeble) 261 .A<strong>de</strong>mais das estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>smercantilização, as coisas uma vez mercantilizadasresguardam a potência para voltar a <strong>se</strong>r objeto econômico, visto que estão potencialmente259 Payne apud STALLYBRASS. I<strong>de</strong>m, p. 19.260 I<strong>de</strong>m. P. 19-20.261 KOPYTOFF, Igor. In: APPADURAI, Arjun (1986) op. cit.

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