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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008197Por coisa comum, KOPYTOFF não quer dizer somente ordinária, mas utilizando asalegorias marxianas: <strong>de</strong>spida <strong>de</strong> memórias, histórias ou marcas que possam singularizar ascoisas. Visto que para participar no circuito <strong>de</strong> circulação, as mercadorias <strong>de</strong>vem possuir aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saleability, ou <strong>se</strong>ja, possuir uma contraparte (objeto(s) econômico(s)) do mesmo ouequivalente valor e passível <strong>de</strong> troca (exchange) no momento <strong>de</strong> negociação (transaction oubargaining). O objeto econômico não po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r exclusivo ou único, salvo este <strong>se</strong>ja uma estratégia<strong>de</strong> mercantilização restrita (restricted commodization), estabelecendo, neste caso, outro regime<strong>de</strong> valor e, <strong>de</strong>sta forma, outras estratégias para sua troca (exchange).Um exemplo do movimento <strong>de</strong> mercantilização, que retomo aqui, é o das casas <strong>de</strong>penhor da Inglaterra dos 1800, que, <strong>de</strong> alguma forma, permanecem até hoje. No <strong>processo</strong> <strong>de</strong>construir um circuito <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> objetos econômicos, os donos das casas <strong>de</strong> penhor realizavamo <strong>se</strong>guinte movimento: recebiam os objetos pessoais (objeto-como-memória), generalizavam<strong>se</strong>us corpos, através da retirada <strong>de</strong> sua objetualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer marca e instituiam um valor<strong>de</strong> troca (convertendo-os em objetos-como-mercadoria), com propósito <strong>de</strong> recolocar estesobjetos em circulação 257 . Neste movimento, o objeto per<strong>de</strong>ria sua história, memórias e marcasi<strong>de</strong>ntificadoras, para <strong>se</strong>r comum ou ordinário e, mais uma vez, participar do circuito <strong>de</strong>troca/consumo 258 .Por <strong>de</strong>smercantilização (singularization) entendo as estratégias <strong>de</strong> singularização dascoisas. Para que este movimento <strong>se</strong> realize, é necessário que o objeto <strong>se</strong>ja transformado emnão-mercadoria (non-commodity) e <strong>se</strong>m monetarização do valor <strong>de</strong> troca (priceless) ou no que,<strong>de</strong> alguma forma, MARX chamou <strong>de</strong> objeto-como-memória. Um exemplo <strong>de</strong>ste movimento é atransformação <strong>de</strong> roupas em não-mercadorias (non-commodity) através do dispositivo damemória. STALLYBRASS cita a forma que a poeta e artista têxtil Nina Payne relata a ausência<strong>de</strong> <strong>se</strong>u marido falecido, “marcada” na pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> suas roupas guardadas em um armário:Tudo que tinha que <strong>se</strong>r guardado estava armazenado num armário no <strong>se</strong>gundo andar da casa:jaquetas e calças que o Eric ou Adan podiam eventualmente usar, blusas, gravatas, três camisasfor more and more other thing, and (b) with respect to the system as a whole, by making more and more differentthings more wi<strong>de</strong>ly exchangeable. KOPYTOFF, Igor. In: APPADURAI, Arjun (1986) op. cit. p. 73.257 Este exemplo foi citado no capítulo 1. Através <strong>de</strong> STALLYBRASS, Peter (2004) op. cit.258 “As coisas quando penhoradas podiam <strong>se</strong>r necessida<strong>de</strong>s domésticas e símbolos <strong>de</strong> realização e sucesso, ma<strong>se</strong>las eram também, com freqüência, o repositório da memória. Mas penhorar um objeto é <strong>de</strong>snudá-lo <strong>de</strong> memória.Pois somente <strong>se</strong> um objeto é <strong>de</strong>snudado <strong>de</strong> sua particularida<strong>de</strong> histórica ele po<strong>de</strong> novamente <strong>se</strong> tornar umamercadoria e um valor <strong>de</strong> troca”. I<strong>de</strong>m. p. 87.

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