20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008193controle social, mas “as contínuas tensões entre os enquadramentos [frameworks] (<strong>de</strong> preço,negociação e outras) e a tendência das mercadorias a romperem com estes enquadramentos.Esta tensão tem sua origem no fato <strong>de</strong> que nem todas as partes compartilham os mesmosinteres<strong>se</strong>s em um específico regime <strong>de</strong> valor, tampouco são os interes<strong>se</strong>s <strong>de</strong> qualquer uma<strong>de</strong>stas partes trocados (exchange) igualmente” 241 .Ao interpretar como os valores, não somente econômicos, são incorporados (embodied)no sistema <strong>de</strong> objetos artesanais, exponho os regimes <strong>de</strong> valor, ou <strong>se</strong>ja, as variações do grau <strong>de</strong>valor em cada situação <strong>de</strong> troca (exchange) e entre mercadorias. Este regime constitui os fluxoson<strong>de</strong> é possível interpretar os significados das relações, tensões e fraturas existentes nas troca<strong>se</strong>conômicas. Assim como as acomodações e continuida<strong>de</strong>s, existentes nos circuitos biográficosdas coisas e, con<strong>se</strong>qüentemente, os <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> performance<strong>se</strong> atualizações biográficas <strong>de</strong> homens e mulheres que lidam com o barro, no cosmos urbanorecente.APPADURAI encontra em Simmel uma instigante caracterização <strong>de</strong> valor 242 . Aqueleautor comenta que, para Simmel, o valor não <strong>se</strong>ria uma proprieda<strong>de</strong> inerente aos objetos, masjulgamentos subjetivos realizados <strong>sobre</strong> estes objetos, e a chave para enten<strong>de</strong>r o valor estarialocalizada nas regiões on<strong>de</strong> a subjetivida<strong>de</strong> é apenas provisória e não muito es<strong>se</strong>ncial. De formamuito similar, e já apre<strong>se</strong>ntada no capítulo anterior, SAHLINS 243 problematizou a fórmula cultural<strong>de</strong> estabelecimento do valor (<strong>de</strong> uso ou troca) na socieda<strong>de</strong> capitalista recente, ao modo <strong>de</strong> umacrítica ao fetichismo da mercadoria e ao valor <strong>de</strong> troca no pensamento marxiano 244 . Para241 A citação original, a saber: (...) constant tension between the existing framework (of price, bargaining, and soforth) and the ten<strong>de</strong>ncy of commodities to breack the<strong>se</strong> frameworks. This tension it<strong>se</strong>lf has it source in the fact thatnot all parties share the same interests in any specific regime of value, nor are the interests of any two parties in agiven exchange i<strong>de</strong>ntical. I<strong>de</strong>m. p. 57.242 APPADURAI referencia o primeiro capítulo do ensaio “A Filosofia do Dinheiro”, texto publicado em 1900 naAlemanha sob o título “Philosophie <strong>de</strong>s Gel<strong>de</strong>s”. A edição utilizada por APPADURAI é uma tradução para o inglêspublicada em 1978, a saber: SIMMEL, Georg. (1978) The philosophy of money. London: Reutledge.243 SAHLINS, Marshall (2003) op. cit.244 Tomo partido das críticas <strong>de</strong> SAHLINS, até como ba<strong>se</strong> para o <strong>de</strong>slocamento que pretendo realizar aqui; mas aoretomar o primeiro capítulo do “Capital”, percebo que mesmo Marx entendia os valores como algo que estariamalém da mera mercantilização das coisas. O que marca o pensamento marxiano, e que acredito <strong>se</strong>r a origem <strong>de</strong>uma crítica possível, é o sombreamento que a materialida<strong>de</strong> econômica, coloca os aspectos simbólicos na relaçãoentre homens e mulheres e as coisas. Acredito, ainda, que a crítica <strong>de</strong> SAHLINS recaia muito mais na autonomiaque a economia clássica <strong>de</strong>u ao valor <strong>de</strong> troca. Dessa forma, concordo dom STALLYBRASS que afirma que paraMarx o problema não residia no fetichismo, entendido <strong>de</strong> forma mais ampla (qual fetiche, feitiço e outros), mas “umaforma específica <strong>de</strong> fetichismo que tomava como <strong>se</strong>u objeto não o objeto animado do amor e do trabalho humanos,mas o não-objeto esvaziado que era o local <strong>de</strong> troca. No lugar do casaco havia um valor transcen<strong>de</strong>ntal queapagava tanto o ato <strong>de</strong> fazer o casaco quanto o ato <strong>de</strong> vesti-lo. O Capital repre<strong>se</strong>ntava a tentativa <strong>de</strong> Marx <strong>de</strong>volver

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!