20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008189porque a torinha <strong>de</strong> barro foi feita, cortado tudo do mesmo tamanho (...) quando é paramaricota gran<strong>de</strong> é assim; quando é pra pequena é assim ((mostra a medida com as e nasmãos)).Acredito que esta discursivida<strong>de</strong> do corpo, ou mais propriamente o corpo, marca oa<strong>de</strong>nsamento dos gestos técnicos <strong>de</strong> Dona Maricota. Neste fragmento, não é somente umanarradora que conta <strong>sobre</strong> <strong>se</strong>us jeitos <strong>de</strong> fazer algo, (...) então eu faço (...), (...) aí (...), (...) eumeço aqui assim (...), (...) vou marcando assim (...), mas um corpo e suas superfícies <strong>se</strong>nsoriais,que expõe a experiência <strong>de</strong> mensurar, <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s, articular qualida<strong>de</strong>s. Este corpo,hoje velho, que <strong>de</strong>fine os tamanhos <strong>de</strong> peças (...) quando é para maricota gran<strong>de</strong> é assim;quando é pra pequena é assim ((mostra a medida com as e nas mãos)) (...), é o corpo quetransita nos espaços do ateliê com passos lentos, mas não cansados. Desliza <strong>sobre</strong> assuperfícies das bancadas e efetua as operações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar a matéria significativa do barro.Este é o corpo que em profunda relação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsa as narrativas <strong>sobre</strong> as festas, osjeitos das gentes, os tempos e os espaços.Ao perguntar à Dona Maricota <strong>sobre</strong> a mo<strong>de</strong>lagem, e ao ouvir as palavras quematerializavam sua narrativa, ainda não tinha percebido o <strong>se</strong>ntido da relação entre corpo, objetoe narrativa. Foi <strong>de</strong>pois, qua<strong>se</strong> no final <strong>de</strong> meu tempo <strong>de</strong> pesquisa, que entendi como asperformances profundamente incorporadas (embodied) configuram acessos para enten<strong>de</strong>r os(as) artesãos (ãs), o artesanato e a cultura popular. Esta, pois, foi uma das poucas conclusõesque fui capaz <strong>de</strong> formular: somente o a<strong>de</strong>nsamento das gestualida<strong>de</strong>s (técnicas, estéticas,históricas, performáticas, entre outras) po<strong>de</strong> objetualizar bois que dançam freneticamente,maricotas que do alto olham as alegrias das gentes, orquestras que tocam timidamente no inícioda noite, em sínte<strong>se</strong>, ou utilizando outros termos, materializar em coisas as interações sociais esuas manifestações culturais mais profundas.Deveras, acredito que não há, ainda, teoria que dê conta <strong>de</strong>sta ação <strong>de</strong> esgarçar aomáximo o <strong>se</strong>r (<strong>se</strong>lf) artesão (ã) no cosmos urbano recente. Aliás, acredito que somente aliteratura, quiçá a poesia, po<strong>de</strong>ria dar as metáforas por meio das quais <strong>se</strong>ria possível enten<strong>de</strong>ras áridas veredas que configuram este sistema técnológico: a mo<strong>de</strong>lagem folclórica, na forma <strong>de</strong>gesto político da cultura popular. Eu, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formulador <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong>investigação, abro a guarda, baixo os conceitos e teorias, e só vejo possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> legibilida<strong>de</strong>em meio ao carnaval Bahktiniano. Este tempo-fora-do-tempo quando e on<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>stabilizadas asalegorias é possível reinventá-las, <strong>de</strong>volvendo-as em outros lugares simbólicos e <strong>se</strong>mânticos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!