Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

pct.capes.gov.br
from pct.capes.gov.br More from this publisher
20.07.2015 Views

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008194SAHLINS, mesmo aquele valor seria uma dimensão do desejo humano de dar significados aosdiferentes aspectos do corpo das mercadorias 245 e das interações de troca (exchange).O valor (e o valor de troca) para ambos os autores, e somados a eles APPADURAI, seriadefinido muito mais por uma subjetividade objetiva (um sujeito constituído pela objetividade dosocial), em relação a uma objetividade subjetiva (um objeto re-constituído a partir do e para osujeito) 246 . Nesta relação dar-se-ia o diálogo entre sujeitos e objetos, no que MANDOKI chamoude co-subjetividade. Esta noção tem por base a percepção de que os sujeitos têm uma dimensãosocial e corporal compartilhada e que esta dimensão é o locus onde se produz a objetividade doobjeto, ou seja, onde se materializa como corpo das mercadorias.Ademais, é em meio a corpo-realidade de sujeitos e objetos que esta autora entende aco-subjetividade equivalente a intersubjetividade: processo onde “(...) participam convenções,debates, negociações e consensos, mas também lutas, excomunhões e fechamentos oudescartes na produção do real pelos sujeitos através de processos de objetivação” 247 .Objetivação na formulação de MANDOKI não tem relação com o objeto, mas, sim, com o sujeito.A objetivação, pois, seria processo complementar à subjetivação, i.é., “enquanto na objetivaçãoo sujeito se manifesta, produz e transforma a realidade social, na subjetivação é a realidadesocial a que produz, constitui e transforma o sujeito” 248 .Da complementaridade entre processos aquela autora permite (re) conhecer outrodispositivo: a objetualidade. Este dispositivo, sim, está ligado ao objeto. Refere-seprofundamente à coisa-em-si: sua “coisidade”. Todavia, não é objetiva, visto que esta não passapelo sujeito, não é possivel seu conhecimento em si. A objetualidade está para o objeto assimcomo a linguagem está para o referente extralingüístico: registra-o, mas não o (de) limita (nãodefine seu sentido). Dessa forma, a interpretação da objetualidade do objeto artesanal, em meioo casaco ao seu proprietário”. STALLYBRASS, Peter (2004) op. cit. p. 63. Conferir também MARX, Karl (2006) op.cit.245 Por corpo da mercadoria entendo a forma como MARX determinou a objetualidade da utilidade (valor de uso): “autilidade de uma coisa converte-se em valor de uso. Mas essa utilidade não paira no ar. Condicionada pelaspropriedades do corpo das mercadorias, ela não existe sem o mesmo. Por isso, o próprio corpo das mercadorias,como o ferro, trigo, diamante, etc., é um valor de uso ou bem”. MARX, Karl. (2006) op. cit. p. 14.246 MANDOKI, Katya (2006) op. cit., em passagem analisada em capítulo anterior.247 A citação original, a saber: (...) participan convenciones, debates, negociaciones y consensos, pero tambiénluchas, excomuniones y clausuras o expulsiones en la producción social de lo real por los sujetos a través deprocesos de objetivación”. Idem. p. 70.248 A citação é: (...) mientras en la objetivación el sujeto se manifesta, produce y transforma la realidad social, en lasubjetivación es la realidad social la que produce, constituye y transforma al sujeto. Idem. p. 75.

Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008195às estratégias biográficas disponíveis e acessíveis, é acionada pelos processos de objetivaçãosubjetivação,ou seja, pela exteriorização-interiorização do sujeito (contextualmente). Pois, asexperiências humanas sensíveis só existem nos sujeitos, naqueles que experimentam, assimcomo o enunciado só ocorre no sujeito que enuncia 249 . Desmontando esta complexaconceituação, acredito que ao explicitar as experiências vividas pelos sujeitos autores do gestoplástico artesanal no momento de enunciar/realizar este gesto e, ao expor as marcas destagestualidade na matéria do barro (no corpo das coisas), acesso aos significados/sentidos(regimes de valor e enquadramentos culturais) contidos, colados, sobrepostos na objetualidadedeste sistema de objetos.Outra refuncionalização conceitual que tomo a partir deste momento, e a partir destesautores, é aquela que diz respeito à noção de objeto-como-mercadoria, no seu lugar, neste item,utilizo a categoria de objeto econômico. Para SIMMEL, os objetos econômicos são aquelesobjetos valorados que resistem ao nosso desejo de possuí-los. Eles “existem no espaço entre odesejo puro [querer] e a satisfação imediata. Esta pequena distância ente eles e as pessoas queos desejam, é uma distância que pode ser superada. Esta distância é superada na e através datroca econômica (exchange), onde o valor do objeto é determinado reciprocamente” 250 .Dessa forma, a determinação do valor do objeto econômico configura um circuito queenvolve as trocas de e as reciprocidades entre desejos e quereres, enquanto uma relação entresacrifícios: a forma social da vida econômica. Este circuito é constituído pela troca (exchange) devalores e não pelo valor da troca 251 . Usando deste jogo de palavras de Simmel, APPADURAIestabelece uma fratura no pensamento marxiano, ou melhor, no pensamento econômicoclássico. Ao privilegiar a troca de valores, a centralidade da troca (exchange) puramente249 A modo de esclarecimento: Las obras de arte no hablan; el lenguaje es solamente una aptitud del sujeto, no delos objetos. Es el sujeto quien, a través del texto, un enunciado o una obra plástica, produce ciertos significados porsu actividad neuronal. E como complemento do afirmado acima: Un acto de enunciación es estético si, y solamentesi, se interpreta o es asumido como tal, incluso si tal interpretación proviene de los enunciantes mismos. Por otraparte, los objetos, acontecimientos, gestos o actos que no emergieron con intencionalidad estética alguna, puedenllegar no obstante a considerarse estéticos como resultado de la interpretación. (…) Las cosas no son capaces deactuar; un medicamento no cura ni un texto place. Es el enfermo el que se cura al tomar um medicamento y unlector el que se complace al leer un texto. Idem. p. 21 e 22 respectivamente.250 A citação original é: (...) exist in the space between pure desire and immediate enjoyment, with some distancebetween them and the person who desires them, which is a distance that can be overcome. This distance isovercome in and thought economic exchange, in which value of objects is determinated reciprocally. APPADURAI,Arjun. In: ________ (1986) op. cit. p. 03.251 Acredito que construir desta forma este jogo de palavras e conceitos é a melhor forma de preservar o sentido doque aquele autor quis dizer com o seguinte comentário sobre a forma social econômica: consist not only inexchanging values, but in the exchange of values. SIMMEL apud APPADURAI, Arjun. In: Idem. p. 04.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008194SAHLINS, mesmo aquele valor <strong>se</strong>ria uma dimensão do <strong>de</strong><strong>se</strong>jo humano <strong>de</strong> dar significados aosdiferentes aspectos do corpo das mercadorias 245 e das interações <strong>de</strong> troca (exchange).O valor (e o valor <strong>de</strong> troca) para ambos os autores, e somados a eles APPADURAI, <strong>se</strong>ria<strong>de</strong>finido muito mais por uma subjetivida<strong>de</strong> objetiva (um sujeito constituído pela objetivida<strong>de</strong> dosocial), em relação a uma objetivida<strong>de</strong> subjetiva (um objeto re-constituído a partir do e para osujeito) 246 . Nesta relação dar-<strong>se</strong>-ia o diálogo entre sujeitos e objetos, no que MANDOKI chamou<strong>de</strong> co-subjetivida<strong>de</strong>. Esta noção tem por ba<strong>se</strong> a percepção <strong>de</strong> que os sujeitos têm uma dimensãosocial e corporal compartilhada e que esta dimensão é o locus on<strong>de</strong> <strong>se</strong> produz a objetivida<strong>de</strong> doobjeto, ou <strong>se</strong>ja, on<strong>de</strong> <strong>se</strong> materializa como corpo das mercadorias.A<strong>de</strong>mais, é em meio a corpo-realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos e objetos que esta autora enten<strong>de</strong> aco-subjetivida<strong>de</strong> equivalente a intersubjetivida<strong>de</strong>: <strong>processo</strong> on<strong>de</strong> “(...) participam convenções,<strong>de</strong>bates, negociações e con<strong>se</strong>nsos, mas também lutas, excomunhões e fechamentos ou<strong>de</strong>scartes na produção do real pelos sujeitos através <strong>de</strong> <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> objetivação” 247 .Objetivação na formulação <strong>de</strong> MANDOKI não tem relação com o objeto, mas, sim, com o sujeito.A objetivação, pois, <strong>se</strong>ria <strong>processo</strong> complementar à subjetivação, i.é., “enquanto na objetivaçãoo sujeito <strong>se</strong> manifesta, produz e transforma a realida<strong>de</strong> social, na subjetivação é a realida<strong>de</strong>social a que produz, constitui e transforma o sujeito” 248 .Da complementarida<strong>de</strong> entre <strong>processo</strong>s aquela autora permite (re) conhecer outrodispositivo: a objetualida<strong>de</strong>. Este dispositivo, sim, está ligado ao objeto. Refere-<strong>se</strong>profundamente à coisa-em-si: sua “coisida<strong>de</strong>”. Todavia, não é objetiva, visto que esta não passapelo sujeito, não é possivel <strong>se</strong>u conhecimento em si. A objetualida<strong>de</strong> está para o objeto assimcomo a linguagem está para o referente extralingüístico: registra-o, mas não o (<strong>de</strong>) limita (não<strong>de</strong>fine <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido). Dessa forma, a interpretação da objetualida<strong>de</strong> do objeto artesanal, em meioo casaco ao <strong>se</strong>u proprietário”. STALLYBRASS, Peter (2004) op. cit. p. 63. Conferir também MARX, Karl (2006) op.cit.245 Por corpo da mercadoria entendo a forma como MARX <strong>de</strong>terminou a objetualida<strong>de</strong> da utilida<strong>de</strong> (valor <strong>de</strong> uso): “autilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coisa converte-<strong>se</strong> em valor <strong>de</strong> uso. Mas essa utilida<strong>de</strong> não paira no ar. Condicionada pelasproprieda<strong>de</strong>s do corpo das mercadorias, ela não existe <strong>se</strong>m o mesmo. Por isso, o próprio corpo das mercadorias,como o ferro, trigo, diamante, etc., é um valor <strong>de</strong> uso ou bem”. MARX, Karl. (2006) op. cit. p. 14.246 MANDOKI, Katya (2006) op. cit., em passagem analisada em capítulo anterior.247 A citação original, a saber: (...) participan convenciones, <strong>de</strong>bates, negociaciones y con<strong>se</strong>nsos, pero tambiénluchas, excomuniones y clausuras o expulsiones en la producción social <strong>de</strong> lo real por los sujetos a través <strong>de</strong>procesos <strong>de</strong> objetivación”. I<strong>de</strong>m. p. 70.248 A citação é: (...) mientras en la objetivación el sujeto <strong>se</strong> manifesta, produce y transforma la realidad social, en lasubjetivación es la realidad social la que produce, constituye y transforma al sujeto. I<strong>de</strong>m. p. 75.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!